quinta-feira, 13 de março de 2014

Tempo Vagabundo

Por Francisco Espiridião

A lei da cadeia se impõe à do Estado. Estuprador pobre entrou na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, morre. Eles conhecem as regras. Nem por isso botam as barbas de molho. Agem dentro da maior naturalidade. Daí surgem várias perguntas que, parecem, ficam sem respostas.

Entre os questionamentos, cito pelo menos dois que, no frigir dos ovos, dão na mesma. Primeiro, por que os indivíduos que carregam na carne a dita sociopatia não conseguem pôr acima de seus anseios malignos o instinto de preservação da vida? Segundo, por que tantos não conseguem se consertar diante de soberbos exemplos de execução sumaríssima da pena capital?

Parafraseando o saudoso Cazuza, vivemos um tempo extremamente vagabundo. Um tempo onde a educação ficou no limbo. Não a formal, aquela oferecida – bem ou mal – pelo Poder Público. Mas a do lar.
Mães envolvidas na luta diária, na ferrenha competição com o homem ou mesmo levadas pelas circunstâncias, não veem outra saída a não ser delegar a educação domiciliar à creche, à escola, à igreja.

O quinto livro das Escrituras Sagradas, Deuteronômio, cuja autoria é do profeta Moisés, no capítulo 6 versículos 5 a 8 cita:

“Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. Os mandamentos que hoje te dou serão gravados no teu coração. Tu os inculcarás a teus filhos, e deles falarás, seja sentado em tua casa, seja andando pelo caminho, ao te deitares e ao te levantares. Atá-los-ás à tua mão como sinal, e os levarás como uma faixa frontal diante dos teus olhos.”

“Tu os inculcarás a teus filhos...”. A vida corrida dos dias atuais faz com que os pais quase não tenham mais tempo de trocar figurinhas com seus rebentos. Não dá tempo de verificar cadernos, corrigir tarefas, ajudá-los em suas dificuldades. Muito menos de lhes falar do amor salvador de Cristo, Jesus.

A educação doméstica é importante para a formação do caráter da criança. Mas nesses tempos vagabundos que escolheram para a gente viver é quase impossível exercitá-la. O pátrio poder hoje, mais relativizado impossível. Não só o governo, mas também as circunstâncias ditam como se deve criar filhos.

O resultado, temos visto. E não é o que meu pai sonhou para os seus. O seu Sylvio me ensinou a trabalhar trabalhando. Era funcionário público. Mas nas horas vagas exercia o ofício de carpinteiro. Levava sempre a mim e meus irmãos para a construção.

Íamos para a escola, sim. Brincávamos, sim. Mas em boa parte do tempo ocioso, a gente pegava no pesado. Nós o ajudávamos, carregando um martelo, dando uma ripa, levantando uma tábua. Dizia sempre que trabalho de menino é pouco, mas quem perde é louco.

Hoje, se um pai fizer isso é capaz de o Conselho Tutelar lhe torar o pescoço, levá-lo preso ou destituí-lo do pátrio poder. Enquanto os pais saem para trabalhar, meninos e meninas ficam nas ruas. Aprendendo tudo o que não devem. 

Ou rendendo-se aos encantos da degeneradora de caráter ainda não formado, a internet. E parece que é isso que a “sociedade” quer. Com a prática ipsis litteris do ECA, o Estatuto da Criança e do Adolescente, estamos criando – ou gerando – monstros.

Sem querer generalizar, quantos possíveis estupradores não teriam se desviado desse caminho pernóstico caso as mães tivessem mais tempo para lhes ensinar, enquanto crianças, que existe um “Papai do céu”?

Hoje, as mulheres se jactam de manter carreiras profissionais honradas. Ganham muito bem. Muitas delas à frente dos melhores e mais importantes postos de comando. Mas, a maioria, quando recosta a cabeça no travesseiro, sente o legado da própria miséria.


Famílias destroçadas. O que tem de mãe solteira que precisa se virar nos trinta, sozinha, para criar os filhos não está escrito. Êta, tempinho vagabundo! E os filhos, criados como Deus criou batata, podem dar em porto seguro? Questão a pensar. 

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