Por Isaltino Gomes Coelho Filho
1 – SOBERBA
Os sete pecados capitais são tão antigos como a humanidade. Foram
formalizados com este título no século VI, pelo Papa Gregório Magno, que
se baseou nas cartas paulinas. Ele os definiu como sendo sete: gula,
luxúria, avareza, ira, soberba, preguiça e inveja. Mas foi a Suma Teológica de
Tomás de Aquino que os estabeleceu definitivamente na teologia
católica. Ninguém precisa me acusar de católico ou de ecumenista por
abordar este assunto. Não estou defendendo a teologia católica e não me
interesso por Gregório. É triste ter que fazer defesa prévia, mas há
gente que caça heresia em tudo, e assim já me defendo. Comento os
pecados. Porque não são pecados católicos. São universais, encontradiços
em nosso ambiente, também. Receberam o rótulo de “capitais” por causa
do latim caput, “cabeça”. A ideia é que eles encabeçam os
demais, que derivam deles. Para Aquino, o principal deles era a soberba,
ou o orgulho. Afinal, a gênese do primeiro pecado foi a soberba:
“sereis como Deus”.
A Igreja, para contrabalançar os pecados capitais, elaborou uma lista
de sete virtudes capitais, que a eles se oporiam: humildade,
disciplina, caridade (amor), castidade, paciência, generosidade e
temperança. Estas virtudes derivam do poema Psychomachia, escrito por Prudêncio. Ele descreveu uma batalha entre as boas virtudes e os vícios malignos. A popularidade deste trabalho no período medieval divulgou este conceito pela Europa. A ideia é que a prática dessas virtudes protegeria o fiel contra as tentações dos sete pecados capitais.
Cada virtude corresponderia a um pecado: humildade x soberba; paciência
x ira; castidade x luxúria; generosidade x avareza; caridade (amor) x
inveja; disciplina x preguiça; temperança x gula. Mas os pecados se
tornaram mais conhecidos. A Ordem DeMolay, uma organização maçônica
para jovens de 12 a 21 anos, também elaborou uma lista de sete virtudes,
que são essenciais no cumprimento de seu primeiro grau. Mas seu teor se
assemelha mais ao escotismo que a questão teológica. Por isso,
deixemo-los de lado.
A soberba é tão antiga quanto o homem. O teólogo Manson (e com ele
outros mais) definiu a essência do pecado como sendo o egoísmo. Numa
frase de Billy Graham: “Cunhamos em nossas moedas In God we trust (Confiamos em Deus), mas nos nossos corações escrevemos Me, first (Eu primeiro)”. Foi o desejo do coração humano: “Sereis como Deus” (Gn 3.5). Foi
o pecado da arrogante Nínive: “A soberba do teu coração de enganou…”
(Na, v. 3). Foi a soberba de Babilônia que a derrubou (Is 14.11). E, se
entendermos (o que não está em discussão aqui) que Isaías 14 alude à
queda de Satanás, foi sua soberba que o derrubou.
A soberba de Saul foi ferida quando as mulheres deram mais valor a
Davi que a ele (1Sm 18.6-9). É significativo que o redator de 1Samuel,
imediatamente após a crise de soberba de saul, insira a nota que no dia
seguinte um espírito mau se apoderou dele (1Sm 18.10). A soberba está
bem perto do Maligno.
A soberba é muito encontrada em nosso meio. O orgulho de ter uma
função denominacional de relevo, que torna o obreiro importante. Ou de
pastorear uma igreja com muitos membros e orçamento elevado, não sendo
um pastor de igreja pobre, sem expressão. De descender de família dona
de igreja ou importante na denominação. Minha esposa se lembra até hoje
de quando trabalhou na Casa Publicadora Batista e uma líder feminina lhe
ter perguntado, com certo desdém: “Mocinha, você é filha de quem?”. Era
o orgulho de ter um sobrenome de família nobre na denominação. Meacir
respondeu: “De meu pai e de minha mãe!”. Quanto líder se julga a quarta
pessoa da Trindade, gente tão importante, sem a qual a denominação
morreria! Que é isso, senão soberba?
A virtude que se lhe antepõe é a humildade. Se a soberba mencionada
em Isaías 14 alude à de Satanás é questão que pode ser discutida. Mas a
humildade com que Jesus se conduzia não pode: “Eu, porém, estou entre
vós como quem serve” (Lc 22.27). A empáfia de presumir-se grande
personagem é a atitude de feiticeiro falsamente convertido, como Simão,
que “afirmava ser de grande importância” (At 8.9). Mas o servir é
próprio de Jesus. “Se eu, Senhor e Mestre, lavei os vossos pés, também
deveis lavar os pés uns dos outros. Pois eu vos dei exemplo, para que
façais também o mesmo” (Jo 13.14-15). Ele é o exemplo, e não Saul. Nem o
personagem de Isaías 14.
Evitemos a soberba. De ser um pastorzão de primeira linha. De ser um
crente que é o sustentáculo da igreja. De ser um teólogo genial. E a
soberba coletiva, da igreja que presume ser a melhor igreja do mundo, a
mais certa, a única que é digna de ser igreja! Como há igreja
arrogante! A igreja de Laodicéia pensou assim a seu respeito, mas Jesus
estava do lado de fora dela (Ap 3.20).
Não estou teologizando, mas sendo devocional. Evitemos a vaidade. Principalmente a espiritual, que é um dos maiores non sense
possíveis. O caráter de Jesus deve ser o nosso: “… sou manso e humilde
de coração” (Mt 11.28) e “Bem-aventurados os humildes…” (Mt 5.5).
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