domingo, 22 de janeiro de 2012

A morte no balcão

Por Francisco Espiridião

O jornal O Globo divulgou na sexta-feira (20) que a presidente Dilma Rousseff havia solicitado ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, uma investigação sobre possível omissão de socorro que teria levado à morte o secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira.

Conta ainda o jornal carioca que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) teria iniciado diligências nos hospitais envolvidos. O secretário teve o atendimento recusado em dois hospitais particulares de Brasília, que não aceitaram o seu plano de saúde. Duvanier teve parada cardíaca na madrugada de quinta-feira (19), enquanto preenchia a ficha cadastral em outro hospital.

Caso as suspeitas da presidente da República sejam comprovadas, os hospitais poderão ser submetidos a ações cíveis, enquanto as pessoas envolvidas no atendimento poderão responder por omissão de socorro qualificada. 

Até aí tudo bem. O complicado vem agora: casos parecidos ao do secretário Duvanier Paiva são raros? Claro que não! Se o descaso com a vida humana é tamanho a ponto de atingir o alto coturno da esfera federal, o que acontecerá no andar de baixo, habitado por simples mortais?

Casos idênticos se repetem às miríades, todos os dias, por este Brasilzão de Deus. Não se sabe quantas pessoas choram diariamente a perda de parentes que sucumbem em consequência única e exclusiva da falta de recursos nos hospitais públicos.

Há hospitais onde médicos e paramédicos são elevados à categoria de deuses, incumbidos de escolher quem deve viver e quem irremediavelmente vai morrer. Faltam leitos, remédios, gente para atendimento, ou seja, verdadeiro inferno de Dante. Tudo sob os olhares contemplativos de um governo mais preocupado com a economia que com gente que geme suas desventuras.

Afinal, já somos a 6ª economia do Mundo. Precisamos jogar para a torcida. Lá de fora. A bola da vez é a Fifa. Precisamos mostrar aos Josephs Blats que somos capazes de realizar grandes competições como a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016).

Para isso, pouco importa se faltam recursos para a saúde do brasileiro. O importante é que não faltem verbas públicas para a construção de estádios – a construção do Itaquerão, do Corinthians, em São Paulo, é um bom exemplo: a prefeitura entra com R$ 420 milhões, o governo estadual com R$ 70 milhões e o restante, o BNDES banca.

Os aeroportos ficarão um brinco. Tudo em função das futuras competições esportivas em nível internacional a se realizar no país. Não fosse isso, o transporte aéreo continuaria na mesma situação. Os brasileiros, rezando pela cartilha da ex-ministra do Turismo Marta Suplicy: “relaxando e gozando”.

Enquanto isso, o país segue seu rumo. Em termos de popularidade, a presidente surfa nas nuvens. Sua aceitação acaba de ultrapassar a de seu criador, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O resto é o resto.

Ter encontro marcado com dona Morte em balcões de atendimento de hospitais antes de ver o médico, ou jogado em corredores fétidos, sem maca nem nada, são apenas um detalhe. Diminuto detalhe.

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