Por Francisco Espiridião
Não posso negar que fiquei perplexo com a repercussão espetaculosa
do caso do brasileiro David Miranda. O rapaz ficou detido por quase 9 horas no
aeroporto de Heathrow, em Londres, nesta semana.
Miranda voltava da Alemanha para o Rio de Janeiro, depois de
entregar à documentarista Laura Poitras informações
sobre espionagem cibernética na Agência de Segurança Nacional dos Estados
Unidos (NSA) praticada por Edward Snowden, ex-agente da CIA.
Tanto Miranda quanto o marido, o jornalista americano Glenn Greenwald, não são bobos. Sabiam do risco que o
brasileiro corria em aeroportos internacionais. O que ele estava fazendo era,
no mínimo, temeroso.
Não deu outra. Foi detido. Aos costumes. Ficou incomunicável
com base em lei inglesa sobre terrorismo. Afinal, o ato que cometia envolve,
como direi... terrorismo – praticado inicialmente por Snowden e continuado por Greenwald, que publica suas indiscrições.
Minha surpresa e perplexidade estão no fato do grande
estardalhaço que o governo brasileiro dispensou ao caso. O Itamaraty divulgou
nota de repúdio. E, a Rede Globo – como a maioria da grande imprensa nacional –
dispensou longos e bons minutos para o assunto.
Quase o mundo caia com a detenção do brasileiro. Parecia até
fato inédito. Tudo, no entanto, passaria em brancas nuvens caso o envolvido não
fosse negro e, por cima, homossexual. Afinal, o mundo é gay.
Exemplos são vários. A brasileira Dionísia Rosa da Silva, de
77 anos, por exemplo, viajou em março do ano passado para a Espanha. Foi visitar
uma filha e o genro que ali moram. Não saiu do aeroporto de Barajas, em Madrid.
Antes de ser deportada, ficou retida por três dias.
Esse é apenas um caso dos quais o governo brasileiro – o Itamaraty
– tomou conhecimento e não fez nenhum alarde à la Miranda. Nem o Jornal Nacional abriu mega reportagem a
respeito.
A reação do Itamaraty no caso Miranda não causaria nenhuma
espécie, a mim pelo menos, caso fosse uma pratica usual. Infelizmente não é
isso o que se vê.
A referência ao fato de o mundo ser gay é totalmente
pertinente. Você pode chamar o pastor de ladrão o tempo todo. Nada acontece.
Mas vai chamar um gay de veado... Logo ele te enquadra num crime de
preconceito, que é inafiançável. Inacreditável!
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