segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A língua-mãe e suas facetas

Por Francisco Espiridião

Na redação da assessoria de imprensa em que labutamos dia após dia surgiu, nesta sexta-feira (3), polêmica parecida com a secular questão do umbigo de Adão (e ele tinha umbigo?) Secular por atravessar séculos, milênios, amém. A Hanna escreveu em seu facebook a expressão “que nem” dentro de um contexto perfeito sob o ponto de vista linguístico (sem trema, por favor).

Determinado atento frequentador (passo, a partir daqui, a denominá-lo assim) da dita mídia achou de “tirar uma” (ih, ele também vai dizer que isso não existe – “tirar uma”) com a minha colega, puxando-lhe a orelha. Afirmou, categórico, que a expressão “que nem” não existe. Gostei do zelo que demonstrou ter pela última flor do Lácio.

Porém, nem tanto ao mar, Atento. A beleza de nossa língua está em sua elasticidade. Já pensou em dizer para um americano recém-chegado no Brasil “Passa a canela aí, meu, para eu pôr um pouco aqui no meu mungunzá!” logo depois de este gringo ter aprendido que canela nada mais é que a parte da perna que fica entre o joelho e o tornozelo?

Nesse contexto, nosso atento guarda da língua-mãe poderia atentar (é proposital a repetição de termo) para o que seja uma expressão idiomática, que, segundo o site Só Português (http://www.soportugues.com.br) ocorre quando um termo ou frase assume significado diferente daquele que a palavra teria isoladamente.

Ou seja, expressão idiomática, entre outras definições, é quando se fala uma coisa querendo dizer o contrário. Esclareço: quando alguém te chamava, antigamente, você, por educação, aquela recebida de berço, costumava responder: “Pois não!” Nessa época de BBB, o normal seria responder “O que é, p...”

Aliás, o nosso atento frequentador é digno de todos os elogio s (já ia escrevendo encômios em lugar de elogios, aí, me lembrei, não pode). Digno de elogios, mesmo. Eu assim o considero. Por quê? Porque a avalanche de descompromisso com a língua-pátria é gritante.

A PeTezada, então, se lambuza com essa avacalhação. Coisa de fazer Machado de Assis se revirar na tumba. Fernando Haddad e Cia fizeram um esforço danado para oficializar como plenamente aceitável em livros didáticos o famoso “nóis foi”, “nóis era”.

Nesse caso, estou com a nossa chefa (não seria chefe?) Albani Mendonça. Estou com ela e não abro. E inté, que eu vou chegando... (não seria vou saindo? Sei lá...)

(*) Jornalista; e-mail: fe.chagas@uol.com.br

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