segunda-feira, 25 de junho de 2012

A foto que vale mais que mil palavras

Por Francisco Espiridião

Como dizia Bial, aquele do BBB global, espiem bem a foto que acompanha esse artigo. É propriedade de Veja Online. Acompanha a chamada da matéria em que o ministro Ricardo Lewandowski devolve o tiro recebido do ministro Ayres Britto, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Esse risinho zombeteiro diz tudo. Sarcasmo maior, impossível.

Britto cobrou-lhe, via ofício, pressa na entrega do relatório (Lewandowski é o revisor) do processo do mensalão, que tem no ex-ministro José Dirceu o chefe-mor. Recebeu de volta, via ofício, a personificação da galhofa. A foto não poderia ser outra. A perspicácia de Veja extrapolou todas as expectativas. Lewandowski zomba de todos os brasileiros. De forma escancarada.

Nesta segunda-feira (25), o revisor, respondendo ao presidente do STF, fez uma verdadeira ode ao desprezo que nutre pela instituição a que pertence. Pincei de seu ofício o trecho que segue:

“Tirante o inusitado da situação, confesso que fiquei surpreso com a informação constante do mencionado ofício, visto que o Plenário desta Suprema Corte, na Sessão Administrativa de 6/6/2012, aprovou, pelo voto unânime dos presentes, o cronograma do julgamento da Ação Penal 470 de Minas Gerais, fixando o seu início em l°/8/2012, ‘sob a condição de o revisor liberar o processo até o final de junho de 2012’ (cf. ata da sessão anexa - grifei).”

O escárnio é evidente, haja vista o ministro Lewandowski, que enfatiza no documento ter 22 anos de magistratura, saber que se entregar o relatório no último dia do mês de junho, conforme pretende, não haverá tempo hábil para que o julgamento tenha início, conforme acertado na Sessão Administrativa do dia 6 deste mês, ou seja, 1º de agosto.

A razão é simples: apresentado o relatório no último dia de junho, espera-se agosto chegar para dar início aos trâmites burocráticos. Julho é um mês morto por tratar-se do merecido recesso do Judiciário brasileiro.
Pelo regimento do STF, a devolução precisa ser publicada. Só depois, o Supremo poderá contar o prazo de 48 horas para comunicar aos 38 réus e aos membros do Ministério Público. Isso empurrará o início do julgamento para o dia 6 de agosto, na melhor das hipóteses.

Em outras palavras, Lewandowski nega na prática o que afirma textualmente em seu ofício:

“Conforme é de conhecimento público, tenho envidado todos os esforços possíveis para não atrasar um só dia o julgamento desse importante feito, sobretudo porque sempre tive como princípio fundamental, em meus 22 anos de magistratura, não retardar nem precipitar o julgamento de nenhum processo, sob pena de instaurar odioso procedimento de exceção.”

Ao deixar para entregar o relatório no dia 30 de junho, Lewandowski estará retardando o início do julgamento. E quanto mais tempo demore, melhor para os mensaleiros. Lewandowski e o mundo todo sabem disso. Nada obsta que esteja dando uma mãozinha, já que tem larga dívida de gratidão com o maior interessado em que tudo acabe em pizza: o ex-presidente Lula.

Não se enganem ao pensar que tudo já aconteceu. Há ainda um extenso leque de possibilidades. Já pensaram que daqui até sexta-feira (29) o homem pode sofrer um chilique qualquer e pegar uma dispensa médica, digamos aí, de uns dois meses? Seria tudo o que a petralhada mais deseja. Ou não? Viria, com certeza, confirmar a tese da existência de bandidos de toga, levantada pela ministra Eliana Calmon, do Conselho Nacional de Justiça.

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