Francisco
Espiridião
Foi numa noite dessas. Estava nos prelúdios da sinfonia de Morfeu. Algo desafinou. Uma espécie de arranhado irritante. Como o ar-condicionado faz aquele barulhinho... não, um barulhão ensurdecedor, achei que se tratava da Karen ou da Fábia Marcela escovando o pé, no banheiro.
Aí, lembrei-me que eu havia sido o último a me recolher. Tinha certeza disso porque quase não encontrava as chaves para trancar as portas. Isso, já mais de meia-noite. Tive o cuidado de apagar as luzes antes de me entregar ao travesseiro.
É impressionante. Ocorre quase todas as noites. Quando já estou pegando no sono, a Eliana me cutuca, acho que só de birra, e pergunta se eu fiz o serviço direitinho.
– Sim, tranquei tudo, fica quieta, vai dormir!
Aliás, parece que agora vamos dormir mais tranqüilos. O nosso vizinho amicíssimo do alheio acaba de ser recolhido, aos costumes, à Penitenciária Agrícola. De quebra, entregou para a Polícia os demais cúmplices. Gente que a gente nem imaginava.
Ah, sim, o arranhado na porta. Agora eu já tinha certeza de que não era ninguém no banheiro.
Pausa. O silêncio volta a reinar. Maneira de dizer, porque a zoada do ar-condicionado é renitente. Menos mal. Com ela, já me acostumei. Posso voltar a dormir em paz.
Afinal, aquele arranhado não passou de pura imaginação.
– Não era nada, não – penso meio acordado, meio dormindo. Não havia razão para acordar a Eliana. Aliás, acordá-la é coisa que eu não me atrevo a fazer no meio da noite. Exceção para situações extremas.
– Rec-rec-rec-rec.
Não. Dessa vez eu estava acordado. Havia alguma coisa, sim, arranhando a porta do quarto. E pelo lado de dentro. Para meu desespero, cada vez mais forte. Mais forte, sempre. Melhor ver o que se trata.
Será que a Bolinha não foi dormir na casinha dela, lá fora? Vai ver que adormeceu no pé da nossa cama e ninguém viu. Sentiu saudade da caminha (sim, a Bolinha dorme de cama, com colchão e tudo) e alguém precisava abrir a porta para ela sair.
Criei coragem. Nada, quem precisa de coragem para abrir uma porta? Enfio o dedo no interruptor e... quase caio para trás. Um rato! Mas não era um rato qualquer. Era uma respeitada ratazana (temo aqui estar praticando uma desdita: será que o bicho não era macho?).
Não critico mulheres que têm fobia de baratas. Sei como é isso. Rato, amigo, me tira do sério!
Aquela cena vai ser difícil de esquecer. Por gosto se media o comprimento do roedor. Quase um palmo e meio. Só de rabo! Quando me viu, tratou de se homiziar no alto do guarda roupa. Dentro de uma das malas empoeiradas.
Aí não teve jeito. Fui obrigado a pedir socorro.
A Eliana acorda apavorada.
– Cadê, cadê o ladrão?!!! Pensou que ele já estivesse dentro do quarto.
Quando se inteirou da situação, não se agüentou:
– Cabra frouxo, com medo de um ratinho de nada! Sobe logo aí, mata esse bicho e vamos voltar pra cama!
Preferi a última parte. Ele, de lá mesmo, escafedeu-se. Ficamos quites. Não o matei. Mas ele também nunca mais voltou a fazer pantomima na porta do quarto.
Foi numa noite dessas. Estava nos prelúdios da sinfonia de Morfeu. Algo desafinou. Uma espécie de arranhado irritante. Como o ar-condicionado faz aquele barulhinho... não, um barulhão ensurdecedor, achei que se tratava da Karen ou da Fábia Marcela escovando o pé, no banheiro.
Aí, lembrei-me que eu havia sido o último a me recolher. Tinha certeza disso porque quase não encontrava as chaves para trancar as portas. Isso, já mais de meia-noite. Tive o cuidado de apagar as luzes antes de me entregar ao travesseiro.
É impressionante. Ocorre quase todas as noites. Quando já estou pegando no sono, a Eliana me cutuca, acho que só de birra, e pergunta se eu fiz o serviço direitinho.
– Sim, tranquei tudo, fica quieta, vai dormir!
Aliás, parece que agora vamos dormir mais tranqüilos. O nosso vizinho amicíssimo do alheio acaba de ser recolhido, aos costumes, à Penitenciária Agrícola. De quebra, entregou para a Polícia os demais cúmplices. Gente que a gente nem imaginava.
Ah, sim, o arranhado na porta. Agora eu já tinha certeza de que não era ninguém no banheiro.
Pausa. O silêncio volta a reinar. Maneira de dizer, porque a zoada do ar-condicionado é renitente. Menos mal. Com ela, já me acostumei. Posso voltar a dormir em paz.
Afinal, aquele arranhado não passou de pura imaginação.
– Não era nada, não – penso meio acordado, meio dormindo. Não havia razão para acordar a Eliana. Aliás, acordá-la é coisa que eu não me atrevo a fazer no meio da noite. Exceção para situações extremas.
– Rec-rec-rec-rec.
Não. Dessa vez eu estava acordado. Havia alguma coisa, sim, arranhando a porta do quarto. E pelo lado de dentro. Para meu desespero, cada vez mais forte. Mais forte, sempre. Melhor ver o que se trata.
Será que a Bolinha não foi dormir na casinha dela, lá fora? Vai ver que adormeceu no pé da nossa cama e ninguém viu. Sentiu saudade da caminha (sim, a Bolinha dorme de cama, com colchão e tudo) e alguém precisava abrir a porta para ela sair.
Criei coragem. Nada, quem precisa de coragem para abrir uma porta? Enfio o dedo no interruptor e... quase caio para trás. Um rato! Mas não era um rato qualquer. Era uma respeitada ratazana (temo aqui estar praticando uma desdita: será que o bicho não era macho?).
Não critico mulheres que têm fobia de baratas. Sei como é isso. Rato, amigo, me tira do sério!
Aquela cena vai ser difícil de esquecer. Por gosto se media o comprimento do roedor. Quase um palmo e meio. Só de rabo! Quando me viu, tratou de se homiziar no alto do guarda roupa. Dentro de uma das malas empoeiradas.
Aí não teve jeito. Fui obrigado a pedir socorro.
A Eliana acorda apavorada.
– Cadê, cadê o ladrão?!!! Pensou que ele já estivesse dentro do quarto.
Quando se inteirou da situação, não se agüentou:
– Cabra frouxo, com medo de um ratinho de nada! Sobe logo aí, mata esse bicho e vamos voltar pra cama!
Preferi a última parte. Ele, de lá mesmo, escafedeu-se. Ficamos quites. Não o matei. Mas ele também nunca mais voltou a fazer pantomima na porta do quarto.
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