segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O silêncio da alma



Por Francisco Espiridião

No fim de semana passado, a minha caixa de e-mail ficou atulhada de recados do Facebook, informando-me de que pessoas haviam-me citado naquela rede social. O motivo, não cheguei a saber. 

Não sou muito sociável com a tal rede, mas, confesso, não me furto de, digamos, dar uma espiadinha de vez em quando naquilo que se passa por ali. Até por necessidade de me manter informado. Afinal, é inegável que o Facebook tem alcance inominável.

O meu tempo é meio exíguo, reconheço. Por isso, minhas visitas são bastante esporádicas. Mas... Nesse caso, a curiosidade me venceu. Era muita gente me citando, segundo o meu provedor de mensagens eletrônicas.

Pelo número de chamadas, parecia mesmo coisa importante. Ocorre que as dezenas de “citações”, pelo menos as que eu consegui acessar, nem de longe sugeriam a minha participação. Mínima que fosse. Não encontrei meu nome em nenhuma das postagens.

Em compensação, uma coisa me chamou a atenção, apesar de não ter sido nenhuma surpresa: como aquela gente maltrata a última flor do Lácio! Até já escrevi outras vezes a respeito.

Parecem ter faltado às aulas de Português na infância. Muitos não conseguem concatenar uma ideia, muito menos usar os pronomes de maneira elegantemente acertada, entre outras tantas deficiências.

Aliás, usar os pronomes, principalmente os oblíquos, de forma conveniente, admito, não é coisa fácil. Até pouco tempo atrás eu não conseguia discernir o momento certo de tascar um “lhe” ou um “o”.

Minha ex-chefa, Albani Mendonça, jornalista e dublê de professora da Língua Pátria, quase me quebra a cabeça com um martelo para enfiar lá dentro a bendita regrinha. Foi difícil, mas ela conseguiu clarear-me as ideias. Devo-lhe essa, chefa!  

Mas minha bronca com o tal “caralivro” não se resume às pendengas com a língua culta. Há coisas ainda piores. Gente sem ter o que dizer dizendo coisas sem “fut”. É sacal. 

“Agora, tchau, que eu vou no (não seria ao?) banheiro.” “Como a vida é bela”, diz outro, esquecendo-se do título que será protestado logo pela manhã. Sem falar na conta de luz, atrasada a ponto de ter que recorrer à benevolência do amigo deputado. Alternativa: a luz de vela.

Enfim, a vida é isso. Principalmente no mundo Face, onde não se pode ler só o que se quer. Às vezes, a gente “compartilha” (lê, quero dizer) sem querer ideias nem tão sadias assim, do tipo diatribes espinafrando desafetos.

Mesmo com todos esses quiproquós, a vida é bela, sim. E o “caralivro”, uma forma de expressão. Livre e democrática. Ao silêncio da alma, preferível mantê-lo reverberando.   

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