Por
Francisco Espiridião
Se o ano de
2013 tivesse que ficar marcado por um ato em especial, certamente este seria o
conjunto de manifestações ocorridas no mês de junho em todo o País. Articulado
por meio das redes sociais, um exército de explorados decidiu invadir as ruas.
Começando pela capital paulista. O pomo da discórdia, inicialmente, um pretenso
reajuste de R$ 0,20 nos transportes públicos.
Depois, como
rastilho de pólvora, os descontentes com qualquer coisa também decidiram fazer sua
festinha particular. Ocuparam as ruas de todos os quadrantes do País, e,
principalmente, descendo o pau em tudo o que viam pela frente. Aí já não havia a
necessidade de uma justificativa específica. Qualquer pretexto servia. De
corrupção no setor público até o latido um pouco mais alto do cachorro, tudo
era motivo para se tomar de assalto a via pública.
Em Boa Vista,
ainda que timidamente, cerca de 2 mil pessoas saíram em passeata da Praça das
Águas até a do Centro Cívico, em noite de “Arraial da Teresa”. Excluindo-se as
ninharias, durante as mobilizações nada de incidente grave. Informada de
antemão, a Polícia Militar montou esquema de segurança capaz de inibir qualquer
ato mais afoito. Parabéns à PM.
Antes de
arrefecer, o movimento pôs sal na moleira de autoridades nos três escalões de
Poder. A popularidade da presidente Dilma viu-se arranhada. Até hoje ainda não
se recuperou totalmente. Uma série de ações dentro do serviço público passou a
experimentar melhorias, é certo. Políticos, também, “chamados na chincha”. Muitos
deles se mostravam incrédulos diante de toda a parafernália que se criou.
Em meio aos
manifestantes, vândalos resolveram pôr as mangas de fora. Daí perdeu-se o elã
da mobilização ordeira e pacífica. Principalmente com a entrada em cena dos
famosos Black blocs. Mascarados, eles trucidavam tudo pela frente. A presidente
Dilma foi à TV. Pronunciamento acanhado. Timidez e perplexidade à flor da pele e exalando por todos os poros.
O governador
do Rio de Janeiro, Serginho Cabral (PMDB), acuado em sua própria casa por
vários dias. Manifestantes montaram vigília em frente à residência oficial,
fazendo das suas, mas também clamando pelo fim da corrupção.
Resultado, o
péssimo rendimento do governador carioca estampado na última pesquisa CNI/Ibope, divulgada
no início de dezembro. Entre as 27 unidades da federação, Serginho aparece segurando a lanterna. O pior de todos os governos.
No geral, pelo
menos nos grandes centros – São Paulo e Rio de Janeiro –, os episódios serviram
para mostrar a ineficácia de uma Polícia “emparedada”. Mesmo tecnicamente aparelhada
e treinada, não ousou fazer valer o poder de polícia. A tibieza, em certos
momentos, falou mais alto. Especialmente num clima em que o tal do “politicamente
correto” imperou desbragadamente.
A vitamina
injetada pelo movimento “Vem prá rua você também!” serviu para registrar um
fato inédito em Roraima. Embalada claramente pela oposição ao governo, protagonizou-se
a invasão do prédio da Assembleia Legislativa. Chegou-se a falar em 700 almas,
entre adultos e crianças a se hospedar dia e noite nas galerias da Casa
Legislativa. Por nada menos que 32 longos dias. Clamavam por uma CPI que não veio.
O episódio
marcou o sangue frio do presidente daquele Poder, deputado Chico Guerra (Pros).
Mesmo com as sessões ordinárias e legislativas prejudicadas em sequência, dia
após dia, Guerrinha não usou da força para espanar do local os acampados. Esse
episódio, literalmente, fez jus ao slogan que embala a Assembleia Legislativa
de Roraima: “A casa do povo”.
Ah, ia
esquecendo: 2013 foi também o ano em que o cipó de aroeira bater nos lombos de
quem mandou dar. Mensaleiros na cadeia. Tá bom ou querem mais?
Jornalista e
escritor
Nenhum comentário:
Postar um comentário