Por Francisco Espiridião
Acabo de ler o segundo romance de Henri-Marie
Beyle, o francês que adotou Sthendal por pseudônimo. O primeiro, O
vermelho e o negro, li dois anos atrás, por recomendação da chefa,
Albani Mendonça. A Cartuxa de Parma (Editora Globo, 560 páginas) é tão
cativante quanto o primeiro. Uma história apaixonante.
Nos dois romances, uma conexão entre os
protagonistas. Julien Sorel, de O vermelho e o negro, aceita a função
eclesiástica por imposição. Já em Cartuxa, Fabrício Del Longo, depois de
se envolver em tantos apuros, luta por se tonar arcebispo. Chegou lá.
Por força de sua carência amorosa, torna-se um eloquente pregador
católico.
Stendhal escreve essa segunda obra – o terceiro
romance, Lucien Leuwen, ficou inacabado, sendo publicado, assim mesmo,
postumamente, em 1894 – tendo como ponto de partida um estudo sobre
famílias antigas da Itália, entre elas a Farnese. A trama tem lugar na
Itália durante e logo após o Império Napoleônico francês.
A vida de Fabrício Del Longo, a contragosto de seu
pai, um monarquista italiano de família nobre, mostra-se desapegada de
quaisquer arroubos de vaidade. Juvenil e tresloucado, italiano de
nascimento, ele só pensa em conhecer e lutar ao lado de Napoleão, a quem
venera. Consegue seu intento, em meio à batalha de Waterloo.
Depois disso, vários embaraços marcam a vida de
devaneios de Del Longo, até tropeçar num certo mambembe, a quem elimina a
facadas para liberar o trânsito a uma sugestiva “rapariga” que nem vale
a pena. Essa história termina com o nosso herói batendo os costados na
prisão – a cidadela –, onde fica sob os auspícios de um general.
Em meio ao turbilhão, na antessala da masmorra, ele
se vê fisgado pelo verdadeiro amor. Esse sentimento arrebatador – que
jamais sentira por uma mulher, já que todas que passaram por sua vida, e
foram muitas, significaram apenas divertimento passageiro –, tem como
endereço a filha do detentor das chaves do cárcere, o general Fábio
Conti.
O importante em toda a trama é que ela mostra os
enredos políticos do momento. Coisas do coração se misturam com decisões
administrativas do império. Oposição e situação se digladiam a ponto de
descambar em assassinatos, tentativas de envenenamento e até um
prenúncio de incesto entre a tia, Gina Pietranera, a duquesa
Sanseverina, e o protagonista.
É bastante sugestiva a ideia de o título da obra
não se justificar senão na última página da narrativa. Isso, porque,
diante de desilusão amorosa, Del Longo recolhe-se ao convento, a Cartuxa
de Parma, para morrer. Morrer de amor, literalmente.
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