Por Francisco
Espiridião
A açodada prisão
do pastor Marcos Pereira da Silva, líder da Igreja Assembleia de Deus dos
Últimos Dias (ADUD), do Rio de Janeiro, ocorrida no início deste mês, por
acusação de estupro, tem todos os atributos para reeditar o escândalo “Escola
Base”. De, de roldão, outros crimes, como tráfico de drogas e assassinatos, são
atribuídos ao religioso.
Para quem não se
lembra, o caso Escola de Base aconteceu há quase 20 anos, em 24 de março de 1994.
Teve como estopim uma reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, que acusava
os donos da Escola de Educação Infantil de Base, de São Paulo, de terem
cometido abusos sexuais contra as crianças que ali estudavam.
O JN deveria ter
anunciado o que realmente havia de concreto até então, ou seja, uma singela investigação
policial. A forma como o caso foi noticiado foi a dica que faltava para que quase
todos os jornais da capital paulista, no dia seguinte, alardeassem o
“famigerado crime”, condenando os acusados antes de qualquer julgamento formal.
Os donos da
escola, Icushiro Shimada, Maria Aparecida Shimada, Mauricio Alvarenga e Paula
Milhim Alvarenga tiveram suas vidas destroçadas. Tal como ocorre agora com o
pastor Marcos. No primeiro caso, um dos jornais chegou a estampar como manchete
de primeira página o título “Kombi era motel de escolinha do sexo”.
Os
acusados viveram o que se pode chamar de inferno de Dante. Foram presos,
fotografados e expostos na mídia. Sem dó nem piedade. Não passavam de estupradores
de criancinhas indefesas. Depois disso, as investigações enveredaram por outras
vertentes, chegando à conclusão de que nada havia de verdadeiro em todas as
acusações.
Existe,
porém, uma diferença ímpar nos dois casos. Enquanto ninguém tinha mais coragem
de mandar seus filhos para a bendita Escola Base, em São Paulo, no Rio de
Janeiro, o que não falta, hoje, é quem defenda o pastor Marcos Pereira. Mesmo
as pessoas que o acusaram na Polícia, publicaram vídeos no Yotube dando o dito
por não dito.
O
certo é que, para tirar a limpo todo esse possível imbróglio – ou confirmar as
denúncias de vez –, as investigações precisam continuar. Inadmissível é que o
pastor seja mantido no cárcere, sem que tenha havido uma condenação formal. Por
enquanto, as investigações prosseguem.
Parece
haver dois pesos e duas medidas na Justiça brasileira. Veja-se o caso dos mensaleiros.
Por que o líder da quadrilha, o ex-ministro José Dirceu, não está puxando
cadeia, a exemplo de Marcos Pereira?
Dirceu
e todos os asseclas – políticos ou não – foram julgados e condenados pela mais
alta Corte de Justiça do País. Não há mais dúvidas quanto à culpa de todos. Já
Marcos Pereira, ainda pode sair-se ileso das acusações. Quem devia estar na
cadeia?
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