Ao mesmo tempo em que
negros ficaram mais vulneráveis à violência nesses cinco anos, a taxa de
homicídios da população branca caiu 13%
Denúncia do Ministério Público (MP), no entanto, relata que Juan,
um menino negro, de 11 anos de idade, foi morto por policiais militares,
que faziam uma operação na favela
Favela
Danon, município de Nova Iguaçu, 20 de junho de 2011, Baixada
Fluminense. O menino Juan Moraes voltava para casa sem imaginar que
aqueles seriam os últimos momentos de sua vida. O que aconteceu no
instante em que foi morto é nebuloso e ainda não foi totalmente
esclarecido, pois o caso ainda será julgado pelo Tribunal do Júri.
Denúncia
do Ministério Público (MP), no entanto, relata que Juan, um menino
negro, de 11 anos de idade, foi morto por policiais militares, que
faziam uma operação na favela. De acordo com o MP, os policiais atiraram
na criança, pensando que ele era um traficante de drogas. Ao perceber
que tinham matado um menino desarmado, os policiais tentaram ocultar o
crime escondendo o corpo.
O crime,
talvez, nunca tivesse a autoria identificada se um irmão de Juan, ferido
na ação, não sobrevivesse. Foi ele quem relatou o desaparecimento do
irmão e a tentativa dos policiais em sumir com o corpo. Juan foi um dos
35.207 cidadãos negros assassinados no país em 2011, segundo
levantamento feito pela Agência Brasil com base em dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde.
Cruzando
as informações do ministério com dados do censo populacional do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), verifica-se que,
em 2011, a taxa de homicídios dessa população foi de 35,2 por 100 mil
habitantes, taxa 9% acima do que a observada cinco anos antes, quando
foram registrados 29.925 casos, ou seja, 32,4 por 100 mil habitantes.
Ao
mesmo tempo em que negros ficaram mais vulneráveis à violência nesses
cinco anos, a taxa de homicídios da população branca caiu 13%, ao passar
de 17,1 por 100 mil habitantes em 2006 (15.753 em número absoluto) para
14,9 por mil em 2011 (13.895 casos).
O
dado reflete a grande disparidade racial que existe no Brasil, quando
se trata de vítimas de assassinatos. Com o aumento dos homicídios entre a
população negra, a probabilidade de um preto ou pardo ser vítima de
assassinato no país passou a ser 2,4 vezes maior do que a de um branco.
Em 2006, a proporção era de 1,9.
Mãe
de um jovem negro executado em 2006 por um grupo de extermínio, na
Baixada Santista, em São Paulo, Débora Maria da Silva não vê uma melhora
na situação no país. O gari Edson Rogério Silva dos Santos foi morto a
tiros em maio de 2006, durante uma onda de ataques no estado de São
Paulo, quando saía para comprar remédio.
Para
a mãe de Edson, os negros são as maiores vítimas, porque moram nas
áreas mais pobres da cidade. Segundo ela, o Estado ainda mantém uma
postura racista, mesmo 125 anos após a abolição da escravatura no país.
“Temos
que acabar com isso. Não vivemos mais no tempo da escravatura, que se
tem coronéis, capitães-do-mato e sinhozinhos. Apesar de permanecerem as
senzalas, que são as periferias, e os porões dos navios negreiros, que
são os presídios”, disse Débora, que lidera um movimento por justiça
para os assassinatos de maio de 2006.
Para
o coordenador da organização não governamental (ONG) Observatório das
Favelas, Jaílson de Souza, o aumento da taxa de homicídios de negros tem
relação com a mudança geográfica dos assassinatos no país. Nos últimos
anos, enquanto o Sul e o Sudeste têm vivenciado a redução das taxas de
homicídios, o Norte e Nordeste têm visto um aumento da violência.
Esses
estados, segundo Souza, são os que concentram as maiores populações de
pretos e pardos. “Quando essa geografia da morte muda, e há mais
violência no Norte e Nordeste, essa mudança acaba por gerar mais morte
de negros, sejam pardos ou pretos. Em Alagoas, por exemplo, há um branco
para cada 20 negros”, disse.
Dos
cinco estados onde o assassinato de negros mais cresceu, quatro são do
Nordeste e um no Norte. O Rio Grande do Norte teve um crescimento de 2,7
vezes na taxa de homicídios, ao passar de 16,1 por 100 mil habitantes,
em 2006, para 43,6 por 100 mil, em 2011. Na Paraíba, a taxa dobrou, de
30,1 para 60,3 por 100 mil.
Entre os
outros estados onde o crescimento foi grande entre 2006 e 2011, estão
Alagoas (de 53,9 para 90,5 por 100 mil habitantes), o Amazonas (de 22,3
para 42 por 100 mil) e Ceará (de 17,8 para 29 por 100 mil).
Para
Jaílson de Souza, o crescimento econômico do país, sem uma mudança da
estrutura social, também contribui para o incremento da violência entre
as populações mais vulneráveis. “Nosso desafio é reconhecer que não
basta o crescimento econômico, tem que ter uma política que leve em
conta o racismo, que é um elemento estrutural da desigualdade
brasileira.”
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