quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Dias de Ira

Por Francisco Espiridião
 
O título acima remete para o spaghetti-western americano estrelado pelo recém-falecido Giuliano Gemma, que embalava os sonhos da minha adolescência. Mas não é dele que quero falar nesta crônica, que abro com uma das declarações de fé mais contundentes nas Escrituras Sagradas.

O salmista e Rei Davi, ao pé dos montes de Jerusalém, olha para cima, faz o comentário e completa com uma pergunta quase retórica a que ele mesmo responde: "Elevo os meus olhos para os montes, de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra." (Salmos 121.1-2).

Hoje, vive-se dias em que o socorro só poderá vir mesmo do Senhor, que fez os céus e a terra. Não se está seguro nem mesmo dentro de casa. Veja-se, por exemplo, o caso de um policial civil que teve a casa invadida na terça-feira por dois marginais, em plena luz da tarde.

Fizeram e desfizeram, plantaram o terror com ameaças e atos, distribuindo tapas e pontapés. Estupraram uma empregada da casa, decretaram limpa geral nas dependências e saíram lindos e fagueiros (um já está preso).

Um fato como esse, no entanto, não pode ser considerado razão para pânico generalizado. É fruto de um momento conturbado que teve nascedouro na instabilidade gerada no interior do setor prisional, tendo a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo como ponto de ebulição.

Não vem ao caso tratar-se de PCC ou Comando da Maioria, pouco importa. O fato é que gerou instabilidade. Apesar de todos os esforços do poder público, imprevistos indesejáveis acontecem. Aliás, o que não existe neste mundo é segurança inexpugnável.

No dia 22 de novembro de 1963, 50 anos atrás, a maior autoridade mundial do momento, o então presidente americano John Fitzgerald Kennedy, trafegava em carro aberto na Praça Dealey, em Dallas, estado do Texas. Estava ao lado da primeira-dama Jacqueline Kennedy.

O que não lhe faltava naquele instante era segurança. Gente disposta a proteger com o próprio corpo o corpo do presidente. Porém, de nada adiantou. Certo Lee Harvey Oswald, fuzileiro de miolo mole, postado de maneira estratégica no alto de um dos prédios, alvejou o presidente. Sem dó nem piedade.

No caso de Roraima, em relação às demais unidades da federação, ainda se vive no céu. Mas é claro que não se pode ter o mesmo pensamento de 30 anos atrás, quando se dormia de portas abertas e todo mundo se conhecia pelo nome.

Havemos de entender que hoje se vive um novo tempo. Tempo em que o progresso grita alto e bom som que está presente. Mas, com ele, também suas implicações. Nem todas positivas.

A abertura da BR-174, estrada pavimentada para Manaus, é via de mão dupla. Por ela chega o tão sonhado desenvolvimento. E por ela se vai a nossa paz. Por ela chegam indivíduos pernósticos, verdadeiros marginais que outrora ninguém ousava sequer pensar existir.

Daí me vem à mente outro fragmento das Escrituras Sagradas escrito também pelo mesmo Rei Davi. "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam. Se o Senhor não vigiar a cidade, em vão vigia a sentinela." (Salmos 127.1 – traduções bíblicas de João Ferreira de Almeida).

O poder público está, sem dúvida, fazendo a sua parte. São homens e mulheres incorporados ao aparato de segurança, além de meios como novas viaturas e equipamentos. Mas não dá para pôr um "guarda" em cada casa. Cabe a nós, cidadãos, também fazermos a nossa parte. Prudência e caldo de galinha, como dizia minha avó, não fazem mal a ninguém.


 

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