Recebi dia desses, do amigo Major Saraiva, farmacêutico,
dono de laboratório há mais de 40 anos em Boa Vista, uma pérola sobre as
“pegadinhas” que a nossa língua pátria pregam em quem vem de outro país e precisa
se comunicar com os nativos.
Verdadeira pândega. A piada gira em torno de um africano que
viera participar de encontro internacional num salão de convenções de
determinado hotel – daqueles quase seis estrelas que na orla marítima da
Capital do Sol existem às pencas.
Ao terminar a inscrição no balcão do evento, o maputense é
informado de que há uma palestra rolando, naquele momento, na sala meia oito.
- Desculpe, qual sala?
- Meia oito. Não sabe o que é meia oito? Sessenta e oito,
assim, veja: 68.
- Ah, entendi, ‘meia’ é ‘seis’.
A conversa tem prosseguimento, quando o atendente informa ao
africano que o Congresso cobrava uma ‘pequena taxa’ para quem quisesse ficar
com o material: DVD, apostilas etc., no valor de dez reais. Mas estrangeiros e
estudantes pagam ‘meia’.
- Humm! que bom. Ai está: ‘seis’ reais.
- Não, o senhor paga meia. Só cinco, entende?
- Pago meia? Só cinco? ‘Meia’ é ‘cinco’
- Isso, meia é cinco.
- Tá bom, ‘meia’ é ‘cinco’.
E o bate-papo continua: – Cuidado para não se atrasar, a
palestra começa às nove e meia.
- Então já começou há quinze minutos Já são nove e vinte.
- Não, ainda faltam dez minutos. Como falei, só começa às
nove e meia.
- Pensei que fosse às 9:05, pois ‘meia’ não é ‘cinco’? Você
pode escrever aqui a hora que começa?
- Nove e meia, assim, veja: 9h30
- Ah, entendi, ‘meia’ é ‘trinta’.
- Isso, mesmo, nove e trinta.
E nesse caminho esburacado, a história vai longe. Termina o
atendente afirmando ao maputense que ele não pode frequentar as palestras
porque não é permitido entrar de sandálias. Ele deveria ir colocar uma meia e
um sapato. O africano vai à loucura.
Isso tudo para mostrar o quanto nossa língua portuguesa é
complicada. Já pensou se ele falasse ao maputense que canela é a parte inferior
frontal da perna da gente e depois dissesse que iria fazer um chazinho de
canela para ele tomar e se acalmar?
(*) Jornalista e escritor
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