Francisco Espiridião
Apesar de o Congresso Nacional ter comemorado na terça-feira
(25), efetivamente é hoje o dia maior do Plano Real. Era uma segunda-feira, vinte
anos atrás, quando o Jornal do Brasil estampou em manchete de duas linhas:
“Governo cria URV, dá abono para funcionalismo e pune especuladores”.
O plano vinha sendo alinhavado havia alguns meses, desde que
Fernando Henrique Cardoso assumira o Ministério da Fazenda, sob o comando de
Itamar Franco, presidente. O desfecho se deu no domingo, dia 27, quando o mineiro
convocou ao Palácio do Planalto seu ministério, e permaneceu trancado com a
“moçada” por oito longas horas.
O resultado foi a publicação, no dia seguinte, da Media Provisória
(MP) 434. Os preceitos da dita-cuja criavam a Unidade Real de Valor (URV), uma
moeda virtual que tinha o peso de 1 dólar, ou 647,50 cruzeiros reais no dia do
lançamento, e exatos 2.750 cruzeiros reais na data da implantação do Real.
O seleto grupo liderado por FHC era formado por Persio
Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, Clóvis
Carvalho e Winston Fritsch. Um timaço! Depois de brigas e reconciliações, costuraram
aquele que viria, de fato, quebrar todos os paradigmas da economia nacional,
jogando no lixo a cultura da hiperinflação, tão arraigada no seio da sociedade.
Além de dar estabilidade econômica ao país, com uma moeda
forte, o Real, que entraria em circulação no dia 1 de julho daquele mesmo ano
(1994), os ditames da MP creditavam a FHC a missão de desindexar os contratos, renegociar
a dívida externa, manter preços e salários livres, salário mínimo reajustado
anualmente (em 1994 ele era de R$ 70), além da aceleração do processo de
privatização.
Ao ser lançada, valendo a partir de 1º de março daquele ano,
a URV causava uma bagunça generalizada na cabeça de quem muito pouco entendia
de economia. O principal dos confundidos com a novidade, confesso, era eu. E
olha que demorou para eu entender os meandros da coisa.
Naqueles dias, lembro-me, mandei lavar o carro em um posto.
Achando ruim, paguei o que me cobraram. Poucos dias depois, descobri que a dor
no bolso tinha sobejas razões. O dono do lava-jato, não sei se pela conturbação
do momento ou por aproveitar a deixa, havia me metido a mão em algo parecido com
oito vezes mais que o valor de mercado.
Ainda quis voltar lá e pedir, pedir não, exigir o
ressarcimento do que paguei a mais. Mas aí, pensei melhor. “Ele vai me chamar
de mané”. Seria passar o recibo na minha idiotice. Desisti, é claro.
Mas isso são águas passadas. Queria aqui chamar a atenção
para outra face da questão. Não é que o PT, o impoluto Partido dos
Trabalhadores, já naquela ocasião, voltara-se contra o plano, chamando-o de
“engodo eleitoral”?
Tentou de todas as formas descontruir aquele “gol de placa”
desenhado por FHC e seus pupilos. Além de ter votado contra o Plano, o PT ainda
chegou a ingressar com Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal
Federal.
O STF jamais chegou a julgar a tresloucada ação. Mas... Mas se
tivesse, quem garante que eu estaria aqui falando dessas e de outras “cositas”
menos interessantes?
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