sexta-feira, 11 de julho de 2014

Um chocolate!



Por Francisco Espiridião 

Pronto. O sonho do hexacampeonato subiu no telhado. Mais uma vez. A “selecinha”, que vinha aos tropeços, caiu não de quatro, mas de sete.  A queda já era esperada, mas... Da forma como fomos é inadmissível. Inacreditável. Muita gente pensou, no momento do jogo, que estivesse diante de uma pegadinha. Uma sensação de perda irreparável.

Perder é do jogo. Um tem de sair perdendo para que o outro ganhe. É normal. O que não é normal é a apatia que tomou conta da "festejada" seleção. Brasileiros dentro das quatro linhas pararam para ver a Alemanha jogar. A explicação da comissão técnica: apagão. Tudo bem. Esse apagão justifica-se, até por ser um lapso. Um momento. Já no seguinte, impõe-se a correção.

Isso, no entanto, não ocorreu. Nem com os 11 em campo e muito menos com a comissão técnica, fora dele. Não entendo muito de futebol. Mas a práxis recomendada em qualquer área de atividade é essa: parar e botar ordem na entropia. Logo no segundo gol, não seria o momento de se mudar a tática empregada?
Mexer nas peças. É para isso que tem técnico nas laterais do campo. Mas, agora, é chorar leite derramado.

Como disse, foi só um jogo, do qual a pátria saiu ferida. Viramos a chacota do mundo. Mas podemos virar a página e seguir em frente. Feridos, mas não vencidos. Se ganharmos da Holanda, amanhã, seremos os terceiros melhores do mundo. O que acontece conosco, brasileiros, é que, em nossa extrema xenofobia e arrogância desmedida, não aceitamos menos que o primeiro lugar. Quantas seleções não fazem festa só por ter tido a oportunidade de participar da Copa?

Perder não é nada. Perder sem honra é o busílis. Doeu na minha alma ver o Francisco desabar num choro inconsolável aos 24 minutos do primeiro tempo, quando Kroos fez o terceiro gol, um minuto, um minutinho só, depois do segundo, marcado por Klose. Como explicar para uma criança de 9 anos, esperançosa – vestida com a camisa 10 da seleção canarinho, bandeira em punho –, que aquilo tudo não vale nada? Como dizer para ele que o sonho foi adiado?

É certo que daqui a alguns dias, meses, anos, o Francisco vai entender que foi apenas um jogo de futebol. O que nós, adultos, não conseguimos entender é que vivemos tomando não de 7 a 1, mas de 10 a zero, nas diversas áreas cotidianas. Temos tomado de goleada da corrupção. Essa mesma corrupção que permitiu a goleada nas quatro linhas, diante de uma Alemanha que não nos deu confiança.

Se tomamos de 7 a 1 da Alemanha, devemos isso em muito às estripulias praticadas pelo senhor José Maria Marin, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e seu fiel escudeiro, Marco Polo Del Nero. Essa dupla vem praticando atitudes espúrias – criminosas – que precisam ser investigadas e punidas. O futebol deixou, há muito, de ser um esporte e ganhou ares despudorados de bordel dirigido por cafetões ávidos por levar “uns por fora”. Que o diga o deputado Romário (PDT).

Temos tomado de goleada diante da incompetência governamental, que permite a derrocada do setor da saúde, com pessoas morrendo na porta dos hospitais por falta de quem lhes atenda. Em Roraima ainda não chegamos a esse nível, mas no noticiário nacional isso abunda feito jambo no chão de Boa Vista nesta época.  

Temos levado uma goleada no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O Brasil é o 85º entre 106 países. A classificação da educação mundial, feita pela Unesco, também nos dá um chocolate: estamos em 88º lugar entre 127 países. Somos massacrados de forma vergonhosa diante da avaliação de estudantes feita pela Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico: amargamos o 58º lugar entre 65 países.

Além destas, tomamos no dia a dia tantas outras goleadas que, parece, estamos com o couro grosso. Não sentimos mais. Porém, nem tudo está perdido. Ainda há esperanças. Se antes, como disse Pelé, não sabíamos votar, estamos começando a aprender. Outubro está bem aí.

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