Terminei um comentário sobre o evangelho de Marcos, para a Abba Press, após meses de trabalho. Revisei-o, para corrigir o texto e melhorar a argumentação. Coincidiu que fiz a segunda revisão exatamente após o primeiro turno das eleições municipais. E topei com o texto de 12.13-17, onde há a expressão “A César o que é de César”. Comentei que me surpreende que as pessoas se centrem mais nesta frase que no seu complemento, “a Deus o que é de Deus”.
A segunda frase da sentença de Jesus é um corolário, uma proposição que se deduz de outra. É uma consequência natural do que foi dito, uma dedução óbvia da frase anterior. Se a moeda trazia a imagem de César, era de César. Que se pagasse tributo a ele. Eis o corolário: diante das autoridades religiosas de Israel estava Jesus, que é a imagem de Deus. E elas não o estavam honrando.
O foco da palavra de Jesus não é César, mas Deus. Pagassem o tributo a César, reconhecendo sua imagem. Mas Jesus era a imagem de Deus, e Deus não estava sendo honrado. A atitude dos líderes judeus não tributava respeito a Deus, cuja imagem estava diante deles. É verdade que Colossenses 1.15 ainda não fora escrito, mas Jesus já deixara pistas significativas de quem era.
Os crentes gostam muito da primeira parte, a honra às autoridades, aqui simbolizadas por César. Mesmo que sejam corruptas. Principalmente quando visitam nossas reuniões, para fazer média conosco. Ou quando prometem benesses à igreja. Jesus não honrou Herodes, mas chamou-o de “raposa” (Lc 13.32) e nem lhe deu atenção (Lc 23.2).
Vi o fervor de alguns crentes com seus candidatos. Carros com adesivos, bandeiras desfraldadas, “santinhos” distribuídos, participação em comícios. Ah, se eles pusessem adesivos em seus carros, testemunhando sua fé. Ah, se eles distribuíssem folhetos evangelísticos como distribuíram “santinhos”. Ah, se participassem dos cultos com o zelo, a pontualidade e o fervor com que participaram dos comícios! Conheci um, anos atrás, que “investiu” vinte mil reais na campanha de um político, mas não era dizimista em sua igreja!
Ah, se apresentássemos o evangelho com o fervor e com a assiduidade com que discutimos nossos candidatos e seus times de futebol! Ah, se o evangelho recebesse tanto entusiasmo como o que temos por nossos clubes! Ah, se vestíssemos a camisa do evangelho (simbolicamente falando) com o mesmo orgulho com que vestimos, literalmente, a camisa de nossos clubes!
Ah, se! Ah, se! Ah, se! Precisamos, eu inclusive, melhorar muito. Por vezes fazemos a mesma exegese que muita gente faz desta fala de Jesus. César recebe mais paixão deles que o evangelho. É, tá explicado.
Pastoral do boletim da Igreja Batista Central de Macapá, 14.10.12 (Recebido por e-mail).
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