segunda-feira, 7 de julho de 2014

Quanto é que eu levo nisso?



Por Francisco Espiridião

E a Copa segue o seu caminho conforme o planejado. Hoje à tarde será o momento de enfrentarmos a Colômbia. Quando digo ‘nós’, refiro-me àquilo que chamam de “Pátria de Chuteiras”. Nos pés e pernas de Neymar e Cia, a alma de cada brasileiro. E haja pernas! Enlevo até mesmo para quem diz abominar o futebol. Afinal, o que está em jogo não é um simples jogo de futebol, mas o deleite da alma.

A verdade é que, fora do valor abstrato, este que é incomensurável, ninguém vai sair ganhando coisa alguma com a vitória da Seleção Brasileira dentro das quatro linhas, por mais que se faça a tão surrada pergunta: “Quanto é que eu levo nisso?”.

Falo aqui de vantagens financeiras ou, de alguma forma, de lucros palpáveis. Ganhar a Copa em nada vai influenciar no Brasil, por exemplo, o preço do tomate que nas gôndolas de alguns supermercados já ultrapassa a barreira dos 8 reais o quilo. Ou da lata de leite Ninho de 400g, que chega fácil, fácil à casa dos 14, 15 reais.

Levantar o ‘caneco’ ao apito final do último jogo do certame, no dia 13, domingo, não significará mudanças radicais no que quer que seja. Muito menos nos índices de inflação, esse dragão que hoje faz uma força danada para se manter bicho solto, fora da meta. E, por consequência, afligir de forma cruel e desumana a vida dos mais necessitados.

Trucidarmos a Colômbia hoje – pelo duríssimo placar de 4 a zero, suposição onírica –, não terá sido razão para que a violência, que grassa os grandes centros brasileiros e até mesmo as pequenas cidades deste país, seja amenizada.

Para isso, é necessário que se leve a sério uma política de investimentos na área de segurança pública. E que esses investimentos sejam levados às últimas consequências. Ou seja, que cheguem efetivamente à ponta. Sem os investimentos tão reclamados pelo setor, e que sejam aplicados de forma correta, planejada, só Jesus agindo com sua mão poderosa.

A mídia norte-americana, europeia ou a dos cafundós do judas fazendo a propaganda ufanista de que o Brasil promove a melhor Copa de todos os tempos, suplantando até mesmo a Grécia, berço de sabedoria esportiva – e outras mais –, não é razão para dizermos que vamos amanhecer no melhor dos mundos.

Sermos os melhores na arte de promover festa para inglês ver – o espetáculo de abertura, esse não conta – não implica que todos os nossos problemas se acabaram, como se tivéssemos adquirido um artigo tipo panaceia, oriundo das conhecidas Organizações Tabajara.

Diga-se isso, então, para aqueles que são obrigados a levantar todos os dias, às 4 da madrugada, pegar três ou quatro conduções até chegar ao trabalho – isso quando não tem greve de ônibus ou do metrô –, para ver qual é a reação... Aqui cabe um adendo: em Roraima, nem tanto. Tudo é perto.

Incrível que o efeito Copa até mesmo sobre essa parcela que habita os porões da sociedade, que inclui tanto pretos como brancos – o que prova que não somos uma nação seccionada pela cor da pele, como muitos querem, insidiosamente, fazer crer – tem lá sua relevância no mais profundo d’alma. Do sentimento.

Portanto, ganhando ou perdendo a Copa – melhor seria ganharmos, evidentemente –, continuaremos a ser essa pátria tupiniquim, que, mesmo com suas idiossincrasias, ainda se ufana, bate no peito e grita: “Somos brasileiros e não desistimos nunca!”.

Que venha a Colômbia, a Alemanha, Los Hermanos – esses já são nossos antigos fregueses! Mesmo não ganhando nada, pecuniariamente falando, que levantemos a taça, com muito orgulho, no dia 13. Avante, Brasil!

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