Li um texto que relatava a reunião de um
jovem em busca de seu primeiro emprego e o diretor da empresa onde
pretendia consegui-lo. Na conversa o jovem procurava convencer o
empresário de que era o candidato mais preparado, comentando sobre todos
os cursos que havia cursado e sempre nas melhores escolas.
Em dado momento o homem pediu-lhe para
ver suas mãos - lisas e delicadas -, próprias de um estudante que nunca
havia trabalhado e perguntou-lhe se já havia olhado para as mãos de seus
pais. O jovem explicou então que não possuía pai há muitos anos, que
falecera quando tinha apenas um ano e que sua mãe o criara - e aos
outros três irmãos que ainda estudavam -, lavando roupas de terceiros,
mas que realmente nunca havia olhado para suas mãos.
Perguntado se já a ajudara em sua tarefa
o rapaz disse que ela nunca o permitira, dizendo que queria que ele
estudasse bastante e que um dia fosse um "doutor". Foi então aconselhado
a fazer isso e voltar no outro dia para continuarem com a entrevista.
Ao solicitar isso, causou curiosidade em
sua mãe que, constrangida, deu-lhe as mãos ásperas, calejadas e com
várias cicatrizes para que fossem vistas e lavadas. Observando aquelas
mãos feridas e em certos pontos doloridas até pelo simples contato com a
água que a limpava, o jovem chorou e, pedindo perdão, agradeceu tudo o
que a mãe havia lhe proporcionado com seu sacrifício.
Era a primeira vez que ele se dava conta
dos sacrifícios realizados por ela para pagar suas mensalidades e que
as cicatrizes e calos eram as marcas do preço pago para que hoje, com
sua excelência de formação acadêmica, fosse o escolhido para o primeiro
emprego. Naquele dia ele lavou todas as roupas, pedindo para a mãe
descansar e durante aquela noite conversaram como nunca o haviam feito.
Ao voltar no dia seguinte e contar ao
diretor que aprendera o que provavelmente seria a maior lição de sua
vida, assumiu o emprego desejado, ouvindo de seu chefe o conselho, de
nunca se esquecer de valorizar aqueles que trabalhavam para ele, pois
sem eles nunca seria ninguém e que jamais teria sequer uma camisa limpa e
bem passada para ir trabalhar, sem o sacrifício de alguém.
Ouviu ainda que ao acordar e desfrutar
de seu café da manhã com o pão, a manteiga e o leite, deveria lembrar-se
que nada disso lá estaria sem que outras pessoas tivessem plantado o
trigo, criado a vaca, tirado o leite, feito a manteiga e o pão,
transportado e comercializado esses produtos e alguém os houvesse
colocado na mesa para que ele pudesse deles se servir.
Quantas vezes passamos pelas pessoas sem
sequer observá-las? Quando dizemos ao ascensorista do elevador que nos
transporta algo além do andar para onde queremos ir ou além do prato que
desejamos para um garçom, mais que um bom dia ou boa tarde ao porteiro
do prédio onde moramos ou trabalhamos e cumprimentamos um gari por quem
passamos, mesmo sabendo que sem eles não poderíamos viver em comunidade e
que tudo estaria apodrecendo e fétido à nossa volta?
A maioria das pessoas não enxerga que, para sua alimentação, vestimenta, trabalho, transporte, diversão, moradia ou mesmo para que procrie, ninguém possui algo ou sobrevive sem a participação de outros e que basta olhar a sua volta para perceber que sempre estará devendo agradecimentos ou pedidos de desculpas a alguém.
Nem mesmo as mais modernas tecnologias são capazes de alterar nossa dependência de outras pessoas - que muitas vezes sofrem por nós -, pois diferente da maioria dos animais, o ser humano já nasce precisando de alguém que amarre e corte seu cordão umbilical, que o agasalhe e amamente ou sequer sobreviveria.
O reconhecimento de nossa
insignificância quando estamos sozinhos é o primeiro passo para que nos
tornemos dignos das ajudas diariamente recebidas.
João Bosco Leal é Jornalista, escritor e produtor rural; www.joaoboscoleal.com.br
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