Isaltino Gomes Coelho Filho
Desde cedo entendi que a vida cristã era engajamento na obra de Cristo, senso de utilidade, servir a Deus. Eu era um adolescente com muitos problemas, mas quis ser útil a Deus. Entendi que este era o conceito de ser servo. O cristianismo evangélico de hoje me deixa, em muitos momentos, frustrado. O conceito de servo se esvai cada vez mais e as pessoas querem ser adoradoras. É mais fácil e mais agradável ser adorador que ser servo. A pessoa externaliza suas emoções e procura se sentir bem. Inclusive, para muita gente, o bom culto é aquele em que a pessoa se sentiu bem, e não aquele em que o evangelho foi fielmente exposto. O foco é a pessoa. Quando se é servo, a preocupação não é agradar-se, mas agradar a Deus. O foco é ele.
Não quero por sobre mim o foco, mas quando o Pr. Benildo Veloso da Costa, de Belém, pregando no 42º. aniversário da igreja que sirvo me perguntou como Meacir e eu nos adaptamos à cidade de Macapá, disse-lhe que isto era um ato de culto a Deus. Nossa presença aqui é para nós um modo de cultuá-lo. Culto é serviço e obediência, desejo de ser um instrumento, e não apenas catarse, a liberação de emoções, em um período de atividades religiosas comandadas por alguém.
Por isso fiquei indignado com uma pessoa que me perguntou se, vindo para a igreja a que sirvo ela seria mais abençoada que na sua. Simplesmente lhe disso: “Por favor, não venha para esta igreja. Você não é o tipo de ovelha que desejo ter”. Alguns poderão me achar grosseiro, mas as ovelhas “têm direito” de escolher pastor e “têm direito” de escolher igreja. Por um momento, concedam a um pastor o direito de “escolher” ovelha. Porque a visão desta pessoa destoa de todo o ensino neotestamentário, que é amar e servir a Cristo. Não é como o Espírito Santo tem me orientado a formatar as igrejas que pastoreio.
As pessoas têm suas expectativas de como Deus deve abençoá-las. De como sua igreja deve servi-las. De como as demais pessoas da igreja devem se encaixar em sua perspectiva de vida. Elas fazem seu “mundinho” e se abespinham quando algo perturba seu universo pessoal, a sua zona de conforto. Mas nem sempre se preocupam com a expectativa de Deus com respeito a elas, nem com a expectativa da sua igreja para com elas. Quando alcançou Saulo de Tarso no caminho de Damasco, Jesus manifestou-lhe suas expectativas para com a vida de Paulo. Este o serviria e sofreria por ele, mas levaria seu nome perante os gentios e as grandes autoridades. Saulo foi Paulo, o apóstolo que fincou o evangelho no mundo não judeu, porque atendeu às expectativas de Deus para sua vida. Foi útil.
Uma vez ouvi uma música evangélica em que o cantor gritou para o baterista: “Glorifica, Fulano!”, pedindo-lhe para bater mais forte na bateria. Glorificar a Deus é mais que cantar num culto e espancar um instrumento. É, com humildade, servi-lo, buscar ser-lhe útil, lutar para fazer o nome de Jesus ser conhecido. Isto não exclui o culto, que deve levar a mensagem da cruz com testemunho, com pregação, com cânticos. Mas é, acima de tudo, levantar bem alto a cruz de Jesus para que o mundo veja. É mais que emoções, mais que gestos litúrgicos e que repetir palavras de ordem. É dedicação e serviço.
Você atende às expectativas de Deus para sua vida? É útil? Qual é sua expectativa como cristão: ver o triunfo do evangelho ou ser abençoado? Desejar ser abençoado é normal, e não é pecado. Mas quando ser abençoado vem antes de honrar a Jesus, alguma coisa está errada. A expectativa é o bem estar da pessoa e não a glória de Cristo.
Que nossas expectativas sejam ver a mensagem da cruz triunfar em todos os lugares do mundo! Quando isto vier em primeiro lugar, as demais coisas se ajeitarão (Mt 6.33).
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