Por Francisco Espiridião
PORLAMAR (VE) – A vizinha Venezuela vive dias de extrema
dificuldade. Para todos os lados há gente descontente. Aqui, na principal
cidade da Ilha de Margarita, em todos os recantos só se ouve queixas. Com quem
se conversa, sejam motoristas de praça, pequenos comerciantes – que se
autodenominam bodegueiros –, o povo na rua, a batida é uma só: lamúrias de que
não existe governo. “O que hay és desgobierno”.
Muitos compatriotas dizem que seu presidente é um “porralouca
analfabeto”. Um motorista de “autobús” (ônibus) que sequer completou o ensino
primário. Dizem que o primeiro mandatário não sabe sequer falar corretamente.
Apesar de aparentar desenvoltura com a língua, isso fica apenas na aparência.
Só consegue influenciar quem não tem qualquer intimidade com o vernáculo local.
Enfim, não sabe governar.
As manchetes dos jornais locais desta quinta-feira (23) expuseram
a cruciante situação dos portuários, que estão perdendo o emprego por falta do
que fazer. As importações, que antes alimentavam o efervescente comércio local,
especialmente nas altas temporadas, quando o que não falta é turista, vivem
atualmente o seu pior momento.
Isso tudo numa ilha que é zona de “puerto libre”, o que
chamamos no Brasil de Zona Franca, ou Área de Livre Comércio. Em outros tempos,
desembarcavam no porto internacional caribenho todos os tipos de materiais,
vindos dos diversos pontos do mundo. Além das bugigangas chinesas, equipamentos
de alta tecnologia, que eram vendidos a preços acessíveis.
Hoje, Margarita está longe de ser aquele paraíso para quem pretende
adquirir um bom computador. Em busca de um notebook, eu estive em dois “centros
comerciales”, como são chamados aqui os shoppings, e não consegui encontrar em
nenhuma das lojas especializadas em importados. A resposta é sempre a mesma:
“No tiene”.
O jornal Diario de Caribazo, informou em manchete, nessa
quinta-feira, que apesar de chegar cimento, o governo não permite que os “insulares”
(moradores da ilha) comprem mais que dois sacos cada um nas chamadas
“ferreterías” – lojas de materiais de construção.
Enquanto a Eliana escarafunchava uma loja de roupas, na
principal avenida do comércio, a 4 de Mayo, chegou um menino trazendo duas
sacolas contendo coisas que, diante do olhar embevecido da dona do
estabelecimento, parecia uma preciosidade.
Eram duas sacolas contendo oito rolos de papel higiênico
cada. Havia muito aquela senhora, apesar de dispor de recursos, não sabia o que
era um rolinho apenas.
Aqui falta quase tudo. O que mais tem nos supermercados –
los bodegóns – é sabão. Ao lado do hotel onde estamos, tem um bodegón. Pequeno
bodegon. O dono disse que daqui a pouco todos os venezuelanos serão obrigados a
se vestir de vermelho – rojo.
Ele me fez uma recomendação: “Quando vocês, brasileiros,
vierem para cá, tragam carne, farinha, leite…”. Parece brincadeira, mas a
situação leva a isso, mesmo. Uma senhora, em um supermercado, me disse que
sente dificuldade para alimentar os filhos pequenos. Há mais de dois meses que
ela não encontra leite nas prateleiras.
A exemplo do papel higiênico, leite é mesmo artigo de luxo.
No “desayuno”, fica exposto todo tipo de alimento para os hóspedes do hotel se
servirem à vontade. Mas o leite, de vez em quando é que uma garçonete aparece,
com um bule, servindo quase que a conta-gotas. Mas a maior reclamação é a falta
da farinha para a arepa.
Um horror.
Nenhum comentário:
Postar um comentário