Por Francisco Espiridião
E os bambus
desapareceram da minha praça. A Praça dos Bambus, ali na avenida Santos
Dumont, bairro São Francisco. Não faz muito tempo. Eu mesmo não havia
percebido, ainda que a trágica perda esteja a saltar aos olhos.
Principalmente para mim, que moro quase em frente.
O local hoje,
totalmente diferente do que já foi um dia, é-me mais que familiar.
Abrigou o Horto Municipal. Lembro-me bem. Em meados dos anos 1970,
quando construí – pela metade – a minha primeira casa nas proximidades,
foi de lá que surrupiei a brita para o piso.
Local ermo. Pleno
inverno. Uma caçamba basculante passava por ali, mais por teimosia do
motorista que por qualquer garantia de tráfego. Levava o material sei lá
para onde. Bobeada do “motora” e, pronto! Ficou atolada.
Para sacar
aquele monte de ferro dos buracos em que se metera, fez-se necessária a
possante ação de um D-8. O piso do terreno mais parecia formado de
areia movediça. Para o sucesso da “operação saca-caçamba”, a primeira
providência foi despejar ali mesmo os três ou quatro metros cúbicos de
brita.
Desdita de uns, regalo de outros. Todo dia, quando chegava
do trabalho, no final da tarde, eu e a Eliana íamos buscar latas e latas
de brita para fazer o piso daquilo que eu chamava, com muito orgulho,
de casa.
Construída em madeira de terceira, sem qualquer repartição por
dentro. Mas era a minha casa.
Sem o piso, a água minava dentro das
quatro paredes que era uma beleza! Daí a pressa. O trabalho de remoção
do material do local do atoleiro ao destino final não demorou nem duas
semanas.
Aliás, tentar passar por ali transportando tão expressiva
carga – areia, pedra brita ou qualquer outro material – era mesmo uma
temeridade. Para eu enfrentar o brejo, rumo ao trabalho todas as manhãs,
fazia-se necessário arregaçar as pernas da calça até acima dos joelhos.
Os sapatos, estes viajavam nas mãos. Lá muito adiante lavava os pés em
uma das últimas poças d’água e os calçava.
Mesmo com todos os óbices
para o tráfego – motorizado ou a pé –, o local era lindo. Os bambus da
minha praça, então, eram de encher os olhos. De tão compridos, pareciam
querer tocar o céu. Estavam todos lá.
O tempo passou. O horto
mudou-se. Hoje, está plantado no interior do Parque Anauá. De uma hora
para outra descubro, com surpresa, que os bambus também tomaram destino.
Para onde, não se sabe. Em seu lugar, outras árvores frondosas. Menos
mal.
Remanescentes do antigo horto insistem em permanecer no local.
São alguns pés de ingá, cajueiros e outras árvores que nenhum fruto
comestível dão. Tem também uns pés de dão (coisas de macuxi), conhecem?
Sim, são comestíveis esses que também são chamados de maçãs de pobre.
Tudo
muito bem. Mas, não me consolo. Sinto falta dos bambus da minha praça.
Bambus de volta ou mudemo-la o nome! Ah, ia esquecendo: o Francisco
também agradeceria a recuperação dos brinquedos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário