Por Francisco Espiridião
A lei da cadeia se impõe à do Estado. Estuprador pobre
entrou na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, morre. Eles conhecem as
regras. Nem por isso botam as barbas de molho. Agem dentro da maior
naturalidade. Daí surgem várias perguntas que, parecem, ficam sem respostas.
Entre os questionamentos, cito pelo menos dois que, no
frigir dos ovos, dão na mesma. Primeiro, por que os indivíduos que carregam na
carne a dita sociopatia não conseguem pôr acima de seus anseios malignos o
instinto de preservação da vida? Segundo, por que tantos não conseguem se
consertar diante de soberbos exemplos de execução sumaríssima da pena capital?
Parafraseando o saudoso Cazuza, vivemos um tempo
extremamente vagabundo. Um tempo onde a educação ficou no limbo. Não a formal,
aquela oferecida – bem ou mal – pelo Poder Público. Mas a do lar.
Mães envolvidas na luta diária, na ferrenha competição com o
homem ou mesmo levadas pelas circunstâncias, não veem outra saída a não ser
delegar a educação domiciliar à creche, à escola, à igreja.
O quinto livro das Escrituras Sagradas, Deuteronômio, cuja
autoria é do profeta Moisés, no capítulo 6 versículos 5 a 8 cita:
“Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a
tua alma e de todas as tuas forças. Os mandamentos que hoje te dou serão
gravados no teu coração. Tu os inculcarás a teus filhos, e deles falarás, seja
sentado em tua casa, seja andando pelo caminho, ao te deitares e ao te
levantares. Atá-los-ás à tua mão como sinal, e os levarás como uma faixa
frontal diante dos teus olhos.”
“Tu os inculcarás a teus filhos...”. A vida corrida dos dias
atuais faz com que os pais quase não tenham mais tempo de trocar figurinhas com
seus rebentos. Não dá tempo de verificar cadernos, corrigir tarefas, ajudá-los
em suas dificuldades. Muito menos de lhes falar do amor salvador de Cristo,
Jesus.
A educação doméstica é importante para a formação do caráter
da criança. Mas nesses tempos vagabundos que escolheram para a gente viver é
quase impossível exercitá-la. O pátrio poder hoje, mais relativizado
impossível. Não só o governo, mas também as circunstâncias ditam como se deve
criar filhos.
O resultado, temos visto. E não é o que meu pai sonhou para
os seus. O seu Sylvio me ensinou a trabalhar trabalhando. Era funcionário
público. Mas nas horas vagas exercia o ofício de carpinteiro. Levava sempre a
mim e meus irmãos para a construção.
Íamos para a escola, sim. Brincávamos, sim. Mas em boa parte
do tempo ocioso, a gente pegava no pesado. Nós o ajudávamos, carregando um
martelo, dando uma ripa, levantando uma tábua. Dizia sempre que trabalho de
menino é pouco, mas quem perde é louco.
Hoje, se um pai fizer isso é capaz de o Conselho Tutelar lhe
torar o pescoço, levá-lo preso ou destituí-lo do pátrio poder. Enquanto os pais
saem para trabalhar, meninos e meninas ficam nas ruas. Aprendendo tudo o que
não devem.
Ou rendendo-se aos encantos da degeneradora de caráter ainda não
formado, a internet. E parece que é isso que a “sociedade” quer. Com a prática
ipsis litteris do ECA, o Estatuto da Criança e do Adolescente, estamos criando
– ou gerando – monstros.
Sem querer generalizar, quantos possíveis estupradores não
teriam se desviado desse caminho pernóstico caso as mães tivessem mais tempo
para lhes ensinar, enquanto crianças, que existe um “Papai do céu”?
Hoje, as mulheres se jactam de manter carreiras profissionais
honradas. Ganham muito bem. Muitas delas à frente dos melhores e mais
importantes postos de comando. Mas, a maioria, quando recosta a cabeça no
travesseiro, sente o legado da própria miséria.
Famílias destroçadas. O que tem de mãe solteira que precisa
se virar nos trinta, sozinha, para criar os filhos não está escrito. Êta,
tempinho vagabundo! E os filhos, criados como Deus criou batata, podem dar em
porto seguro? Questão a pensar.
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