segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Sou negro, tenho meus direitos

Por Francisco Espiridião

Sabe a CCJ da Câmara Federal? Pois é. Ela acaba de aprovar cota para negros virarem parlamentar. E a medida vai atingir todas as casas legislativas do País. Agora, sim. Eu vou me dar bem. Por ser negro, já tenho direito assegurado em lei de entrar numa faculdade. Mesmo não tendo lá todos os conhecimentos exigidos.

Para isso, eu não preciso ser inteligente. É a lei. Eu nasci negro. Essa situação – que em nada depende de mim – é motivo suficiente para que o Mundo me paparique. Isso, porque o Mundo me deve. Não sei quanto nem o quê. Mas me deve. E tem de pagar. Sou negro, ora bolas! Que tipo de profissional formado eu serei, isso pouco importa. 

Já que consegui me “formar” na faculdade – que, contrariando o sambista, já não é tão particular assim, basta ver o Prouni e outros artifícios –, agora posso dar mais um passo. Aliás, um passo maior que a perna. Imagina só, eu parlamentar... Me respeita, rapaz! Você não sabe com quem está falando! Eu sou é deputado, ouviu?

Não vejo a hora de o projeto do deputado petista Luiz Alberto (BA) se tornar parte integrante da Carta Magda, ops!, Carta Magna. Já me vejo na tribuna, de paletó e gravata, defendendo a minha tese. Afinal, dizem, sonhar não faz mal a ninguém.

O meu primeiro projeto será algo em que até hoje ninguém pensou. Nem mesmo os mais famosos juristas-deputados. Ou senadores. Nem mesmo os governantes, por decreto: acabar com os assassinatos. Art. 1º - A partir de hoje ninguém mata mais ninguém.

Pesando bem, esse projeto nada tem de original. Aquele que está acima das Leis já o decretou. Muito antes. É um dos mandamentos do Decálogo, a lei dada por Deus a Moisés, no Monte Sinai. “Não Matarás!”, Simples, não? E como se mata neste país! Só no ano passado, 50.102 pessoas foram “despachadas” por arma de fogo. Só por arma de fogo, sem falar nas “lambedeiras”.

Haja viagem essa minha, heim... Depois do Supremo Criador, alguém já fez isso também, mané!. Está no Código Penal Brasileiro (CPB). Parece que é o artigo 121. Já vi que tenho que sair em busca de um novo cavalo-de-batalha. Esse já passou. Está fora de ordem. 

Bem, como disse, sou negro. E já me considero um parlamentar. Quem sabe, um senador, heim? Não importa se ninguém vai votar em mim – e nem deve –, mas eu quero porque quero. É meu direito. Faço beicinho.

Assim como os sem teto querem quinhentas pratas para pagar o aluguel a cada fim de mês, eu também posso querer ser parlamentar. Afinal, sou negro. Tenho meus direitos. 

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