domingo, 23 de junho de 2013

2014 às portas

Por Francisco Espiridião

Muita coisa já se disse com relação à balbúrdia que tomou conta do país nestas duas últimas semanas. Tenho lido e visto na TV muita gente boa criticando os atos coletivos de revolta. Outros tecendo loas.  
Vi gente, assenhoreando-se da verdade, afirmar que os manifestantes, ainda nos prelúdios dos acontecimentos, não valiam vinte centavos – referência análoga ao pomo da discórdia: o aumento do preço da passagem do transporte coletivo em São Paulo.
Vi, também, quem pensava assim arregar – como se diz hoje dentro do mais puro (ou espúrio) politicamente correto. Mudar de opinião, como da água para o vinho, diante do leviatã representado pelas massas bestializadas das ruas, quebrando tudo o que via pela frente.
Vi gente de alto coturno da grande imprensa, no início dos quebra-quebras, mais para boçal, expressando uma “revoltinha” contra uma “pequena turba” representada por aqueles que jamais deram com a mão pedindo a parada de um coletivo. Do auto de sua boçalidade, questionava que os “filhinhos de papai” rebelados nas ruas sequer sabiam por qual porta do ônibus se entra – ou se sai.
Agora, esses mesmos boçais engrossam a fila dos que acreditam estar diante de autênticos reivindicadores. Autênticos Tiradentes que expõem o pescoço na mira da guilhotina. Tudo em favor de um Brasil à Utopia, de Morus (1477-1535). Não esqueçamos, no entanto, que se fala aqui de trogloditas, com tacapes em punho e ira no cenho, propondo mudar o Brasil. Santa ingenuidade!
Continuo dizendo, como desde o início, que isso que o país vivencia não passa de impressionante oba-oba. Faz bem à vista dos insatisfeitos. Mas, fora honrosas exceções, quem neste país não está insatisfeito? Exceção para alguns episódios pontuais, tais como os reajustes de passagens dos coletivos, o que já se viu ocorrer, de fato, o resto é mera candinha.
A prova está na palavra da presidente, na última sexta-feira (21). Gastou dez minutos do precioso tempo da mídia para muito pouco dizer. Nenhuma proposta factual. A não ser que vai consultar as lideranças dos Poderes instituídos para adotar uma linha de ação diante da retumbante reprovação de seu governo, que até aqui não disse ainda a que veio.
Uma coisa não se pode negar: o clamor das ruas reverbera nos ouvidos da presidente. Ela disse isso com todas as letras. Deve fazer também um barulhão danado nos tímpanos daqueles que se dizem parlamentares. Eleitos que foram para representar o povo, esse mesmo povo de que faz parte essa parcela que comprime as ruas, impedindo o direito lídimo do cidadão comum de ir e vir.
Porém, tudo tem – ou deveria ter – limite. Esse movimento não tem como se manter de pé por muito tempo. Por uma simples razão: mudar as coisas na marra é próprio das ditaduras. E o Brasil atual não é nenhuma ditadura, apesar de alguns homéricos equívocos.
Cheguei a ver na televisão uma menina – bonitinha por sinal – envergando uma camiseta com os dizeres “Abaixo a Ditadura!” Que ditadura, cara-pálida? Nem mesmo a ditadura gay conseguiu se instalar de vez no país, no que pese a força que tem feito. Convenhamos: bonitinha, mas burrinha, não?
Chega! O tal MPL (Movimento pelo Passe Livre) já conseguiu seu objetivo. Quanto à educação que deseduca, excessiva carga tributária, saúde na UTI, estradas em pandarecos e demais outras mazelas, estas não se pode resolver com simples canetada. Para elas a arquibancada, em vez de as ruas, será, certamente, as urnas. Esperemos um pouquinho. 2014 está aí. Às portas. Afinal, trocar o voto por uma saca de cimento é démodé.  

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