segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Festa no campo


Por Francisco Espiridião

É impressionante como são as coisas. Aliás, elas são como são. E pronto! Querem ver? O Brasil é um país laico. Não existe religião oficial. Mesmo assim, há fatos e fatos quando o assunto é religiosidade. A laicidade parece “dar um tempo” quando entra em jogo o dia da santa Padroeira, a festejada Nossa (de quem mesmo?) Senhora Aparecida.

A Lei 6.802, que autoriza gazear o dia de trabalho, é anterior à Constituição redentora. É de 30 de junho de 1980. Porém, aqui não vai qualquer crítica de minha parte quanto à sua execução. Isso, porque aprovo o fato de a Constituição prezar pela garantia da liberdade de culto. Quem quiser cultuar a Padroeira, que o faça. Eu aproveito para me esbaldar com a família.

E foi isso o que fizemos na sexta-feira-12. Logo pela manhã, pegamos a estrada: eu, a Eliana, a Karen, o Francisco, a Ethiane e o Rafael. Rumo a Caracaraí. A viagem foi mesmo uma festa. Passamos direto por Mucajaí, com cuidado, em razão da dezena e meia de quebra-molas ao longo do percurso de menos de um quilômetro no leito da BR-174, no perímetro urbano.

Em Iracema, fizemos uma parada estratégica, para abastecer o estômago numa lanchonete de beira de estrada. Comemos uma paçoca que em nada deixa a dever à do quilômetro 100 rumo a Pacaraima. O Rafael se lambuzou com uma fatia de bolo de trigo e rebateu a dose com a mamadeira de leite 1+ com vitamilho, preparada de modo improvisado pela mãe.

Em Caracaraí, a Fátima nos esperava com um peixe cozido que era uma delícia. Quem não quis, pôde mastigar o mesmo pescado assado e, ainda, frito a ponto de as espinhas não representarem qualquer ameaça, desde que bem mastigadas. Havia também frango grelhado. Mas quem liga para regime diante de tais circunstâncias?

Na volta, lá pelas cinco da tarde, resolvemos visitar o compadre Leal e a comadre Eronilda, donos de uma fazenda de gado na região de Apuruí. Para chegar lá não é necessário sair muito da rota. Entra-se na BR-210 dez quilômetros voltando de Caracaraí e 100 metros adiante, quebra-se para a direita. E vai embora. Não tem erro.

Como não avisamos que iríamos, ao chegar à propriedade encontramos apenas o Tiago, a mulher e o filhinho, de quatro anos. Leal e Eronilda arejavam na capital. A ida, no entanto, não foi de todo perdida. Nosso afilhado e a mulher nos receberam como príncipes. Fizemos um lanche regado a um fumegante café e queijo de manteiga da melhor qualidade.

Enquanto conversávamos, a Karen corria atrás do Rafael, que insistia em pegar pela cauda um cavalo que por ali pastava. Dissuadido da empreitada, ele não se conformava. Estava extasiado com o ambiente pastoril, totalmente novo.

Depois de nos deliciarmos com a exótica visão dos coelhinhos, uma ninhada de vira-latas que acabara de nascer, e os porquinhos da índia (preás mesmo!), Rafael continuava a jornada, perseguindo galos, galinhas e pintinhos que ciscavam alegremente. 

A título de incentivo, gritei-lhe:

– Pega o pinto, Rafael! Pega o pinto, rapaz!

Parou de imediato, e não contou conversa: levou a mão à fralda, intrigado por não poder pegá-lo de fato.

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