Francisco Espiridião
É sempre assim. Campanha eleitoral sem
criatividade não é campanha eleitoral. E
criatividade em campanha eleitoral é mesmo um espinho bem apontado no rumo do
adversário-concorrente.
Assim, a campanha que se avizinha já
começa a mostrar a que veio. Cada um falando a sua verdade. Se bem que nessa
seara, há algo a se considerar. Aquela história de que cada um tem a sua
verdade e no meio das verdades oponentes encontra-se a verdadeira verdade
parece ser mesmo verdade. Perdão pelo (que parece) trocadilho.
Mas é assim mesmo. Existem muitas
verdades em torno de um único assunto. Dizem os estudiosos que, para se chegar
à genuína verdade, é necessário desconfiar de todas aquelas que se apresentam
como tal. Ou seja, no frigir dos ovos, não existe verdade absoluta. Queira-se
ou não, essa também parece (parece) ser uma verdade.
Há também quem diga que debaixo de todo
angu tem caroço. Sei lá... Onde há fumaça há fogo, dizem outros. A escola do
famigerado Joseph Goebebls, o poderoso ministro da Propaganda de Hitler,
ensinava, com propriedade, que uma mentira dita e repetida à exaustão torna-se
verdade.
Eis aí uma verdade relativa. Máxima do Direito (será?), o que é
público não carece de prova.
Mas, bom que se diga, a verdade é uma
assertiva que varia muito do ponto de vista de quem espia. E como espia. Ou
tenta entender. Fazendo seu próprio juízo daquilo que lhe está à frente. Objeto
nem sempre palpável, mas também virtual.
Pode-se dizer que um copo d’água está
meio cheio ou meio vazio, que é a mesma coisa. Verdades ditas de formas
diferentes, porém verdades. A prova é que, dependendo do ângulo pelo qual se vê
o objeto observado, pode-se extrair várias verdades incontestáveis. Nem sempre
uma combinando com a outra.
Consta que, certa feita, determinado
ministro fora visitar o presidente Getúlio Vargas em Palácio. Chegou com uma
conversa mole, tipo aquela de Nicodemos com o Mestre Jesus (de noite). Mas, ao
final, definiu de vez a razão do encontro. Queria espinafrar outro colega de
ministério. Ao terminar de ouvi-lo, o “Velho Pai dos Pobres”, que de Jesus não
tinha nada, meneou a cabeça e respondeu laconicamente:
– “Você tem Razão!”.
No dia seguinte, foi a vez daquele que
havia sido espinafrado junto ao “todo-poderoso” da República. A queixa era a
mesma, só que as personagens invertidas. Outra vez, o velho caudilho ouviu com
paciência, sem interromper o querelante, e, ao final, aquiesceu com a maior
tranquilidade:
– “Você tem razão!”.
Incomodada com a atitude do pai, que beirava as raias da leviandade, Alzirinha Vargas, volta-se com toda a carga:
– Ainda ontem o senhor disse que o
ministro ... estava com a razão e, agora, o senhor age da mesma forma, dizendo
que este, que ontem, em seu entendimento, estava todo errado, agora também está
com a razão? Como é que se explica esse seu procedimento, papai?
Getúlio volta-se para a filha, tira os
óculos, encara-a com firmeza e dispara:
– Você também tem razão, Izaurinha!
Numa eleição é assim. Você é obrigado a
escolher quem tem razão. Mira num candidato e detona o último cartucho. Se
errar, só daí a quatro anos é que vai poder consertar a besteira feita.
Por isso, neste ano, depois da Copa,
vai com calma. Afinal, se quiser buscar a essência da verdade como quem está
com muita sede indo ao pote, pode terminar sem a verdade. E, ainda por cima,
perder a razão.
E triste coisa é perder a razão,
abrindo mão da verdade. Aliás, a verdade absoluta existe, sim. Ela atende pelo
nome de Cristo Jesus, o Salvador (João 14.6).
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