Por Francisco Espiridião
Pronto. O sonho do hexacampeonato subiu no telhado. Mais uma
vez. A “selecinha”, que vinha aos tropeços, caiu não de quatro, mas de
sete. A queda já era esperada, mas... Da
forma como fomos é inadmissível. Inacreditável. Muita gente pensou, no momento
do jogo, que estivesse diante de uma pegadinha. Uma sensação de perda
irreparável.
Perder é do jogo. Um tem de sair perdendo para que o outro
ganhe. É normal. O que não é normal é a apatia que tomou conta da
"festejada" seleção. Brasileiros dentro das quatro linhas pararam
para ver a Alemanha jogar. A explicação da comissão técnica: apagão. Tudo bem.
Esse apagão justifica-se, até por ser um lapso. Um momento. Já no seguinte,
impõe-se a correção.
Isso, no entanto, não ocorreu. Nem com os 11 em campo e
muito menos com a comissão técnica, fora dele. Não entendo muito de futebol.
Mas a práxis recomendada em qualquer área de atividade é essa: parar e botar
ordem na entropia. Logo no segundo gol, não seria o momento de se mudar a
tática empregada?
Mexer nas peças. É para isso que tem técnico nas laterais do
campo. Mas, agora, é chorar leite derramado.
Como disse, foi só um jogo, do qual a pátria saiu ferida.
Viramos a chacota do mundo. Mas podemos virar a página e seguir em frente.
Feridos, mas não vencidos. Se ganharmos da Holanda, amanhã, seremos os
terceiros melhores do mundo. O que acontece conosco, brasileiros, é que, em
nossa extrema xenofobia e arrogância desmedida, não aceitamos menos que o
primeiro lugar. Quantas seleções não fazem festa só por ter tido a oportunidade
de participar da Copa?
Perder não é nada. Perder sem honra é o busílis. Doeu na
minha alma ver o Francisco desabar num choro inconsolável aos 24 minutos do
primeiro tempo, quando Kroos fez o terceiro gol, um minuto, um minutinho só,
depois do segundo, marcado por Klose. Como explicar para uma criança de 9 anos,
esperançosa – vestida com a camisa 10 da seleção canarinho, bandeira em punho
–, que aquilo tudo não vale nada? Como dizer para ele que o sonho foi adiado?
É certo que daqui a alguns dias, meses, anos, o Francisco
vai entender que foi apenas um jogo de futebol. O que nós, adultos, não
conseguimos entender é que vivemos tomando não de 7 a 1, mas de 10 a zero, nas
diversas áreas cotidianas. Temos tomado de goleada da corrupção. Essa mesma
corrupção que permitiu a goleada nas quatro linhas, diante de uma Alemanha que
não nos deu confiança.
Se tomamos de 7 a 1 da Alemanha, devemos isso em muito às
estripulias praticadas pelo senhor José Maria Marin, presidente da Confederação
Brasileira de Futebol (CBF), e seu fiel escudeiro, Marco Polo Del Nero. Essa
dupla vem praticando atitudes espúrias – criminosas – que precisam ser
investigadas e punidas. O futebol deixou, há muito, de ser um esporte e ganhou
ares despudorados de bordel dirigido por cafetões ávidos por levar “uns por
fora”. Que o diga o deputado Romário (PDT).
Temos tomado de goleada diante da incompetência
governamental, que permite a derrocada do setor da saúde, com pessoas morrendo
na porta dos hospitais por falta de quem lhes atenda. Em Roraima ainda não
chegamos a esse nível, mas no noticiário nacional isso abunda feito jambo no
chão de Boa Vista nesta época.
Temos levado uma goleada no Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH). O Brasil é o 85º entre 106 países. A classificação da educação mundial,
feita pela Unesco, também nos dá um chocolate: estamos em 88º lugar entre 127
países. Somos massacrados de forma vergonhosa diante da avaliação de estudantes
feita pela Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico: amargamos
o 58º lugar entre 65 países.
Além destas, tomamos no dia a dia tantas outras goleadas
que, parece, estamos com o couro grosso. Não sentimos mais. Porém, nem tudo
está perdido. Ainda há esperanças. Se antes, como disse Pelé, não sabíamos
votar, estamos começando a aprender. Outubro está bem aí.
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