LEMBRANÇAS
MEMORÁVEIS QUE O TEMPO ETERNIZA
Por Francisco de Assis Campos Saraiva (*)
Ao
despertar na data de hoje, me vi voando sobre as asas infinitas do tempo e ali
me encontrei com aquele jovem adolescente de 17 anos de idade que, vindo de
Alto Longá – Piauí iniciava sua vida profissional na linda metrópole de
Fortaleza, terra de José de Alencar e outros mestres da cultura. Era início de
Junho de 1955 e lá estou eu prestando serviços na terceira filial das Casas
Novas de Gutemberg Teles e Companhia à Rua Floriano Peixoto, região centralda linda
cidade. Às 10h00, aproximadamente, fomos rápido para frente do comércio para
ver passar a comitiva do Marechal Juarez Távora, que era candidato a
Presidência da República naquele ano eleitoral. Em dado momento, no meio da
folia, me deparei com Pedro Santos (Pedrinho), meu então colega de estudo no
Ginásio Desembargador Antônio Costa, de Melo Magalhães e Domício Magalhães, no
início da década de cinquenta, em Teresina – Piauí. E o encontro foi de forteemoção
entre nós. E perguntei-lhe o que estava fazendo em Fortaleza? Disse-me que
tinha vindo atender o anúncio do Exército, que estava recrutando jovens voluntários
de até 17 anos e seis meses de idade para compor o efetivo inicial do 4º
Batalhão Ferroviário, que havia sido criado recentemente, com sede em Crateús –
Ceará. O Pedrinho, como era chamado carinhosamente pelos amigos, tinha a minha
idade e ali mesmo combinamos para nos encontrar na sede do Quartel General da
Décima Região Militar, onde o recrutamento estava sendo realizado. Naquele
ínterim, o colega de trabalho Ermeudo Monteiro, também da mesma idade, ficou
animado e juntos nos apresentamos naquele Quartel General, onde fomos
submetidos aos exames médicos, físicos e complementares, exames que aconteceram
naquela manhã de Segunda Feira como havíamos combinado. E apesar de tenso como
estávamos, fomos recrutados para incorporação, com data marcada para o dia 7 de
julho de 1955, uma quinta feira.
Eu e o Ermeudo Monteiro voltamos alegres para
o trabalho e cientificamos ao Senhor Ondil, gerente da Empresa Comercial, de
que havíamos sido convocados para servir ao Exército e na data previamente
estabelecida, estávamos nos apresentando na Hospedaria Getúlio Vargas, no
Bairro de São Gerardo, onde seria o nosso Quartel provisório até que as instalações
definitivas do mesmo fossem concluídas em Crateús, onde nos juntaríamos aos
demais companheiros que ali se encontravam. Nova vida e no interior do
Acantonamento Provisório daquela Hospedaria, permanecemos por trinta dias
ininterruptos, chamado período de adaptação, com tempo marcado para todas as
atividades que aconteciam no dia-a-dia, sob a égide da disciplina e da
hierarquia. Novos chefes e instrutores e bons companheiros que, juntos,
comungavam de todas as tarefas que nos eram pertinentes. O Comandante da
Companhia (Companhia de Comando e Serviços) era o Capitão João Ferreira de
Almeida, um exímio atirador e muito bem se relacionava com a tropa que
sabiamente comandava. O Comandante do Destacamento era o Capitão Márcio Martins
Antunes, de temperamento mais rígido com a tropa. Cito alguns dos Oficiais
Subalternos da Companhia: Ten João Alberto Lopes, Noé Rebello de Araújo Neto,
José Hidemburgo de Castro Nogueira, Francisco Sobreira de Alencar e outros.
Sargentos Instrutores: João Batista Ortiz, João Batista Alves, Carlos Praciano
de Souza, Antônio Silva, Edson Sá, Nobin Kamada e outros. Era um período de
sacrifício como soldado recruta, mas de muitos sonhos e projetos que se desenhavam
em nossa mente, como ocorre a todo jovem adolescente que despontapara a vida.
Toda segunda feira de cada semana, o Cap.
João de Almeida, na formatura matinal, procurava ouvir as reclamações e reivindicação
de todos nós recrutaque estavam se adaptando a uma nova vida longe da família e
com dificuldades peculiares pertinentes a cada um. Havia reclamações diversas e
até os que se queixavam das refeições, das possíveis falhas às vezes
encontradas. Lembro-me bem de fatos bisonhos, de reclamações que terminavam em
risos com a tropa. O recruta José da Silva, apelidado e Feira Livre, natural de
Calcaia, disse para o Comandante da Companhia “que o café da manhã lhe ofendia
quando o pão era pouco”. Era um cara engraçado, que procurava se divertir com
os companheiros da maneira mais simples, alegre e humilde possível. No intervalo
da noite, antes do toque de silêncio, ficávamos ouvindo as músicas de Luís
Gonzaga através dos alto-falantes dos bairros circunvizinhos, que era em moda
daquele período. Os companheiros Francisco Valdenor Barbosa e Francisco Laércio
de Vasconcelos Fontenele, ambos cearenses e de saudosa memória, era com quem
mais me identificava e com os quais trocava ideias verdejantesnaqueles
intervalos de noitesmemoráveis para nós. Decorrido o Período de Adaptação,
tivemos a primeira folga do final de semana, exceto para os que se encontravam escalados
para a Guarda do Acantonamento. E saímos orgulhosos envergando aquela farda
verde-oliva, como lídimos defensores de nossa Pátria Querida. Cheguei ao Hotel
Macapá, no centro de Fortaleza, onde eu era hospedado e ali me apresentei a D.
Olímpia, proprietária do Hotel, que me tinha como filho e eu a tinha como Mãe,
pelo carinho e amizade com que nos tratávamos reciprocamente. E ficou deveras
orgulhosa quando me viu envergando aquela farda de cor verde-oliva com
desvanecimento e altivez. A minha verdadeira Mãe, a D. Marica Saraiva, que
orava por mim diariamente em Alto Longá e que acompanhava todos os passos de
minha existência, ficou feliz com minha condição de soldado do Exército
Brasileiro, onde começava uma nova vida para mim, base sólida de minha trajetória
profissional militar nos trinta anos que passei no seio da caserna. Os amigos
da Firma onde trabalhava antes de incorporarao Exército, ficaram também alegres:
O querido amigo-irmão Otávio Sousa, Piauiense de Piripiri, Leôncio, Luciano, Pires,Edmilson,
Campelo e os demais, que me deram o incentivo de que necessitava.
No dia 7 de Janeiro de 1956, sábado, nós,
integrantes da Companhia de Comando e Serviços do 4º Batalhão Ferroviário, com
sede em Crateús-Ceará, embarcamos de trem para aquela cidade, onde as
instalações já haviam sido concluídas em suas edificações. A cidade nos
esperava com muita festa e animação e podemos afirmar que foi a maior
solenidade que Crateús vivenciou em sua existência até aquela época, com muita
música e fogos de artifícios, que foram jubilosamente lançados em nossa
chegada. Foi uma movimentação carinhosa de grande porte que aconteceu naquela humilde
cidade, de gente amiga, que nos aplaudiu com imensa alegria e a grande festa
com que nos homenageou. O Primeiro Comandante do Batalhão era o Coronel José
Liberato Souto Maior e o Subcomandante o Ten Cel. Clovis Alexandrino Nogueira.
Na segunda feira o Batalhão nos prestou grande homenagem. Era a Companhia de
Comando e Serviços que se incorporava ao efetivo da Unidade Militar, o 4º
Batalhão Ferroviário.Em minha primeira visita à cidade, fiz amizade com a
Senhora D. Maroca, por intermédio do companheiro de incorporação Davino
Rodrigues de Souza, filho da terra que nos acolhia. Nos finais de semana,
quando de folga, ficava na residência de D. Maroca, eu e mais quatro
companheiros da corporação. Dava-nos a alimentação e lavava as nossas roupas. No
final domês efetuávamos o pagamento correspondente. Que pessoa maravilhosa a D.
Maroca, que fazia o papel de Mãe cuidadosa e zelosa com todos nós. Crateús, a
terra do Médico Dr. José Olavo, de saudosa memória, que inestimável serviço
prestou àquela comunidade a que tanto se devotava de coração. Crateús, à época,
era uma cidade pacata, hospitaleira, que tinhacomo entretenimento, nos finais
de semana, aquela dança animada no Centro Esportivo, que rolava vibrantemente
no coração da cidade, movimentando a todos que ali se encontravam. Ou então um
banho gostoso no açude púbico da Cidade, que movimentava muita gente em cada
domingo que transcorria. Posteriormente
foi criado o Crateús Clube. Estudei na Escola de Comércio Padre Juvêncio e
trenei os alunos da minha turma na Escola para as festividades de 7 de Setembro
que se aproximavam.
Havia sido promovido a graduação de cabo,
quando deixei Crateús, transferido para os Órgãos de Comando do 1º Grupamento
de Engenharia, em João Pessoa, para ser promovido a 3º Sargento. Deixei a
cidade com muita saudade e na noite de quatro de Setembro de 1956, não dormi e fiquei
no apartamentocom os amigos em confraternização de despedida e na madrugada,
que já era dia 5, foram me deixar na Estação Ferroviária, onde assistiram o meu
embarque de trem para Fortaleza. Viajei no mesmo dia, cedo da noite, para João
Pessoa, no ônibus Expresso de Luxo, que passava em Capina Grande com destino a
Recife. Naquela cidade, peguei outro ônibus para João Pessoa, chegando ao cair
da tarde do dia 6 naquela cidade. Fiquei no bairro de Cruz das Armas, numa
Pensão onde se hospedava companheiros do 15º Regimento de Infantaria. No dia 7
fui ao centro dacidade, onde assisti o desfile em comemoração a grande data.
Apresentei-me no 1º Grupamento de Engenharia na manhã do dia 10, segunda feira,
pronto para o serviço. Na capital das Acácias começava uma nova vida para mim. Tinha
19 anos de idade e minha ascensão profissional começava a se iluminar
paulatinamente. Na Capital Paraibana passei 14 anos de minha preciosa
existência, onde casei, me formei e consegui realizar belos sonhos de minha
existência. Casei em 1966 e em 1968 terminei a Faculdade na Universidade
Federal da Paraíba. Em Janeiro de 1970 fui para o Rio de Janeiro Cursar a
Escola de Saúde do Exército. Na época eu era 2º Sargento e já entrei na Escola
como 1º Tenente Aluno. No final do ano conclui o Curso em 1º lugar e recebi a
Medalha Marechal Hermes – Aplicação e Estudos. Fui o orador da turma, onde, no
jantar de confraternização da Praia Vermelha, no Restaurante Roda Viva, fiz uma
saudação de despedida eloquente,
fazendo verter lágrimas nos olhos de alguns familiarese companheiros presentes.
Nesta data de sete de Julho de 2015, terça
feira, completa 60 anos que, orgulhosamente, ingressei nas fileiras do Exército.
Um marco histórico de saudade e de muitas recordações para mim. Uma lição de
vida, que espero um dia contar melhor,numa oportunidade mais razoável de escrever
um livro sobre os anais de minha existência. Sei que muitos companheiros
daquela época já estão na eternidade, para quem reverenciamos uma homenagem in
memoriam, com o preito da saudade que ficará para sempre em nossos corações.
Tenho notícias de poucosque ainda estão em nosso meio: José Newton Fernandes,
bem sucedido, que mora com a família em São Paulo, Capital, para quem enviamos
o nosso fraternal abraço, meu e de minha família, incluindo os 10 netos que nos
dão muita alegria e felicidade. Renato Saraiva de Mesquita Melo, que mora
também em São Paulo com a família,para quem enviamos a nossa confraternização
de amizade e apreço. Francisco Cândido Sobrinho, que mora com a família em
Fortaleza, com quem também nos confraternizamos com júbilo e amizade. Francisco
Almeida, que mora no interior de Ubajara – Ceará, com a família, para quem
enviamos o nosso carinho e apreço. Divulgo no seio desta nobre família do
Facebook, rogando aos companheiros dessa turma legendária que ainda estão em
nosso convívio ou de familiares que possam nos dar notícias dos mesmos, que se
comuniquem comigo: E-mail: ldalmada@hotmail.comou pelos telefones:
031-95 - 3623-O472e 3623-0485. Dependendo
do resultado obtido, poderemos até marcar uma data de reencontro da boa turma
no local e data previamente escolhidos. Uma leve advertência para no E-mail:
ldalmada (é l de lei e não I de ideal).
Concluo minha exaltação de amor a cada irmão,
rogando humildemente que seja bondoso e fraternal com o nosso semelhante. Não
busque perfeição em ninguém porque ela inexiste. Perdoeas ofensas, porque esta
virtude é de pleno agrado do Pai Eterno.
Se você não tem a capacidade de perdoar, Deus também não lhe perdoará tampouco e
sua vida ficará atribulada nos horizontes da convivência humana que prossegue. Exerça
a virtude da gratidão, que é a mais nobre e porta aberta para as demais
virtudes. Você crescerá com a prática salutar da humildade. Mostre humildemente
suas origens de natureza simples e não tenha vergonha de externar de onde você
veio. Foi à base salutar de seu desenvolvimento e progresso, sob o amparo e a
proteção de Deus em todas as suas atividades, porque você procurou sempre fazer
a vontade do nosso Soberano Senhor e Criador de todas as coisas. Não tenha
vergonha de sua idade. Os grandes Profetas de Deus viveram em longevidade e
gozaram de saúde plena em sua velhice. Tenha paciência na aflição e suporte com
perseverança, porque isso é do agrado de nosso Pai Celestial. “Como é feliz o
homem a quem Deus corrige; portanto, não desprezea disciplina do Todo-poderoso.
Pois ele fere, mas trata do ferido; ele machuca, mas suas mãos também curam”.
(Jó 5.17-18).
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