Por Francisco Espiridião
Desde a semana passada que a grande imprensa anda alvoroçada,
em pânico. Dando faniquito com as ações dos famigerados “black blocs”. Os
vândalos sobrepujaram todas as suas sórdidas investidas e mudaram o alvo. Ao
invés de policiais, na quinta-feira (6) miraram uma das orelhas de um
cinegrafista enquanto este desempenhava sua função. O trabalhador veio a morrer
nessa segunda (10).
O inusitado deste caso específico está em que a corja, antes
do crime praticado na quinta-feira, essa mesma corja era incentivada pela
grande imprensa. Imprensa, que, até então, mostrava-se completamente vesga. Só
sabia ver as coisas por um lado.
Sempre a Polícia estava errada. Se agia, não devia. Se não
agia, era omissa. A casa ainda pegando fogo, o Jornal Nacional chegou a sugerir
que o que atingira o jornalista, fosse o que fosse, havia sido disparado por
policiais militares.
Ah, os black blocs. Esses não. Estavam no seu papel. Sempre
certos. Até mesmo no episódio ocorrido em 25 de outubro do ano passado, quando
cercaram, renderam, seviciaram e não mataram porque não puderam o coronel
Reynaldo Simões, da Polícia de São Paulo. A grande imprensa pouco espaço deu
para o episódio. Afinal, polícia é para apanhar, mesmo.
Agora, se tivesse sido o contrário, até hoje ainda estariam
fazendo editoriais de primeira página. A TV Globo teria dedicado precioso tempo
de seu principal noticioso, o escambau. Afinal, a práxis hoje é outra: o errado
é que está certo. Vive-se num mundo onde tudo virou de cabeça para baixo. Todos
adeptos da filosofia à la Rita Lee,
onde “tudo vira bosta”.
Mas, como dizia Otto Lara Resende, “o mineiro só é solidário
no câncer”. Quando a coisa começa a cortar na própria carne é que se acorda do
estupor que tem tomado de assalto a todos, especialmente a grande imprensa em
relação a si mesma.
Bastou um black bloc atingir um de seus membros para que
todos começassem a ver o quadro por
outro ângulo. Antes, para esse segmento de comunicação, estava corretíssimo o
pensamento do apresentador e âncora da TV Bandeirantes, Ricardo Boechat, sobre
as manifestações ocorridas em junho do ano passado:
“(...) Essa realidade vai mudar (…) se a população atacar,
partir pro contra-ataque. Eu sou favorável a arranhar carro de autoridade, eu
sou favorável a jogar ovo, eu sou favorável a revolta, a quebra-quebra, o
c..lho. ‘Ah, isso é vandalismo!’ Vandalismo é o cacete! Vandalismo é botar as
pessoas quatro horas na fila das barcas todo dia (…) Vandalismo é tu roubar
feito um condenado o dinheiro público (…).” (veja o vídeo completo em
http://www.extrends.com.br/video/ricardo-boechat-incentiva-vandalismo-e-depredacao/35666/).
Depois de anunciado o crime contra o jornalista da Band, na
quinta-feira, e sua morte, na segunda, não vi mais o Sr. Boechat na telinha.
Mas creio que ele deve estar até agora com problemas de consciência por haver
incentivado a violência que levou de roldão o seu companheiro de trabalho.
O “boss” do Jornal Nacional, na segunda, usou o disparate de
pôr o cinegrafista da Band entre dois tipos de “violência”: paus e pedras dos
black blocs e balas de borracha e gás lacrimogênio da Polícia Militar. Ambas as
formas tendo o mesmo peso.
Esqueceu-se de dizer o “grande” jornalista que as balas de
borracha e o gás lacrimogênio são instrumentos legais para se conter a baderna.
Já paus e pedras...
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