quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A FORÇA DOS FRACOS

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

Pastoral da Igreja Batista Central de Macapá, 30.9.12

No livro Das profundezas – preces, de Kierkegaard, há uma oração intitulada “A fraqueza verdadeira”. Assim se expressa o filósofo dinamarquês: “Pai celeste! No mundo cá de fora, um é forte, outro é fraco. O forte – quem sabe – envaidece-se com a sua força; o débil suspira e, ai de mim, torna-se invejoso. Mas aqui, bem no interior da tua Igreja, todos somos fracos: aqui, perante tua presença – tu és o poderoso, só tu és o forte”.

Gosto de Kierkegaard. Crítico severo da cultura européia, ele via a Europa indo à bancarrota. Foi duro com o cristianismo de sua época, principalmente sua Igreja, a Luterana. Ele a chamava de “igreja de domingo”. Muita forma e pouca vida. Para ele, a questão fundamental não era se o cristianismo era verdadeiro, mas se era verdadeiro para a pessoa. Se a pessoa o vivia. Hoje se procura uma igreja pelo que ela oferece, pelo entretenimento, e status que dá. Não se ela chama à vida santa. Um cristianismo social, de compromissos mundanos e conveniências: “O que é bom para mim?”.

No mundo, as pessoas são avaliadas pela força social, econômica ou cultural. A roupa e o carro dizem quem somos e quanto temos. Lutamos por status. Queremos ser grandes aos olhos alheios. Quem não pode ser apraz-se em fofocar sobre os “famosos”, na Internet. Mas dentro da igreja, diz Kierkegaard, todos são pequenos. Há só um Grande, o Senhor. Nós não fazemos a grandeza da igreja. Deus faz.

Alguém me falou que admirava os pastores por que têm uma vida espiritualmente superior. Eu não. Passo por vales e por vezes me desanimo. Não sou um super-homem espiritual. Alguns são. Eu não. Nunca fui.
No princípio, isto me arrasava. Via-me indigno do ministério. Se eu fosse Deus (a frase é retórica), não me chamaria para o ministério pastoral. Mas aprendi que não preciso ser um super-homem. Preciso apenas ser dependente da graça de Deus. Esperar e viver da sua misericórdia. Deus não espera que sejamos infalíveis e invencíveis, mas que sejamos suscetíveis à sua graça. Ele disse a Paulo: “A minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco” (2Co 12.9).

Não somos pote de ouro, mas de barro. São estes que Deus usa: “Porém nós que temos esse tesouro espiritual somos como potes de barro para que fique claro que o poder supremo pertence a Deus e não a nós” (2Co 4.7). Somos fracos e carentes da graça de Deus. Nosso Salvador nos anima, perdoa, capacita e nos ajuda a viver.

A igreja de Jesus é a confraria de fracos e pecadores que ele, gracioso, salvou e capacita para a vida. Fracos e pecadores com um Deus de poder e graça. Isto basta. Assim o fraco se torna forte.

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