quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Cortando na própria carne


Por Francisco Espiridião


Desde a semana passada que a grande imprensa anda alvoroçada, em pânico. Dando faniquito com as ações dos famigerados “black blocs”. Os vândalos sobrepujaram todas as suas sórdidas investidas e mudaram o alvo. Ao invés de policiais, na quinta-feira (6) miraram uma das orelhas de um cinegrafista enquanto este desempenhava sua função. O trabalhador veio a morrer nessa segunda (10).

O inusitado deste caso específico está em que a corja, antes do crime praticado na quinta-feira, essa mesma corja era incentivada pela grande imprensa. Imprensa, que, até então, mostrava-se completamente vesga. Só sabia ver as coisas por um lado.

Sempre a Polícia estava errada. Se agia, não devia. Se não agia, era omissa. A casa ainda pegando fogo, o Jornal Nacional chegou a sugerir que o que atingira o jornalista, fosse o que fosse, havia sido disparado por policiais militares.

Ah, os black blocs. Esses não. Estavam no seu papel. Sempre certos. Até mesmo no episódio ocorrido em 25 de outubro do ano passado, quando cercaram, renderam, seviciaram e não mataram porque não puderam o coronel Reynaldo Simões, da Polícia de São Paulo. A grande imprensa pouco espaço deu para o episódio. Afinal, polícia é para apanhar, mesmo.

Agora, se tivesse sido o contrário, até hoje ainda estariam fazendo editoriais de primeira página. A TV Globo teria dedicado precioso tempo de seu principal noticioso, o escambau. Afinal, a práxis hoje é outra: o errado é que está certo. Vive-se num mundo onde tudo virou de cabeça para baixo. Todos adeptos da filosofia à la Rita Lee, onde “tudo vira bosta”.

Mas, como dizia Otto Lara Resende, “o mineiro só é solidário no câncer”. Quando a coisa começa a cortar na própria carne é que se acorda do estupor que tem tomado de assalto a todos, especialmente a grande imprensa em relação a si mesma.

Bastou um black bloc atingir um de seus membros para que todos começassem a ver o  quadro por outro ângulo. Antes, para esse segmento de comunicação, estava corretíssimo o pensamento do apresentador e âncora da TV Bandeirantes, Ricardo Boechat, sobre as manifestações ocorridas em junho do ano passado:

“(...) Essa realidade vai mudar (…) se a população atacar, partir pro contra-ataque. Eu sou favorável a arranhar carro de autoridade, eu sou favorável a jogar ovo, eu sou favorável a revolta, a quebra-quebra, o c..lho. ‘Ah, isso é vandalismo!’ Vandalismo é o cacete! Vandalismo é botar as pessoas quatro horas na fila das barcas todo dia (…) Vandalismo é tu roubar feito um condenado o dinheiro público (…).” (veja o vídeo completo em http://www.extrends.com.br/video/ricardo-boechat-incentiva-vandalismo-e-depredacao/35666/).

Depois de anunciado o crime contra o jornalista da Band, na quinta-feira, e sua morte, na segunda, não vi mais o Sr. Boechat na telinha. Mas creio que ele deve estar até agora com problemas de consciência por haver incentivado a violência que levou de roldão o seu companheiro de trabalho.

O “boss” do Jornal Nacional, na segunda, usou o disparate de pôr o cinegrafista da Band entre dois tipos de “violência”: paus e pedras dos black blocs e balas de borracha e gás lacrimogênio da Polícia Militar. Ambas as formas tendo o mesmo peso.

Esqueceu-se de dizer o “grande” jornalista que as balas de borracha e o gás lacrimogênio são instrumentos legais para se conter a baderna. Já paus e pedras...

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