quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Mensaleiros na cadeia

Por Francisco Espiridião

Se o ano de 2013 tivesse que ficar marcado por um ato em especial, certamente este seria o conjunto de manifestações ocorridas no mês de junho em todo o País. Articulado por meio das redes sociais, um exército de explorados decidiu invadir as ruas. Começando pela capital paulista. O pomo da discórdia, inicialmente, um pretenso reajuste de R$ 0,20 nos transportes públicos.

Depois, como rastilho de pólvora, os descontentes com qualquer coisa também decidiram fazer sua festinha particular. Ocuparam as ruas de todos os quadrantes do País, e, principalmente, descendo o pau em tudo o que viam pela frente. Aí já não havia a necessidade de uma justificativa específica. Qualquer pretexto servia. De corrupção no setor público até o latido um pouco mais alto do cachorro, tudo era motivo para se tomar de assalto a via pública.

Em Boa Vista, ainda que timidamente, cerca de 2 mil pessoas saíram em passeata da Praça das Águas até a do Centro Cívico, em noite de “Arraial da Teresa”. Excluindo-se as ninharias, durante as mobilizações nada de incidente grave. Informada de antemão, a Polícia Militar montou esquema de segurança capaz de inibir qualquer ato mais afoito. Parabéns à PM.

Antes de arrefecer, o movimento pôs sal na moleira de autoridades nos três escalões de Poder. A popularidade da presidente Dilma viu-se arranhada. Até hoje ainda não se recuperou totalmente. Uma série de ações dentro do serviço público passou a experimentar melhorias, é certo. Políticos, também, “chamados na chincha”. Muitos deles se mostravam incrédulos diante de toda a parafernália que se criou.

Em meio aos manifestantes, vândalos resolveram pôr as mangas de fora. Daí perdeu-se o elã da mobilização ordeira e pacífica. Principalmente com a entrada em cena dos famosos Black blocs. Mascarados, eles trucidavam tudo pela frente. A presidente Dilma foi à TV. Pronunciamento acanhado. Timidez e perplexidade à flor da pele e exalando por todos os poros.

O governador do Rio de Janeiro, Serginho Cabral (PMDB), acuado em sua própria casa por vários dias. Manifestantes montaram vigília em frente à residência oficial, fazendo das suas, mas também clamando pelo fim da corrupção.

Resultado, o péssimo rendimento do governador carioca estampado na última pesquisa CNI/Ibope, divulgada no início de dezembro. Entre as 27 unidades da federação, Serginho aparece segurando a lanterna. O pior de todos os governos.

No geral, pelo menos nos grandes centros – São Paulo e Rio de Janeiro –, os episódios serviram para mostrar a ineficácia de uma Polícia “emparedada”. Mesmo tecnicamente aparelhada e treinada, não ousou fazer valer o poder de polícia. A tibieza, em certos momentos, falou mais alto. Especialmente num clima em que o tal do “politicamente correto” imperou desbragadamente.  

A vitamina injetada pelo movimento “Vem prá rua você também!” serviu para registrar um fato inédito em Roraima. Embalada claramente pela oposição ao governo, protagonizou-se a invasão do prédio da Assembleia Legislativa. Chegou-se a falar em 700 almas, entre adultos e crianças a se hospedar dia e noite nas galerias da Casa Legislativa. Por nada menos que 32 longos dias. Clamavam por uma CPI que não veio.

O episódio marcou o sangue frio do presidente daquele Poder, deputado Chico Guerra (Pros). Mesmo com as sessões ordinárias e legislativas prejudicadas em sequência, dia após dia, Guerrinha não usou da força para espanar do local os acampados. Esse episódio, literalmente, fez jus ao slogan que embala a Assembleia Legislativa de Roraima: “A casa do povo”.

Ah, ia esquecendo: 2013 foi também o ano em que o cipó de aroeira bater nos lombos de quem mandou dar. Mensaleiros na cadeia. Tá bom ou querem mais?

Jornalista e escritor

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