quinta-feira, 4 de abril de 2013

Vitória de Pirro

Por Francisco Espiridião

Estou chegando de uma viagem malsucedida a Ji-Paraná. Lá, ia visitar um irmão, o Jane. Calma. É irmão mesmo. Homem. Por incrível que pareça. Quem vê não acredita. O bixim tem só 1,49m de altura. É o caçula dos cinco irmãos de pai e mãe. Os outros cinco, mistos. Só de pai.

Sim, a viagem mixou no meio do caminho. O carro, alugado em Porto Velho, quebrou duas vezes. A primeira, numa ladeira abaixo, 45 quilômetros antes de Ariquemes, na entrada de Cojubim. Arrebentou a bendita correia dentada. Um celta 2010/11. Ainda bem que não houve empeno de válvulas.

Fiquei na beira da estrada, onde nem celular pegava, sob um sol de lascar, das 9h às 12h30. Esperando o guincho. Consertado por volta das 16h30, retomei a viagem. Rodei mais 20 quilômetros. Haja o motor falhar. Parei numa lanchonete. Deixei lá a estrovenga e retornei de carona, para dormir em Ariquemes. Na manha seguinte, ver o que fazia.

Desisti, enfim, da viagem. Retornei para Porto Velho. Quando estou dando entrada no hotel, já à noite, a Globo chama para uma rede nacional. Opa! Pode ser a festejada presidente (ou seria presidenta?) anunciando alguma coisa boa para a sociedade brasileira. Vale a pena escutar!

Que nada! Era o homem mais honrado deste país, o senador Renan Calheiros, com a pompa de presidente do Congresso, dissertando sobre as conquistas das empregadas domésticas. O homem falou tão bonito que faltou pouco para eu acreditar no que ele dizia. Falou até em fim da escravidão. Uma segunda Lei Áurea.

Mais tarde, já com a cabeça no travesseiro, me entreguei aos devaneios cotidianos. Como não podia deixar de ser, o assunto do dia: a redenção das domésticas. Agora, o patrão não pode mais abusar da empregada, pedindo-lhe que lhe esquente o jantar após as 10 da noite.

Para isso, terá de pagar-lhe hora extra. Dobrada. Afinal, trata-se de trabalho eivado de periculosidade, por ser noturno. Poderia haver coisa melhor? Toda doméstica deve ter sonhado sempre com a chegada desse dia. Ou não?

Há, porém, o outro lado da medalha. O diabo é isso. Sempre tem o outro lado. Fiquei pensando, por exemplo, como vai ficar aquela empregada doméstica que não tem mãe ou uma irmã para tomar conta de seu filho enquanto ela vai trabalhar? Aquele pirralhinho que costuma dar trabalho na casa de uma bondosa vizinha em troca de um agrado qualquer.

Sim, porque, pelo que se sabe, a nova e festejada lei não estabelece exceções. Foi trabalho doméstico e não considerado diária (esporádico), está incluído nas novas regras. Como será que a empregada doméstica, que ganha salário mínimo – com todos os seus penduricalhos –, vai pagar salário mínimo – com todos os seus penduricalhos – para quem tiver de ficar com o seu filho?

Esse parece ser apenas um dos inúmeros nós que ainda precisam ser desatados nessa corda que, sempre se soube, arrebenta, inevitavelmente, no lado mais fraco. Seria vitória de Pirro?

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