Por Francisco Espiridião
E a Copa segue o seu caminho conforme o planejado. Hoje à
tarde será o momento de enfrentarmos a Colômbia. Quando digo ‘nós’, refiro-me
àquilo que chamam de “Pátria de Chuteiras”. Nos pés e pernas de Neymar e Cia, a alma de cada brasileiro. E haja pernas! Enlevo até mesmo para quem diz abominar o futebol. Afinal, o que está em jogo não é um simples jogo
de futebol, mas o deleite da alma.
A verdade é que, fora do valor abstrato, este que é
incomensurável, ninguém vai sair ganhando coisa alguma com a vitória da Seleção
Brasileira dentro das quatro linhas, por mais que se faça a tão surrada
pergunta: “Quanto é que eu levo nisso?”.
Falo aqui de vantagens financeiras ou, de alguma forma, de
lucros palpáveis. Ganhar a Copa em nada vai influenciar no Brasil, por exemplo,
o preço do tomate que nas gôndolas de alguns supermercados já ultrapassa a
barreira dos 8 reais o quilo. Ou da lata de leite Ninho de 400g, que chega
fácil, fácil à casa dos 14, 15 reais.
Levantar o ‘caneco’ ao apito final do último jogo do certame,
no dia 13, domingo, não significará mudanças radicais no que quer que seja.
Muito menos nos índices de inflação, esse dragão que hoje faz uma força danada
para se manter bicho solto, fora da meta. E, por consequência, afligir de forma
cruel e desumana a vida dos mais necessitados.
Trucidarmos a Colômbia hoje – pelo duríssimo placar de 4 a
zero, suposição onírica –, não terá sido razão para que a violência, que grassa
os grandes centros brasileiros e até mesmo as pequenas cidades deste país, seja
amenizada.
Para isso, é necessário que se leve a sério uma política de
investimentos na área de segurança pública. E que esses investimentos sejam
levados às últimas consequências. Ou seja, que cheguem efetivamente à ponta.
Sem os investimentos tão reclamados pelo setor, e que sejam aplicados de forma
correta, planejada, só Jesus agindo com sua mão poderosa.
A mídia norte-americana, europeia ou a dos cafundós do judas
fazendo a propaganda ufanista de que o Brasil promove a melhor Copa de todos os
tempos, suplantando até mesmo a Grécia, berço de sabedoria esportiva – e outras
mais –, não é razão para dizermos que vamos amanhecer no melhor dos mundos.
Sermos os melhores na arte de promover festa para inglês ver
– o espetáculo de abertura, esse não conta – não implica que todos os nossos
problemas se acabaram, como se tivéssemos adquirido um artigo tipo panaceia,
oriundo das conhecidas Organizações Tabajara.
Diga-se isso, então, para aqueles que são obrigados a
levantar todos os dias, às 4 da madrugada, pegar três ou quatro conduções até
chegar ao trabalho – isso quando não tem greve de ônibus ou do metrô –, para
ver qual é a reação... Aqui cabe um adendo: em Roraima, nem tanto. Tudo é
perto.
Incrível que o efeito Copa até mesmo sobre essa parcela
que habita os porões da sociedade, que inclui tanto pretos
como brancos – o que prova que não somos uma nação seccionada pela cor da pele,
como muitos querem, insidiosamente, fazer crer – tem lá sua relevância no mais
profundo d’alma. Do sentimento.
Portanto, ganhando ou perdendo a Copa – melhor seria
ganharmos, evidentemente –, continuaremos a ser essa pátria tupiniquim, que,
mesmo com suas idiossincrasias, ainda se ufana, bate no peito e grita: “Somos
brasileiros e não desistimos nunca!”.
Que venha a Colômbia, a Alemanha, Los Hermanos – esses já
são nossos antigos fregueses! Mesmo não ganhando nada, pecuniariamente falando,
que levantemos a taça, com muito orgulho, no dia 13. Avante, Brasil!
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