Isaltino Gomes Coelho Filho
Pastoral do boletim da Igreja Batista Central de Macapá, 12.5.13
Entro na Internet para ver a correspondência. Antes de vê-la meus olhos dão numa notícia bizarra. Uma artista ia casar novamente. Não sei com quem. Nem guardei seu nome. Abomino mediocridade. Não tenho paciência nem tempo para notícias tipo “Maria Quiabo mostra o barrigão” ou “Zé das Couves estréia óculos novos”. Vi a notícia porque não havia como não ver. Ler era outra história. O bizarro: a manchete dizia que o vestido que ela usou não lhe dera sorte no casamento anterior.
São essas pessoas que ditam costumes e deitam falação sobre tudo. Pessoas que acham que o casamento não deu certo por causa do vestido. Casamentos não dão certo ou errado por causa disso. Dão certo ou errado por causa dos cônjuges. Mas intriga-me que pessoas que alegam não crer em Jesus ou nos valores cristãos por questões intelectuais creiam em sorte, azar, horóscopo, figas, pata de coelho (se desse sorte, o coelho teria ficado com ela – não lha teriam tirado), passar o saleiro à pessoa traz azar, pular sete ondinhas ou comer não sei quantas ervilhas traz sorte, usar roupa branca no dia 31 de dezembro atrai energia positiva (essa de “passar energia” é de lascar).
As superstições são agradáveis porque trazem esperanças: fazendo determinadas coisas tudo dará certo. Facilitam a vida para gente que não sabe geri-la. E também tiram a responsabilidade. A atriz não soube administrar problemas de relacionamento conjugal e atribuiu o fim do casamento a um vestido. Para quem não tem competência para conduzir sua vida isso é muito atraente. A pessoa não é culpada: algo externo a ela, uma força acima dela, e, melhor ainda, uma força impessoal, a prejudicou. Porque se é uma força pessoal, Deus, a pessoa terá que refletir e corrigir sua vida.
Não somos vítimas dos astros, do número de letras de nosso nome ou do seu significado. Nós fazemos nossa vida. Diz a Declaração Doutrinária da CBB, sobre o homem: “Ser pessoal e espiritual, o homem tem capacidade de perceber, conhecer e compreender, ainda que em parte, intelectual e experimentalmente, a verdade revelada, e tomar suas decisões em matéria religiosa, sem mediação, interferência ou imposição de qualquer poder humano, seja civil ou religioso”. E toma decisões não apenas em matéria religiosa, mas em todas as esferas de sua vida. Culpar a sociedade, pais e mães, é fuga. Medíocres nunca se veem como culpados.
Somos nossas escolhas, nossas ações e colhemos o que semeamos. Em muitos momentos somos vítimas de acidentes ou de circunstâncias que nos fogem. Mas nosso caráter, nossas ações, nossa vida, não nos são impostos pela roupa. Nós os nutrimos.
Olhar para dentro de si e examinar-se criticamente é o primeiro passo para consertar a vida. Ao invés de trocar de roupa, troquemos nosso jeito de ser. Vale mais. Mudar-nos, e não mudar a roupa. Esta é a questão.
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