Por Francisco
Espiridião
Muita coisa
já se disse com relação à balbúrdia que tomou conta do país nestas duas últimas
semanas. Tenho lido e visto na TV muita gente boa criticando os atos coletivos
de revolta. Outros tecendo loas.
Vi gente,
assenhoreando-se da verdade, afirmar que os manifestantes, ainda nos prelúdios
dos acontecimentos, não valiam vinte centavos – referência análoga ao pomo da
discórdia: o aumento do preço da passagem do transporte coletivo em São Paulo.
Vi, também, quem
pensava assim arregar – como se diz hoje dentro do mais puro (ou espúrio) politicamente
correto. Mudar de opinião, como da água para o vinho, diante do leviatã
representado pelas massas bestializadas das ruas, quebrando tudo o que via pela
frente.
Vi gente de
alto coturno da grande imprensa, no início dos quebra-quebras, mais para boçal,
expressando uma “revoltinha” contra uma “pequena turba” representada por
aqueles que jamais deram com a mão pedindo a parada de um coletivo. Do auto de
sua boçalidade, questionava que os “filhinhos de papai” rebelados nas ruas sequer
sabiam por qual porta do ônibus se entra – ou se sai.
Agora, esses
mesmos boçais engrossam a fila dos que acreditam estar diante de autênticos
reivindicadores. Autênticos Tiradentes que expõem o pescoço na mira da
guilhotina. Tudo em favor de um Brasil à Utopia, de Morus (1477-1535).
Não esqueçamos, no entanto, que se fala aqui de trogloditas, com tacapes em
punho e ira no cenho, propondo mudar o Brasil. Santa ingenuidade!
Continuo
dizendo, como desde o início, que isso que o país vivencia não passa de impressionante
oba-oba. Faz bem à vista dos insatisfeitos. Mas, fora honrosas exceções, quem
neste país não está insatisfeito? Exceção para alguns episódios pontuais, tais
como os reajustes de passagens dos coletivos, o que já se viu ocorrer, de fato,
o resto é mera candinha.
A prova está
na palavra da presidente, na última sexta-feira (21). Gastou dez minutos do precioso
tempo da mídia para muito pouco dizer. Nenhuma proposta factual. A não ser que
vai consultar as lideranças dos Poderes instituídos para adotar uma linha de
ação diante da retumbante reprovação de seu governo, que até aqui não disse
ainda a que veio.
Uma coisa não
se pode negar: o clamor das ruas reverbera nos ouvidos da presidente. Ela disse
isso com todas as letras. Deve fazer também um barulhão danado nos tímpanos
daqueles que se dizem parlamentares. Eleitos que foram para representar o povo,
esse mesmo povo de que faz parte essa parcela que comprime as ruas, impedindo o
direito lídimo do cidadão comum de ir e vir.
Porém, tudo
tem – ou deveria ter – limite. Esse movimento não tem como se manter de pé por muito
tempo. Por uma simples razão: mudar as coisas na marra é próprio das ditaduras.
E o Brasil atual não é nenhuma ditadura, apesar de alguns homéricos equívocos.
Cheguei a ver
na televisão uma menina – bonitinha por sinal – envergando uma camiseta com os
dizeres “Abaixo a Ditadura!” Que ditadura, cara-pálida? Nem mesmo a ditadura
gay conseguiu se instalar de vez no país, no que pese a força que tem feito. Convenhamos:
bonitinha, mas burrinha, não?
Chega! O tal
MPL (Movimento pelo Passe Livre) já conseguiu seu objetivo. Quanto à educação que
deseduca, excessiva carga tributária, saúde na UTI, estradas em pandarecos e
demais outras mazelas, estas não se pode resolver com simples canetada. Para elas
a arquibancada, em vez de as ruas, será, certamente, as urnas. Esperemos um
pouquinho. 2014 está aí. Às portas. Afinal, trocar o voto por uma saca de cimento
é démodé.
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