segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Ainda existem juízes no Brasil

Por Francisco Espiridião

“Madeira de dar em doido vai descer até quebrar, é a volta do cipó de arueira no lombo de quem mandou dar.” Esses versos de Geraldo Vandré, dos idos de 1967, em pleno regime militar, quase cinquenta anos atrás, são emblemáticos nos dias atuais.

Ver personalidades impolutas, havia até pouco tempo posando de verdadeiros mandachuvas da nação, fazendo e desfazendo no País, esnobando o mais alto de sua soberba, e não por acaso enlambuzadas com o tal mensalão, hoje, chorando juntos, trancafiados em uma cela da Polícia Federal, em Brasília, é cena impagável.

Esse dia, para eles, estava nas calendas gregas, como diria o saudoso brigadeiro Ottomar Pinto. Jamais existiria. Mas chegou. A previsão do ex-tesoureiro do PT, o professor Delúbio Soares, caiu por terra.

O professor disse, em tom de “mestre-sabe-tudo”, que “todas as besteiras” que se levantavam naquele momento terminariam em “piada de salão”. Isso, quando ainda se desenhavam no Ministério Público Federal os primeiros contornos do mensalão que desaguaria no Supremo Tribunal Federal batizado de Ação Penal 470.

Quão enganado estava o mestre Delúbio! Os ministros do Supremo até que chegaram a preparar a massa e pôr a pizza em fogo brando. Ocorre que o gás acabou. O fogo se apagou e a pizza não chegou a ser assada. Dissolveu-se.

A profecia de Vandré confirma-se de maneira tão premente que só acredita quem vive este momento para ver. Mesmo depois do choro da primeira noite em cana, ainda não perderam a empáfia.

Como bons mensaleiros que são, continuam como dantes. Em cana, mas senhores de si. Dirceu, por exemplo, mandou recadinho a Lula, na semana passada. Foi ouvir a cantilena e atender prontamente: deitou falação espinafrando o presidente do STF e demais ministros.

Que não seja surpresa para ninguém se se descobrir mais tarde que o empreguinho de Dirceu, R$ 20 mil no Hotel St. Peter, teve, ainda que discretamente, o dedinho de Lula.

Voltemos à cena da Proclamação da República: hilariante ver os condenados de punho em riste, dizendo-se “presos políticos”, quando do momento da prisão, naquele dia emblemático.

Comovente a cena daquele domingo (15) à tarde, quando Genoino se entregava à PF. Um meliante – como diz o colega Nonato Souza – posando de herói. E aplaudido por obtusos petistas – nem todo petista é obtuso, que fique claro.  

Aliás, li dia desses em algum lugar que nas ditaduras há a figura dos “presos políticos”, enquanto nas democracias, “políticos presos”. Bom sinal. Nestes dias de desforra vê-se políticos presos. Queira-se ou não, uma novidade. Resta a incógnita: até quando?  

Mas só de saber que “eles” deram com os costados nas masmorras já causa certo ar de contentamento. Uma sensação de que nem tudo está perdido. Fato “quase” improvável. Mas verídico. Ainda há juízes no Brasil.

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