sexta-feira, 24 de maio de 2013

Quem devia estar na cadeia?



Por Francisco Espiridião
A açodada prisão do pastor Marcos Pereira da Silva, líder da Igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias (ADUD), do Rio de Janeiro, ocorrida no início deste mês, por acusação de estupro, tem todos os atributos para reeditar o escândalo “Escola Base”. De, de roldão, outros crimes, como tráfico de drogas e assassinatos, são atribuídos ao religioso.
Para quem não se lembra, o caso Escola de Base aconteceu há quase 20 anos, em 24 de março de 1994. Teve como estopim uma reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, que acusava os donos da Escola de Educação Infantil de Base, de São Paulo, de terem cometido abusos sexuais contra as crianças que ali estudavam.
O JN deveria ter anunciado o que realmente havia de concreto até então, ou seja, uma singela investigação policial. A forma como o caso foi noticiado foi a dica que faltava para que quase todos os jornais da capital paulista, no dia seguinte, alardeassem o “famigerado crime”, condenando os acusados antes de qualquer julgamento formal. 
Os donos da escola, Icushiro Shimada, Maria Aparecida Shimada, Mauricio Alvarenga e Paula Milhim Alvarenga tiveram suas vidas destroçadas. Tal como ocorre agora com o pastor Marcos. No primeiro caso, um dos jornais chegou a estampar como manchete de primeira página o título “Kombi era motel de escolinha do sexo”.
Os acusados viveram o que se pode chamar de inferno de Dante. Foram presos, fotografados e expostos na mídia. Sem dó nem piedade. Não passavam de estupradores de criancinhas indefesas. Depois disso, as investigações enveredaram por outras vertentes, chegando à conclusão de que nada havia de verdadeiro em todas as acusações. 
Existe, porém, uma diferença ímpar nos dois casos. Enquanto ninguém tinha mais coragem de mandar seus filhos para a bendita Escola Base, em São Paulo, no Rio de Janeiro, o que não falta, hoje, é quem defenda o pastor Marcos Pereira. Mesmo as pessoas que o acusaram na Polícia, publicaram vídeos no Yotube dando o dito por não dito.
O certo é que, para tirar a limpo todo esse possível imbróglio – ou confirmar as denúncias de vez –, as investigações precisam continuar. Inadmissível é que o pastor seja mantido no cárcere, sem que tenha havido uma condenação formal. Por enquanto, as investigações prosseguem.
Parece haver dois pesos e duas medidas na Justiça brasileira. Veja-se o caso dos mensaleiros. Por que o líder da quadrilha, o ex-ministro José Dirceu, não está puxando cadeia, a exemplo de Marcos Pereira?
Dirceu e todos os asseclas – políticos ou não – foram julgados e condenados pela mais alta Corte de Justiça do País. Não há mais dúvidas quanto à culpa de todos. Já Marcos Pereira, ainda pode sair-se ileso das acusações. Quem devia estar na cadeia?

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