Por Augusto Nunes
Amante, segundo o Aurélio, é a palavra que se aplica a
“pessoa que tem com outra relações extramatrimoniais”. O dicionário
autoriza o uso dos sinônimos amásia, concubina e amiga. Assaltada por um surto de pudicícia, a imprensa escolheu a terceira opção para referir-se a Rosemary Noronha.
Depois da reportagem publicada pela Folha neste sábado, complementada brilhantemente por Reinaldo Azevedo,
os jornalistas podem dispensar-se de cautelas farisaicas e contar o que
muitos sabem desde o século passado: Rose é mais que amiga de Lula. É
amante.
Lá na terra de onde eu venho ninguém confunde amizade com amigação.
Em Taquaritinga, todo lula-com-rose — seja ele o prefeito ou o mais
humilde eleitor — não tem uma amiga: tem amigada. As duas letras a mais
eliminam quaisquer dúvidas adubadas por ambiguidades.
Não, não estou invadindo a privacidade do ex-presidente. Só invocam
esse argumento messalinas fantasiadas de vestais. O modo de agir dos
integrantes da quadrilha desbaratada pela Operação Porto Seguro reafirma
que foi o casal que removeu a fronteira entre o público e o privado.
Ele por garantir a vida mansa de Rose com o dinheiro dos pagadores de
impostos. Ela por transformar uma relação íntima em gazua a serviço de
assaltantes de cofres públicos.
O noticiário sobre o escândalo da vez, que está apenas em seu começo,
precisa substituir imediatamente esse “amiga” pela expressão correta.
Amigada, admito, soa um tanto vulgar. “Amásia” lembra manchete de jornal
de antigamente. “Concubina” é adereço de monarquias. Fiquemos com a
velha e boa “amante”.
Como os seus sinônimos, “amante” tem numerosas contra-indicações e os
efeitos colaterais podem ser devastadores. Mas é a palavra certa. E o
primeiro mandamento do jornalismo ordena que se conte a verdade.
Transcrito do blog do autor
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