Revendo crônicas
que escrevi e publiquei em www.franciscospid.blogspot.com.br, encontrei esta que considero instigante e que, na
minha visão, vale a pena ser reeditada. Foi publicada no dia 6 de maio deste
ano. Acho que pode levar alguém a querer também viver a mesma experiência
literária. Segue na íntegra.
Acabo de ler o
segundo romance de Henri-Marie Beyle (1783-1842), o francês que adotou Sthendal
por pseudônimo. O primeiro, O vermelho e o negro, li dois anos atrás, por
recomendação da chefa, Albani Mendonça. A Cartuxa de Parma (Editora Globo, 560
páginas) é tão cativante quanto o primeiro. Uma história apaixonante.
Nos dois romances,
uma conexão entre os protagonistas. Julien Sorel, de O vermelho e o negro,
aceita a função eclesiástica por imposição. Já em Cartuxa, o protagonista Fabrício
Del Longo, depois de se envolver em tantos apuros, luta por se tonar arcebispo.
Chegou lá. Por força de sua carência amorosa, torna-se um eloquente pregador
católico.
Stendhal escreve
essa segunda obra – o terceiro romance, Lucien Leuwen, ficou inacabado, sendo
publicado, assim mesmo, postumamente, em 1894 – tendo como ponto de partida um
estudo sobre famílias antigas da Itália, entre elas a Farnese. A trama tem
lugar na Itália durante e logo após o Império Napoleônico francês.
A vida de Fabrício
Del Longo, a contragosto de seu pai, um monarquista italiano de família nobre,
mostra-se desapegada de quaisquer arroubos de vaidade. Juvenil e tresloucado,
italiano de nascimento, o personagem só pensa em conhecer e lutar ao lado de
Napoleão, a quem venera. Consegue seu intento, em meio à batalha de Waterloo.
Depois disso,
vários embaraços marcam a vida de devaneios de Del Longo, até tropeçar num
certo mambembe, a quem elimina a facadas para liberar o trânsito a uma
sugestiva “rapariga” que nem vale a pena. Essa história termina com o nosso
herói batendo os costados na prisão – a cidadela –, onde fica sob os auspícios
de um determinado general.
Em meio ao
turbilhão, na antessala da masmorra, ele se vê fisgado pelo verdadeiro amor.
Esse sentimento arrebatador – que jamais sentira por uma mulher, já que todas
que passaram por sua vida, e foram muitas, significaram apenas divertimento
passageiro –, tem como endereço a filha do detentor das chaves do cárcere, o
general Fábio Conti.
O importante em
toda a trama é que ela mostra os enredos políticos do momento. Coisas do
coração se misturam com decisões administrativas do império. Oposição e
situação se digladiam a ponto de descambar em assassinatos, tentativas de
envenenamento e até um prenúncio de incesto entre a tia, Gina Pietranera, a
duquesa Sanseverina, e o protagonista.
É bastante
sugestiva a ideia de o título da obra não se justificar senão na última página
da narrativa. Isso, porque, diante de desilusão amorosa, Del Longo recolhe-se
ao convento, a Cartuxa de Parma, para morrer. Morrer de amor, literalmente.
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