segunda-feira, 6 de maio de 2013

Uma trama excepcional

Por Francisco Espiridião

Acabo de ler o segundo romance de Henri-Marie Beyle, o francês que adotou Sthendal por pseudônimo. O primeiro, O vermelho e o negro, li dois anos atrás, por recomendação da chefa, Albani Mendonça. A Cartuxa de Parma (Editora Globo, 560 páginas) é tão cativante quanto o primeiro. Uma história apaixonante.

Nos dois romances, uma conexão entre os protagonistas. Julien Sorel, de O vermelho e o negro, aceita a função eclesiástica por imposição. Já em Cartuxa, Fabrício Del Longo, depois de se envolver em tantos apuros, luta por se tonar arcebispo. Chegou lá. Por força de sua carência amorosa, torna-se um eloquente pregador católico.

Stendhal escreve essa segunda obra – o terceiro romance, Lucien Leuwen, ficou inacabado, sendo publicado, assim mesmo, postumamente, em 1894 – tendo como ponto de partida um estudo sobre famílias antigas da Itália, entre elas a Farnese. A trama tem lugar na Itália durante e logo após o Império Napoleônico francês.

A vida de Fabrício Del Longo, a contragosto de seu pai, um monarquista italiano de família nobre, mostra-se desapegada de quaisquer arroubos de vaidade. Juvenil e tresloucado, italiano de nascimento, ele só pensa em conhecer e lutar ao lado de Napoleão, a quem venera. Consegue seu intento, em meio à batalha de Waterloo.

Depois disso, vários embaraços marcam a vida de devaneios de Del Longo, até tropeçar num certo mambembe, a quem elimina a facadas para liberar o trânsito a uma sugestiva “rapariga” que nem vale a pena. Essa história termina com o nosso herói batendo os costados na prisão – a cidadela –, onde fica sob os auspícios de um general.

Em meio ao turbilhão, na antessala da masmorra, ele se vê fisgado pelo verdadeiro amor. Esse sentimento arrebatador – que jamais sentira por uma mulher, já que todas que passaram por sua vida, e foram muitas, significaram apenas divertimento passageiro –, tem como endereço a filha do detentor das chaves do cárcere, o general Fábio Conti.

O importante em toda a trama é que ela mostra os enredos políticos do momento. Coisas do coração se misturam com decisões administrativas do império. Oposição e situação se digladiam a ponto de descambar em assassinatos, tentativas de envenenamento e até um prenúncio de incesto entre a tia, Gina Pietranera, a duquesa Sanseverina,  e o protagonista.  

É bastante sugestiva a ideia de o título da obra não se justificar senão na última página da narrativa. Isso, porque, diante de desilusão amorosa, Del Longo recolhe-se ao convento, a Cartuxa de Parma, para morrer. Morrer de amor, literalmente.

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