domingo, 9 de fevereiro de 2014

Uma questão de fé

Por Francisco Espiridião

Segundo dados da Secretaria Extraordinária de Assuntos Internacionais, cerca de 40 mil brasileiros, entre amazonenses e roraimenses, visitaram ilhas do Caribe nesse fim de 2013 e começo de 2014. A grande maioria teve como destino a tão falada Margarita, território venezuelano. Eu e a Eliana de carona.

Como ela se queixa de que eu costumo dormir ao volante, não nos aventuramos a ir de carro. Pegamos um táxi em Santa Elena, num sábado, por volta das 9h. Chegamos a Puerto Ordaz lá pelas quatro da tarde.

Durante as longas sete horas de viagem, em que paramos apenas para almoçar, fomos barrados em uma única ‘alcabala’, San Inácio, a pouco mais de 100 quilômetros da ‘capital’ da Gran Sabana.

Um guarda, que não era Nacional, mas sim de uma polícia local, fardado de calça azul e camisa branca com lapelas azuis pediu para revistar nossas bagagens. Simplesmente determinou que abríssemos as malas e fez uma revista de araque, perguntando o que estávamos levando.

Ao respondermos que, como ele estava vendo, eram apenas roupas e objetos pessoais, mandou-nos que as trancássemos e, brincando, perguntou se nós não estávamos levando paçoca. Em seguida, nos mandou seguir viagem.

A gente tinha trocado reais por bolívares em Santa Elena e, naturalmente, íamos com alguns maços de BsF 10.000, tudo em notas de 100. Dá para imaginar o volume, né? Tudo guardado, separadamente, dentro das malas.

Graças ao Criador, nada nos ocorreu de contratempo ao longo de toda a viagem. Em Puerto Ordaz, embarcamos já na manhã da segunda-feira num Emb (Embraer) 190, estalando de novo, rumo à ilha. Viagem curta, coisa de 30 a 35 minutos. Lá, desfrutamos de tudo o que tínhamos direito.

Fizemos compras à vontade, menos de eletrônicos, que não havia em disponibilidade nas lojas especializadas. Aliás, telefones celulares, notebooks, tablets, são artigo de luxo, tal como o leite e o papel higiênico. Nos dias em que estivemos por lá, não existiam mesmo.

No mais, tudo na santa paz. E olha que venezuelano é meio amalucado no trânsito. Mas nem acidentes nós tivemos o desprazer de ver nas movimentadas ruas e avenidas de Porlamar, a mais importante cidade da ilha. O Elinaldo viajou com o mesmo destino na companhia da mulher e da filha, e também confirma a paz que envolveu toda a viagem.

E olha que ele foi dirigindo de Boa Vista até a ilha. O único contratempo foi o período que teve de esperar em Puerto La Cruz, para pegar o ferry boat. Dado o período de alta estação, o congestionamento era até natural. Tudo muito bem.

Para minha surpresa, leio reportagens recomendando que as pessoas desistam de fazer um passeio tão reconfortador. Sei que problemas podem ocorrer. Isso, não só na Venezuela. Casos isolados ocorrem até mesmo no Caçari ou Paraviana. Mas serão pontuais. Nada que possa justificar tamanho exagero.

Ao longo do período em que estivemos em território venezuelano, em momento algum a Guarda Nacional Venezuela pediu para nos revistar. Muito menos tomou o nosso suado dinheirinho.

No caminho de ida, cruzamos por mais de uma centena de picapes Hilux, S-10, L-200, Amarok, Frontier e tantos outros carros menores, já fazendo o percurso de volta. Sem que ninguém tivesse grandes queixas.

É claro que perigo existe em qualquer lugar do mundo. Até mesmo dentro de casa. Ladrões há por todo lado. O que não se pode é dar sopa para o azar. Dirigir à noite, especialmente pelas madrugadas, em autopistas isoladas, é pedir para ser assaltado.

A Ilha de Margarita é “simplesmente um luxo!”, como diria o já falecido colunista social Athayde Patrese da década de 90. Foi minha primeira viagem à Ilha, admito. Mas creio que um passeio desses deveria, sim, ser incentivado.

Um outro aspecto, é que ao decidirmos fazer a viagem, colocamos tudo nas mãos de Deus, pedindo que o Senhor Jesus nos acompanhasse. E assim ocorreu. Nenhum arranhão. Você diria que foi questão de sorte. Eu chamo de uma questão de fé.   

 

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