Por Francisco Espiridião
No início dos anos 1990, este escriba era chefe de redação
da Folha de Boa Vista. Naquele tempo, mestre Afonso Rodrigues já era um dos
articulistas cativos da página de opinião, como o é até hoje. Naqueles dias,
ele havia editado uma coletânea de suas melhores crônicas publicadas não só na
Folha, mas também em outros jornais que por aqui passaram e que hoje são só
saudades. Tribuna e A Gazeta, dois deles.
Numa de nossas conversas na redação mais de 20 anos atrás,
Mestre Afonso me dizia que publicar aquele livro tinha sido o pior negócio em
que se havia metido. Depois de tantas lutas, busca daqui e dali quem preparasse
a capa, quem fizesse a revisão, quem diagramasse à sua maneira e gosto, definir
a gráfica – que tem de ser das boas, que dão qualidade ao conteúdo –, juntou as
economias e partiu para os ‘finalmentes’.
Conseguiu transformar os escritos num tomo que solenemente
batizou de “O Caçador de Marimbondos”. Pagou a gráfica que, dias depois,
entregou-lhe mil exemplares devidamente acondicionados em caixas e mais caixas
de papelão. Se até aí tinha sido para ele uma odisseia, não imaginava o que
ainda estava por vir.
Mestre Afonso queixava-se de que a produção encalhara. Onde
armazenar tantas e tantas caixas de livros? O encalhe é natural. Tentar viver
de vender livros hoje em nossa cidade é um tantinho assim de presunção.
Imagina, então, 20 anos atrás.
A casa de Mestre Afonso transformara-se literalmente em um
depósito literário. Eram livros debaixo da cama, por sobre as mesas, em cima do
guarda-roupa, dentro do forno do fogão, na pia da cozinha e onde mais se
pensasse.
Anos depois, experimentei a mesma sensação. Meu primeiro
“rebento”, “Até quando? Estripulias de um Governo Equivocado”, foi tremendo
fracasso. Mandei fazer tiragem de 500 exemplares. Da metade fiz cortesia a
amigos, e, mesmo assim uma montanha deles teima ainda hoje em ocupar espaços na
garagem de casa. Parece que o danado pariu feito as produções de Petra Cotes,
de Marquez.
Com o último, “Histórias de Garimpo”, até que a decepção não
foi tamanha. Consegui livrar os custos e fazer uma viagem com o que sobrou. Mas
a verdade é que tentar viver da venda de livros é um negócio complicado, especialmente
num momento em que a rapaziada está mais “ligada” nos Facebooks e WhatsApps da
vida.
Ninguém tem mais tempo para perder com “cansativas
leituras”. Vem daí a desilusão do professor de matemática da Universidade
Federal de Roraima, Gentil Lopes da Silva, que decidiu chamar a atenção para
esse momento de cegueira incinerando
parte de sua produção intelectual.
Na tarde de terça feira (13), Gentil fez uma fogueira com
algumas dezenas de exemplares de livros didáticos produzidos por ele. Fruto
suado de anos e anos de pesquisas em sua área de atuação, as chamadas ciências
exatas.
O tiro de misericórdia em sua esperança de difusão do
conhecimento produzido, disse, foi a negativa da Universidade de adquirir os
exemplares, o que o professor considerou uma desfeita com o seu trabalho.
Porém, num país em que um presidente da República jacta-se de nunca ter lido um
livro na vida, o que esperar de seus patrícios?
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