Por Francisco Espiridião
É, gente... Entrego-me à batalha de escrever a crônica da
semana. Cada editor deste novo Jornal de Roraima tem o seu dia definido para expor
os sentimentos próprios, as angústias e até mesmo a própria acidez, que prefiro
chamar de humor ácido. Não... Sei, lá, talvez seja mesmo refinado. Humor
refinado. Fico com essa definição. Parece-me politicamente correta, apesar de
eu abominar esse espectro chamado politicamente correto.
Tudo depende, aliás, do ângulo do espia. Ou, do estado de
espírito que envolve o observador no momento da análise. Tudo bem, até aqui já
dá para perceber que, na verdade, eu tenho uma crônica para escrever, mas não
tenho assunto específico em mente. E, quando isso acontece, a saída é essa
mesmo, invocar o “seu Rolando Lero”.
Mas, espera aí. Estou sentindo uma coceira nas ideias. É que
tenho lido as crônicas da chefa. Ela é ótima. Na semana passada, falou de pau
pequeno – o das vassouras e rodos, que, de tão diminutos causam-lhe dores nas
costas. Já nesta segunda-feira, pôs a nu a febre que o uso das ferramentas
cibernéticas imprimem nos adeptos da coisa. Que coisa!
Tem gente que já nem come ou dorme direito. Quando o “fuxiqueiro”
não está pendurado nos ouvidos, os dedinhos estão enfiados em suas teclas. E
diga-se, celular é aquela geringonça que, quando inventada, e não faz muito
tempo, tinha o objetivo de encurtar a convivência das pessoas. Depois, por descontinuidade
de rumo, desandou. Passou a servir menos para isso do que para qualquer outra
tarefa.
São os dedos enfiados na máquina e o juízo no mundo da lua.
O que se diz de besteiras nessa arena livre de censura não tem limite. Nem senso
do ridículo. Faz-se de tudo, aliás, com esses pequenos tijolinhos nas mãos. Não
sou a pessoa mais indicada para descrever suas mil serventias, mas recomendo: leiam
a crônica da chefa. Ela dá algumas dicas importantes.
Mas, ainda continuo com o meu dilema: não tenho um assunto específico
para a crônica. Penso até em jogar a toalha e dizer que amanhã não haverá a
crônica da cidade. Por pura incompetência do responsável pelo espaço. Pensando
bem, melhor não. Não devo capitular tão facilmente. Afinal, ninguém tem culpa da
inabilidade desse escrevinhador.
Abro o jornal e vejo que, de estrada em estrada, os
caminhoneiros ajudam no desenvolvimento do País. Chover no molhado? Quem sabe,
não está aí o caminho para eu chegar à concretização da crônica? Lembro-me que
cresci ao lado da estação rodoviária, nos anos 60-70 do século passado. Ali,
estacionavam caminhoneiros que viajavam dias, meses até, para cobrir o percurso
entre Cuiabá e Porto Velho.
BR-364, piso de chão, mais buraco que estrada. No meio do
caminho tinha a Vila de Rondônia, hoje Ji-Paraná. Era uma odisseia de Cuiabá às
margens do Madeira. Mas eles chegavam. Chagavam imponentes, pilotando seus
Scania Vabis V-8, ou ,os mais modestos, Mercedes Benz 1513. Cobertos de poeira,
no verão. Alquebrados de tanto passar fome – os caminhoneiros, não os caminhões
– no inverno, em razão dos atoleiros que engoliam ao mesmo tempo carga e
caminhão.
Mas eram altaneiros, os caminhoneiros. Não à toa, os meus
heróis. “Quando crescer vou ser caminhoneiro.” Pensamento besta, não? É tanto
que, quando cresci, e vi quão difícil é trocar o pneu de um carro na cidade,
pensei no que seria ter de enfrentar o batente para trocar o de um caminhão
carregado, sozinho, perdido em meio ao nada. Vai-se o sonho.
Mudando de tom, acho que cabe aqui nessa crônica, já que não
existe nela um assunto específico. Como estou parecido com o meu saudoso pai!
Até o pescoço está sumindo. Vi isso, com surpresa, numa das fotos postadas no
facebook de amigos. É a implacabilidade do tempo, amigo, que, dizem, é o senhor
da razão! Cristo, o Salvador, ensinou, 2.010 anos atrás, que nada ficará
oculto. Nem mesmo a falta de pescoço.
(*) Jornalista e escritor
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