sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O panteão das virtudes

Por Francisco Espiridião


Os funerais de Nelson Mandela, o líder pacifista sul-africano, serão concluídos neste domingo (15), mas seu exemplo de democracia, justiça social e, sobretudo, igualdade entre os homens serão atributos próprios a ser pregados em verso e prosa posteridade afora.
Mandela é considerado, num mundo ávido por heróis, um líder rebelde que alcançou a presidência da África do Sul. O corolário de sua luta, o Prêmio Nobel da Paz de 1993. 

Sinônimo de Mandela é extinção do chamado Apartheid, regime político instituído em 1948, que segregava a população negra em benefício da branca, minoritária em seu País.

Aliás, A maior parte de sua vida foi dedicada à causa, como advogado dos direitos humanos, luta em razão da qual se tornou prisioneiro de um regime de exceção. Margareth Tatcher, no entanto, não via assim.

É aí que asas as mosquinhas começam a zumbir atrás de minhas orelhas e que não me deixam sossegar. Por isso, vamos, então, ver este quadro por outro ângulo.

Longe de mim querer-me iconoclasta, mas faz-se necessário dizer algumas coisas que têm passado um tanto nas nuvens nesses tempos de festejada biografia do líder sul-africano. Começa que, em muitos aspectos, Mandela pode ser considerado imbatível. Já em outros, nem tanto assim.  

Nem poderia ser diferente, posto trata-se de um ser humano como qualquer outro, sujeito às mais diversas mazelas inerentes aos, digamos, seres humanos. Mazelas não só de ética, de caráter, como também as físicas. Ou seja, uma simples dor de barriga, se vem com força, derruba o mais forte dos heróis.

No quesito caráter, enfim, ficam dúvidas que nesse momento de quase deslumbramento passam despercebidas: Mandela era amicíssimo de ditadores empedernidos, como Fidel Castro, de Cuba; Qaddafi, da Líbia; Saddam Hussein, do Iraq; e do líder palestino Yasser Arafat.

Ele chegou a propalar que Cuba se sobressaía perante os demais países “por seu amor aos direitos humanos e liberdade”. Chegou a posar abraçado a Fidel, num gestual a indicar acachapante vitória.

Pode alguém – que não seja petista empedernido (lá estou eu de novo falando mal de petistas... mas só dos empedernidos) – considerar tal pensamento normal para um pacifista ganhador de Prêmio Nobel?

Que o homem foi a maior personalidade do século 20, como disse a presidente Dilma em discurso de despedida proferido nessa terça-feira, em Johanesburgo, não há o que se questionar. Mas a prudência recomenda não esquecer sua condição de ser humano.

Elevá-lo a categoria de Deus parece um tantinho assim demais. Ou não?  

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