segunda-feira, 13 de julho de 2015



LEMBRANÇAS MEMORÁVEIS QUE O TEMPO ETERNIZA

Por Francisco de Assis Campos Saraiva (*)
                         
Ao despertar na data de hoje, me vi voando sobre as asas infinitas do tempo e ali me encontrei com aquele jovem adolescente de 17 anos de idade que, vindo de Alto Longá – Piauí iniciava sua vida profissional na linda metrópole de Fortaleza, terra de José de Alencar e outros mestres da cultura. Era início de Junho de 1955 e lá estou eu prestando serviços na terceira filial das Casas Novas de Gutemberg Teles e Companhia à Rua Floriano Peixoto, região centralda linda cidade. Às 10h00, aproximadamente, fomos rápido para frente do comércio para ver passar a comitiva do Marechal Juarez Távora, que era candidato a Presidência da República naquele ano eleitoral. Em dado momento, no meio da folia, me deparei com Pedro Santos (Pedrinho), meu então colega de estudo no Ginásio Desembargador Antônio Costa, de Melo Magalhães e Domício Magalhães, no início da década de cinquenta, em Teresina – Piauí. E o encontro foi de forteemoção entre nós. E perguntei-lhe o que estava fazendo em Fortaleza? Disse-me que tinha vindo atender o anúncio do Exército, que estava recrutando jovens voluntários de até 17 anos e seis meses de idade para compor o efetivo inicial do 4º Batalhão Ferroviário, que havia sido criado recentemente, com sede em Crateús – Ceará. O Pedrinho, como era chamado carinhosamente pelos amigos, tinha a minha idade e ali mesmo combinamos para nos encontrar na sede do Quartel General da Décima Região Militar, onde o recrutamento estava sendo realizado. Naquele ínterim, o colega de trabalho Ermeudo Monteiro, também da mesma idade, ficou animado e juntos nos apresentamos naquele Quartel General, onde fomos submetidos aos exames médicos, físicos e complementares, exames que aconteceram naquela manhã de Segunda Feira como havíamos combinado. E apesar de tenso como estávamos, fomos recrutados para incorporação, com data marcada para o dia 7 de julho de 1955, uma quinta feira.
                        Eu e o Ermeudo Monteiro voltamos alegres para o trabalho e cientificamos ao Senhor Ondil, gerente da Empresa Comercial, de que havíamos sido convocados para servir ao Exército e na data previamente estabelecida, estávamos nos apresentando na Hospedaria Getúlio Vargas, no Bairro de São Gerardo, onde seria o nosso Quartel provisório até que as instalações definitivas do mesmo fossem concluídas em Crateús, onde nos juntaríamos aos demais companheiros que ali se encontravam. Nova vida e no interior do Acantonamento Provisório daquela Hospedaria, permanecemos por trinta dias ininterruptos, chamado período de adaptação, com tempo marcado para todas as atividades que aconteciam no dia-a-dia, sob a égide da disciplina e da hierarquia. Novos chefes e instrutores e bons companheiros que, juntos, comungavam de todas as tarefas que nos eram pertinentes. O Comandante da Companhia (Companhia de Comando e Serviços) era o Capitão João Ferreira de Almeida, um exímio atirador e muito bem se relacionava com a tropa que sabiamente comandava. O Comandante do Destacamento era o Capitão Márcio Martins Antunes, de temperamento mais rígido com a tropa. Cito alguns dos Oficiais Subalternos da Companhia: Ten João Alberto Lopes, Noé Rebello de Araújo Neto, José Hidemburgo de Castro Nogueira, Francisco Sobreira de Alencar e outros. Sargentos Instrutores: João Batista Ortiz, João Batista Alves, Carlos Praciano de Souza, Antônio Silva, Edson Sá, Nobin Kamada e outros. Era um período de sacrifício como soldado recruta, mas de muitos sonhos e projetos que se desenhavam em nossa mente, como ocorre a todo jovem adolescente que despontapara a vida.
                        Toda segunda feira de cada semana, o Cap. João de Almeida, na formatura matinal, procurava ouvir as reclamações e reivindicação de todos nós recrutaque estavam se adaptando a uma nova vida longe da família e com dificuldades peculiares pertinentes a cada um. Havia reclamações diversas e até os que se queixavam das refeições, das possíveis falhas às vezes encontradas. Lembro-me bem de fatos bisonhos, de reclamações que terminavam em risos com a tropa. O recruta José da Silva, apelidado e Feira Livre, natural de Calcaia, disse para o Comandante da Companhia “que o café da manhã lhe ofendia quando o pão era pouco”. Era um cara engraçado, que procurava se divertir com os companheiros da maneira mais simples, alegre e humilde possível. No intervalo da noite, antes do toque de silêncio, ficávamos ouvindo as músicas de Luís Gonzaga através dos alto-falantes dos bairros circunvizinhos, que era em moda daquele período. Os companheiros Francisco Valdenor Barbosa e Francisco Laércio de Vasconcelos Fontenele, ambos cearenses e de saudosa memória, era com quem mais me identificava e com os quais trocava ideias verdejantesnaqueles intervalos de noitesmemoráveis para nós. Decorrido o Período de Adaptação, tivemos a primeira folga do final de semana, exceto para os que se encontravam escalados para a Guarda do Acantonamento. E saímos orgulhosos envergando aquela farda verde-oliva, como lídimos defensores de nossa Pátria Querida. Cheguei ao Hotel Macapá, no centro de Fortaleza, onde eu era hospedado e ali me apresentei a D. Olímpia, proprietária do Hotel, que me tinha como filho e eu a tinha como Mãe, pelo carinho e amizade com que nos tratávamos reciprocamente. E ficou deveras orgulhosa quando me viu envergando aquela farda de cor verde-oliva com desvanecimento e altivez. A minha verdadeira Mãe, a D. Marica Saraiva, que orava por mim diariamente em Alto Longá e que acompanhava todos os passos de minha existência, ficou feliz com minha condição de soldado do Exército Brasileiro, onde começava uma nova vida para mim, base sólida de minha trajetória profissional militar nos trinta anos que passei no seio da caserna. Os amigos da Firma onde trabalhava antes de incorporarao Exército, ficaram também alegres: O querido amigo-irmão Otávio Sousa, Piauiense de Piripiri, Leôncio, Luciano, Pires,Edmilson, Campelo e os demais, que me deram o incentivo de que necessitava.
                        No dia 7 de Janeiro de 1956, sábado, nós, integrantes da Companhia de Comando e Serviços do 4º Batalhão Ferroviário, com sede em Crateús-Ceará, embarcamos de trem para aquela cidade, onde as instalações já haviam sido concluídas em suas edificações. A cidade nos esperava com muita festa e animação e podemos afirmar que foi a maior solenidade que Crateús vivenciou em sua existência até aquela época, com muita música e fogos de artifícios, que foram jubilosamente lançados em nossa chegada. Foi uma movimentação carinhosa de grande porte que aconteceu naquela humilde cidade, de gente amiga, que nos aplaudiu com imensa alegria e a grande festa com que nos homenageou. O Primeiro Comandante do Batalhão era o Coronel José Liberato Souto Maior e o Subcomandante o Ten Cel. Clovis Alexandrino Nogueira. Na segunda feira o Batalhão nos prestou grande homenagem. Era a Companhia de Comando e Serviços que se incorporava ao efetivo da Unidade Militar, o 4º Batalhão Ferroviário.Em minha primeira visita à cidade, fiz amizade com a Senhora D. Maroca, por intermédio do companheiro de incorporação Davino Rodrigues de Souza, filho da terra que nos acolhia. Nos finais de semana, quando de folga, ficava na residência de D. Maroca, eu e mais quatro companheiros da corporação. Dava-nos a alimentação e lavava as nossas roupas. No final domês efetuávamos o pagamento correspondente. Que pessoa maravilhosa a D. Maroca, que fazia o papel de Mãe cuidadosa e zelosa com todos nós. Crateús, a terra do Médico Dr. José Olavo, de saudosa memória, que inestimável serviço prestou àquela comunidade a que tanto se devotava de coração. Crateús, à época, era uma cidade pacata, hospitaleira, que tinhacomo entretenimento, nos finais de semana, aquela dança animada no Centro Esportivo, que rolava vibrantemente no coração da cidade, movimentando a todos que ali se encontravam. Ou então um banho gostoso no açude púbico da Cidade, que movimentava muita gente em cada domingo que transcorria.  Posteriormente foi criado o Crateús Clube. Estudei na Escola de Comércio Padre Juvêncio e trenei os alunos da minha turma na Escola para as festividades de 7 de Setembro que se aproximavam.
                        Havia sido promovido a graduação de cabo, quando deixei Crateús, transferido para os Órgãos de Comando do 1º Grupamento de Engenharia, em João Pessoa, para ser promovido a 3º Sargento. Deixei a cidade com muita saudade e na noite de quatro de Setembro de 1956, não dormi e fiquei no apartamentocom os amigos em confraternização de despedida e na madrugada, que já era dia 5, foram me deixar na Estação Ferroviária, onde assistiram o meu embarque de trem para Fortaleza. Viajei no mesmo dia, cedo da noite, para João Pessoa, no ônibus Expresso de Luxo, que passava em Capina Grande com destino a Recife. Naquela cidade, peguei outro ônibus para João Pessoa, chegando ao cair da tarde do dia 6 naquela cidade. Fiquei no bairro de Cruz das Armas, numa Pensão onde se hospedava companheiros do 15º Regimento de Infantaria. No dia 7 fui ao centro dacidade, onde assisti o desfile em comemoração a grande data. Apresentei-me no 1º Grupamento de Engenharia na manhã do dia 10, segunda feira, pronto para o serviço. Na capital das Acácias começava uma nova vida para mim. Tinha 19 anos de idade e minha ascensão profissional começava a se iluminar paulatinamente. Na Capital Paraibana passei 14 anos de minha preciosa existência, onde casei, me formei e consegui realizar belos sonhos de minha existência. Casei em 1966 e em 1968 terminei a Faculdade na Universidade Federal da Paraíba. Em Janeiro de 1970 fui para o Rio de Janeiro Cursar a Escola de Saúde do Exército. Na época eu era 2º Sargento e já entrei na Escola como 1º Tenente Aluno. No final do ano conclui o Curso em 1º lugar e recebi a Medalha Marechal Hermes – Aplicação e Estudos. Fui o orador da turma, onde, no jantar de confraternização da Praia Vermelha, no Restaurante Roda Viva, fiz uma saudação de despedida eloquente, fazendo verter lágrimas nos olhos de alguns familiarese companheiros presentes.
                        Nesta data de sete de Julho de 2015, terça feira, completa 60 anos que, orgulhosamente, ingressei nas fileiras do Exército. Um marco histórico de saudade e de muitas recordações para mim. Uma lição de vida, que espero um dia contar melhor,numa oportunidade mais razoável de escrever um livro sobre os anais de minha existência. Sei que muitos companheiros daquela época já estão na eternidade, para quem reverenciamos uma homenagem in memoriam, com o preito da saudade que ficará para sempre em nossos corações. Tenho notícias de poucosque ainda estão em nosso meio: José Newton Fernandes, bem sucedido, que mora com a família em São Paulo, Capital, para quem enviamos o nosso fraternal abraço, meu e de minha família, incluindo os 10 netos que nos dão muita alegria e felicidade. Renato Saraiva de Mesquita Melo, que mora também em São Paulo com a família,para quem enviamos a nossa confraternização de amizade e apreço. Francisco Cândido Sobrinho, que mora com a família em Fortaleza, com quem também nos confraternizamos com júbilo e amizade. Francisco Almeida, que mora no interior de Ubajara – Ceará, com a família, para quem enviamos o nosso carinho e apreço. Divulgo no seio desta nobre família do Facebook, rogando aos companheiros dessa turma legendária que ainda estão em nosso convívio ou de familiares que possam nos dar notícias dos mesmos, que se comuniquem comigo: E-mail: ldalmada@hotmail.comou pelos telefones: 031-95 - 3623-O472e 3623-0485.  Dependendo do resultado obtido, poderemos até marcar uma data de reencontro da boa turma no local e data previamente escolhidos. Uma leve advertência para no E-mail: ldalmada (é l de lei e não I de ideal).
                        Concluo minha exaltação de amor a cada irmão, rogando humildemente que seja bondoso e fraternal com o nosso semelhante. Não busque perfeição em ninguém porque ela inexiste. Perdoeas ofensas, porque esta virtude é de pleno agrado do  Pai Eterno. Se você não tem a capacidade de perdoar, Deus também não lhe perdoará tampouco e sua vida ficará atribulada nos horizontes da convivência humana que prossegue. Exerça a virtude da gratidão, que é a mais nobre e porta aberta para as demais virtudes. Você crescerá com a prática salutar da humildade. Mostre humildemente suas origens de natureza simples e não tenha vergonha de externar de onde você veio. Foi à base salutar de seu desenvolvimento e progresso, sob o amparo e a proteção de Deus em todas as suas atividades, porque você procurou sempre fazer a vontade do nosso Soberano Senhor e Criador de todas as coisas. Não tenha vergonha de sua idade. Os grandes Profetas de Deus viveram em longevidade e gozaram de saúde plena em sua velhice. Tenha paciência na aflição e suporte com perseverança, porque isso é do agrado de nosso Pai Celestial. “Como é feliz o homem a quem Deus corrige; portanto, não desprezea disciplina do Todo-poderoso. Pois ele fere, mas trata do ferido; ele machuca, mas suas mãos também curam”. (Jó 5.17-18).

Boa Vista - Roraima, 7 de Julho de 2015.

(*) Oficial R1 do Exército e Empresário,Titular e Diretor Técnico do Lab. Lobo D’Almada, Membro da ALB e da ALLCHE. E-mail: ldalmada@hotmail.com

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