terça-feira, 22 de novembro de 2011

Como é bom morar em Boa Vista ou "Vai morar em Porto Velho, vai..."

Por Francisco Espiridião

Mês passado, fomos convidados a participar da festa de aniversário duplo de 50 anos dos amigos gêmeos Sábio, na região da serra de Tepequém. Era um sábado. Chegamos à fazenda por volta das 16h. Muitos conhecidos, antes de nós. A maioria se refrescava na barragem com pinta de piscina feita num privilegiado ponto do córrego que serpenteia defronte à casa grande da propriedade. Uma delícia.

Eu e Eliana, depois de cumprimentarmos a Glória, anfitriã, conversarmos um pouco e decidimos, então, subir a serra e dar uma espiada no que restou daquela que foi uma das corruptelas de garimpo mais movimentadas do então território federal, isso até meados dos anos 1980. Subida íngreme, porém, agora, suavizada pela existência providencial do asfalto de boa qualidade.

Lá no topo, antes de começar a descer do outro lado, a Eliana me mostra algumas incidências virtuais (a palavra está na moda), ou seja, “aqui era o posto de saúde, ali ficava a delegacia de polícia, lá deveria existir aquilo, e mais adiante aquilo outro...”. Desnecessário dizer, tudo o maior deserto. Mostrou-me o local exato em que ficava a casa do falecido velho Valter Matos, seu pai, num vale escondido detrás de pequena serra.

Enquanto a gente roda pela estrada, agora de piçarra, a certa altura ela diz, abrupta:

- Para aqui! É aqui mesmo.

- O quê, mulher?

- O cemitério, onde minha santa mãezinha foi enterrada (em meados dos anos 1960).

Vegetação rasteira. Duvidei que ali pudesse ter sido um dia a cidade dos mortos. Mas era. Uma cruz baixinha denunciava que Eliana tinha razão. Boa memória! Saiu de lá menina ainda e, durante todo esse tempo, trazia na mente o croqui exato do extinto povoado.

Esse fato ficou martelando o meu juízo, até me despertar a que também fizesse viagem de volta às origens. Rondônia. Saí de lá faz mais de 36 anos. Voltei uma única vez, em 1978. Estou decidido: comprei até passagem de ida e volta, para pagar em seis prestações – sem juros. O tour será em maio do ano que vem, mas faz alguns dias que venho buscando informações de lá por meio do Google.

Descobri que o mar não está pra peixe por aquelas bandas. Artigo assinado por um professor, publicado no dia 11 deste mês de novembro, no site Gente de Opinião (www.gentedeopiniao.com.br), mostra a dura realidade. Começa pelo título: “Nosso Auschwitz rondoniano”.

Porto Velho mantém o pior hospital de pronto-socorro do País, o hospital João Paulo Segundo; de acordo com levantamento feito pelo Instituto Trata Brasil, a capital ostenta o título nada honroso de cidade mais suja do Brasil, além de dispor de apenas 1,2 por cento de saneamento básico e de menos de 3 por cento de água tratada nas residências.

As mazelas não param por aí. Mas, creio, não vale a pena desfiar todo o novelo de agruras enfrentado pela população daquele meu estado natal. O articulista diz que, para completar, “só falta cair sobre a cidade uma chuva de fezes”. A realidade é de cortar coração.

Aí fico a pensar que nós, boa-vistenses, moramos no paraíso. Boa Vista tem esgoto sanitário em nada menos que 60% das residências; água tratada – de excelente qualidade – em 100% das moradias; é uma das cidades mais limpas do Brasil. Tá bom, nesse quesito cabe um senão: hoje já não se pode dizer tanto assim, em razão dos buracos nas ruas, especialmente na periferia. Mas isso é o de menos.

A terra de Makunaima tem problemas? Tem. Mas, nem tanto. Esperar por perfeição, afinal, é coisa de lunático. Mesmo assim, por qualquer ângulo que se veja, o nosso querido Roraima está longe de ser o que se quer fazer crer: um estado em fase terminal.

Para quem estiver incomodado em viver nesta Boa Vista querida, uma recomendaçãozinha básica: que vá morar em Porto Velho.

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