Do Ex-Blog de Cesar Maia (29/7/13)
1. O Papa Francisco, em seu discurso conceitual no Theatro
Municipal, construiu uma dialética pouco usual: violência e
indiferença. Sublinhou que o outro lado da violência
não pode ser a Indiferença –que adjetivou de
egoísta. E como construtor de pontes (pontífice), ofereceu a
alternativa do diálogo, a ‘cultura do encontro’, nas
palavras dele.
2. Essa ênfase na crítica à Indiferença
como um sentimento não cristão (anticristão),
já havia sido destacada pelo Papa Bento XVI em sua trilogia sobre a
vida de Jesus Cristo. Papa Francisco reforça-a, colando-a à
política e à conjuntura.
3. O ex-presidente francês François Mitterand, em seu
segundo governo (já com um câncer em progresso), aceitou a
proposta de um documentário onde 3 vezes por semana gravaria
respostas a quaisquer perguntas sobre a conjuntura, sobre ele e sobre a
França. O compromisso era que só depois de sua morte, seria
editado para a TV. Assim foi e se tornou um importante documento
politico.
4. Numa reflexão, Mitterrand afirma com sua voz escandida:
“A política desenvolveu em mim o sentimento da
Indiferença”. Para quem viu e reviu o documentário, leu
Bento XVI e ouviu Francisco, é inevitável correlacionar os
três conceitos como um só. A política nos tempos de
hoje desenvolve em seus atores o sentimento da
Indiferença.
5. E esse é o maior de todos os pecados na
política dos últimos anos. O que é o comportamento de
Berlusconi senão a Indiferença? Ou de Dominique Strauss-Kahn?
O que são esses fatos mostrados na política brasileira, em
restaurantes luxuosos de Paris, em programas cercados de luxo e companhias
endinheiradas, em jatinhos públicos ou privados, etc.?
Corrupção? Pode ser. Mas pode não ser, quando se a
entende como enriquecimento pessoal.
6. Mas é inevitável concluir, depois de
ouvir Mitterand e Francisco e ler Bento XVI, que a cultura da
Indiferença –indiferença com a vida das pessoas, com a
opinião pública- que o ponto fulcral do comportamento
político nos dias de hoje, que provoca tanta revolta, é a
certeza da Indiferença dos políticos com a realidade que os
cerca.
7. Indiferença com amplitude e alcance bem maiores que a
corrupção (que pode não atingir pessoalmente a alguns
atores), pois atinge a quase todos, quase generalizadamente. Mesmo que sem
a experiência de Mitterand ou a sabedoria de Bento e Francisco,
é o que passa na cabeça de todos e o que os faz rejeitar a
política e os políticos e leva tantos à
indignação nas ruas ou não, pelo mundo todo.
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