terça-feira, 20 de agosto de 2013

Perplexidade



Por Francisco Espiridião

Não posso negar que fiquei perplexo com a repercussão espetaculosa do caso do brasileiro David Miranda. O rapaz ficou detido por quase 9 horas no aeroporto de Heathrow, em Londres, nesta semana.

Miranda voltava da Alemanha para o Rio de Janeiro, depois de entregar à documentarista Laura Poitras informações sobre espionagem cibernética na Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) praticada por Edward Snowden, ex-agente da CIA.

Tanto Miranda quanto o marido, o jornalista americano Glenn Greenwald, não são bobos. Sabiam do risco que o brasileiro corria em aeroportos internacionais. O que ele estava fazendo era, no mínimo, temeroso.

Não deu outra. Foi detido. Aos costumes. Ficou incomunicável com base em lei inglesa sobre terrorismo. Afinal, o ato que cometia envolve, como direi... terrorismo – praticado inicialmente por Snowden e continuado por Greenwald, que publica suas indiscrições.

Minha surpresa e perplexidade estão no fato do grande estardalhaço que o governo brasileiro dispensou ao caso. O Itamaraty divulgou nota de repúdio. E, a Rede Globo – como a maioria da grande imprensa nacional – dispensou longos e bons minutos para o assunto.

Quase o mundo caia com a detenção do brasileiro. Parecia até fato inédito. Tudo, no entanto, passaria em brancas nuvens caso o envolvido não fosse negro e, por cima, homossexual. Afinal, o mundo é gay.  

Exemplos são vários. A brasileira Dionísia Rosa da Silva, de 77 anos, por exemplo, viajou em março do ano passado para a Espanha. Foi visitar uma filha e o genro que ali moram. Não saiu do aeroporto de Barajas, em Madrid. Antes de ser deportada, ficou retida por três dias.

Esse é apenas um caso dos quais o governo brasileiro – o Itamaraty – tomou conhecimento e não fez nenhum alarde à la Miranda. Nem o Jornal Nacional abriu mega reportagem a respeito.

A reação do Itamaraty no caso Miranda não causaria nenhuma espécie, a mim pelo menos, caso fosse uma pratica usual. Infelizmente não é isso o que se vê.

A referência ao fato de o mundo ser gay é totalmente pertinente. Você pode chamar o pastor de ladrão o tempo todo. Nada acontece. Mas vai chamar um gay de veado... Logo ele te enquadra num crime de preconceito, que é inafiançável. Inacreditável!

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