Por Francisco Espiridião
Aeroporto, definitivamente, não é para amadores! A constatação do colunista Tutty Vasques é mesmo de lascar. Lembro-me que, certa vez, fiz check-in no aeroporto de Recife. Ao deixar o balcão, constava no cartão de embarque que eu deveria me dirigir ao Portão 8. Chegando lá, uma hora antes do voo, não era mais ali, e sim, no Portão 15.
Meio sem pressa – tinha tempo à vontade –, entrei na La Selva, de onde saí com o delicioso Lituma nos Andes, de Mario Vargas Llosa, e parti para o Gate 15. Foi fácil. Passei pelo raio-x da Federal. A máquina, bondosa, não apitou. Menos mal. Vi uma senhora que só faltou ficar nua para passar pela tal geringonça.
Entrei na sala de espera, todo mundo sentado, uns conversando animadamente, outros com cara de preocupação, do tipo “Será que esse avião chega ao destino?”. Outros liam colunas de esporte ou política. Havia também uns vidrados nas notas de economia. Dirigi-me ao balcão de um dos butecos e comprei uma água mineral – sem gás.
E fiquei ali, observando o ambiente, esperando o tempo passar. É claro que não podia mergulhar no Lituma. Corria o risco de me desligar do mundo e não ouvir o chamado de embarque. Todo cuidado é pouco nessas horas. E o tempo passando. E eu esperando...
Daqui a pouco, surge o tão esperado chamado, já em cima da hora do embarque:
- Senhoras e senhores, passageiros com destino... a São Paulo, favor dirigir-se ao Portão 14.
Foi todo mundo. E eu fiquei. Sozinho. Esperando para embarcar para Boa Vista. Aí bateu o desespero. Procurei um funcionário do aeroporto. Ninguém!
Recorri ao vendedor do buteco que, depois de olhar o meu cartão, disse, meio com ar de gozação: “Corre que o teu embarque é no partão 8, vai logo que o avião já deve estar decolando. Saí correndo. Fui o último a embarcar. Isso foi em 2009.
Dona Maria – que cuida do Francisco enquanto a mãe está no trabalho –, retornando das férias, estava no Aeroporto Val de Cans, em Belém, às 17h de quarta-feira (29). Toda animada, disse, por telefone, que não nos preocupássemos. Estava tudo bem. Embarcaria às 23h30 e, àquela hora, já havia feito o check-in.
No alto dos seus 48 anos, dona Maria não sabe ler um “o”. Porém, pouca gente consegue ser mais esperta que ela. É tanto que chegou ao Maranhão (São Luiz), passando pela armadilha que é a conexão em Brasília, na ida.
Disse para não nos preocuparmos. Estava com grana suficiente para não precisar acordar ninguém no meio da noite. Pegaria um táxi no aeroporto, em Boa Vista. O horário de chegada, 4h do dia 1º. Voo da TAM. Porém, deu cinco, seis, sete horas e nada de dona Maria. Meio dia, nem sinal. Nem o celular ela atendia.
Seis da tarde. Aumenta o desespero. Eliana começa a orar. Às 19h ligo para o 4002-5700. Depois de uma ferrenha conversa com uma máquina, finalmente consigo ser atendido à viva-voz. Conto minhas lamúrias e o “consultor TAM” me manda esperar um pouco.
Cerca de dez minutos depois, muito educado, ele pede desculpas pela demora e me diz que o voo de dona Maria foi “concluído com sucesso” às 5h12 do dia 1.º, ou seja, um “diminuto” atraso de pouco mais de uma hora. Despero total. A mulher não embarcou. Ou dormiu e perdeu a conexão em Manaus!
Peço ao consultor que confirme se ela embarcara. Vindo do outro lado da linha, ouço, para aumento de nosso pavor: “Posso não. Isso o senhor só vai saber com a Polícia Federal, aí em Boa Vista. Por medida de segurança, a lista de embarque é negada a nós e segue direto para a Federal de destino, onde poderá ser consultada, com autorização da justiça”.
Danou-se! Até aí os filhos de dona Maria não haviam entendido a gravidade da coisa. Ligo para os números da Federal que o “consultor TAM” me fornece. Nenhum atende. Vou pessoalmente à sede da PF, que já não é mais na Ville Roy, no Caçari, e sim no Calungá. Para desespero nosso, o agente nega a informação e manda que eu dê queixa de desaparecimento na Polícia Civil.
Aliás, quem deve fazer isso é uma pessoa da família. A Ethiane liga para a Luciana, que é filha. Ela decide ir ao 4.º DP, que fica perto de casa. Na mente, as mais estapafúrdias possibilidades, coisa que não é bom nem pronunciar. “Palavras têm poder”. Por volta das 21h, quando Luciana se prepara para ir à Delegacia, o celular toca.
– Alô!
– Ei minha fia, estou aqui no hotel, em Rondônia. Ontem tinha um temporal doido em Manaus e o avião foi desviado pra cá. A gente vamos chegar em Boa Vista só amanhã (sexta-feira), à uma da tarde. Não liguei antes porque o danado do celular descarregou e só agora consegui um carregador emprestado.
Alívio geral!
Moral da história: enquanto dona Maria se refestelava num cinco-estrelas, em Porto Velho, nós nos descabelávamos aqui. A TAM? Tranquilidade tamanha: o voo foi concluído com sucesso, ou melhor, com apenas uma horinha e doze minutos de atraso. Quase nada!
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