O brigadeiro Ottomar Pinto assumiu o governo do Território em
1979. Eu estava em Fortaleza (CE), frequentando curso de formação de sargento. Funcionava
no quartel do 4º Batalhão de Polícia Militar, na avenida Mister Hall, saída
para a “cidade das facas”, Caucaia.
Concluído o curso em dezembro daquele ano, retornei para Boa
Vista em janeiro de 1980. Em 1981, fui designado pelo comandante-geral, coronel
Wagner Ribeiro da Silva, para comandar o destacamento PM de Mucajaí.
Naquele tempo, Mucajaí era matadouro de gente. Um morto de
noite, nos bares da vida, e outro amarrado para morrer ao amanhecer. Claro que
usei de todos os meus meios para me livrar de tal indicação. Afinal, espernear
é um direito de todo cidadão.
Há de se levar em conta, porém, que era regime de exceção. Militar
não era lá tão cidadão assim. O que menos ele tinha, na verdade, era direito. A
qualquer coisa. Principalmente se fosse praça, o meu caso. Aliás, tinha sim.
Direito a dizer “sim, senhor!”. Alto e bom som para não deixar dúvida.
Inócuo esperneio. Malhar em ferro frio, como dizem. Nem
mesmo o argumento de que eu havia sido o “Zero-Um” da turma e que tinha outros
colegas mais modernos que até então não haviam experimentado o castigo do interior.
Parti então para o lado emotivo. Era abril. Em maio, a
Eliana daria à luz a filha do meio, a Karen – hoje mãe do Rafael e 1º sargento
PM. Mucajaí de então não oferecia nenhuma garantia de um parto assistido. Nada.
Nada convenceu o comandante. O homem para substituir o
sargento Ironilson era eu e não se falava mais nisso. A mudança desembarcando
na casa 02 de apoio da corporação em Mucajaí, dias depois.
O comandante da Companhia do Interior, tenente Samuel, me
comunica, via rádio (não havia facebook), que “amanhã o Governador vai visitar
a Vila. Receba o homem no campo de pouso com honras militares a que tem
direito.” E o babaca aqui acreditou.
Na hora marcada, lá estava eu, com os quatro soldados bem
apresentados, coturno espelhando, fivela do cinto lustrado a kaol, etc. e tal.
Na hora que o avião – um Cessna 206 – abre a parta e dele desce a autoridade,
não me fiz de rogado:
--
Guarda, sentido! Ombro arma! Apresen...
Não deu
tempo nem de eu terminar as honras militares. O homem me cortou no meio,
perguntando:
-- O
que foi que eu fiz?! Pelo que eu sei, não fiz nada para ser preso. Quem mandou
vocês aqui?
Sem
graça, metemos nossa viola no saco e desaparecemos. Receber autoridade no campo
de pouso, nunca mais!
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