terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Cadê os bambus da minha praça?

Por Francisco Espiridião

E os bambus desapareceram da minha praça. A Praça dos Bambus, ali na avenida Santos Dumont, bairro São Francisco. Não faz muito tempo. Eu mesmo não havia percebido, ainda que a trágica perda esteja a saltar aos olhos. Principalmente para mim, que moro quase em frente.

O local hoje, totalmente diferente do que já foi um dia, é-me mais que familiar. Abrigou o Horto Municipal. Lembro-me bem. Em meados dos anos 1970, quando construí – pela metade – a minha primeira casa nas proximidades, foi de lá que surrupiei a brita para o piso.

Local ermo. Pleno inverno. Uma caçamba basculante passava por ali, mais por teimosia do motorista que por qualquer garantia de tráfego. Levava o material sei lá para onde. Bobeada do “motora” e, pronto! Ficou atolada.

Para sacar aquele monte de ferro dos buracos em que se metera, fez-se necessária a possante ação de um D-8. O piso do terreno mais parecia formado de areia movediça. Para o sucesso da “operação saca-caçamba”, a primeira providência foi despejar ali mesmo os três ou quatro metros cúbicos de brita.

Desdita de uns, regalo de outros. Todo dia, quando chegava do trabalho, no final da tarde, eu e a Eliana íamos buscar latas e latas de brita para fazer o piso daquilo que eu chamava, com muito orgulho, de casa.

Construída em madeira de terceira, sem qualquer repartição por dentro. Mas era a minha casa.
Sem o piso, a água minava dentro das quatro paredes que era uma beleza! Daí a pressa. O trabalho de remoção do material do local do atoleiro ao destino final não demorou nem duas semanas.

Aliás, tentar passar por ali transportando tão expressiva carga – areia, pedra brita ou qualquer outro material – era mesmo uma temeridade. Para eu enfrentar o brejo, rumo ao trabalho todas as manhãs, fazia-se necessário arregaçar as pernas da calça até acima dos joelhos. Os sapatos, estes viajavam nas mãos. Lá muito adiante lavava os pés em uma das últimas poças d’água e os calçava.

Mesmo com todos os óbices para o tráfego – motorizado ou a pé –, o local era lindo. Os bambus da minha praça, então, eram de encher os olhos. De tão compridos, pareciam querer tocar o céu. Estavam todos lá.

O tempo passou. O horto mudou-se. Hoje, está plantado no interior do Parque Anauá. De uma hora para outra descubro, com surpresa, que os bambus também tomaram destino. Para onde, não se sabe. Em seu lugar, outras árvores frondosas. Menos mal.

Remanescentes do antigo horto insistem em permanecer no local. São alguns pés de ingá, cajueiros e outras árvores que nenhum fruto comestível dão. Tem também uns pés de dão (coisas de macuxi), conhecem? Sim, são comestíveis esses que também são chamados de maçãs de pobre.

Tudo muito bem. Mas, não me consolo. Sinto falta dos bambus da minha praça. Bambus de volta ou mudemo-la o nome! Ah, ia esquecendo: o Francisco também agradeceria a recuperação dos brinquedos.

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