Pastoral da Igreja Batista Central de Macapá, 30.9.12
No livro Das profundezas – preces, de Kierkegaard, há uma oração intitulada “A fraqueza verdadeira”. Assim se expressa o filósofo dinamarquês: “Pai
celeste! No mundo cá de fora, um é forte, outro é fraco. O forte – quem
sabe – envaidece-se com a sua força; o débil suspira e, ai de mim,
torna-se invejoso. Mas aqui, bem no interior da tua Igreja, todos somos
fracos: aqui, perante tua presença – tu és o poderoso, só tu és o
forte”.
Gosto de Kierkegaard. Crítico severo da cultura
européia, ele via a Europa indo à bancarrota. Foi duro com o
cristianismo de sua época, principalmente sua Igreja, a Luterana. Ele a
chamava de “igreja de domingo”. Muita forma e pouca vida. Para ele, a
questão fundamental não era se o cristianismo era verdadeiro, mas se era
verdadeiro para a pessoa. Se a pessoa o vivia. Hoje se procura uma
igreja pelo que ela oferece, pelo entretenimento, e status que
dá. Não se ela chama à vida santa. Um cristianismo social, de
compromissos mundanos e conveniências: “O que é bom para mim?”.
No mundo, as pessoas são avaliadas pela força
social, econômica ou cultural. A roupa e o carro dizem quem somos e
quanto temos. Lutamos por status. Queremos ser grandes aos
olhos alheios. Quem não pode ser apraz-se em fofocar sobre os “famosos”,
na Internet. Mas dentro da igreja, diz Kierkegaard, todos são pequenos.
Há só um Grande, o Senhor. Nós não fazemos a grandeza da igreja. Deus
faz.
Alguém me falou que admirava os pastores por que
têm uma vida espiritualmente superior. Eu não. Passo por vales e por
vezes me desanimo. Não sou um super-homem espiritual. Alguns são. Eu
não. Nunca fui.
No princípio, isto me arrasava. Via-me indigno do
ministério. Se eu fosse Deus (a frase é retórica), não me chamaria para
o ministério pastoral. Mas aprendi que não preciso ser um super-homem.
Preciso apenas ser dependente da graça de Deus. Esperar e viver da sua
misericórdia. Deus não espera que sejamos infalíveis e invencíveis, mas
que sejamos suscetíveis à sua graça. Ele disse a Paulo: “A minha graça é
tudo o que você precisa, pois o meu poder é mais forte quando você está
fraco” (2Co 12.9).
Não somos pote de ouro, mas de barro. São estes
que Deus usa: “Porém nós que temos esse tesouro espiritual somos como
potes de barro para que fique claro que o poder supremo pertence a Deus e
não a nós” (2Co 4.7). Somos fracos e carentes da graça de Deus. Nosso
Salvador nos anima, perdoa, capacita e nos ajuda a viver.
A igreja de Jesus é a confraria de fracos e
pecadores que ele, gracioso, salvou e capacita para a vida. Fracos e
pecadores com um Deus de poder e graça. Isto basta. Assim o fraco se
torna forte.
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