sábado, 9 de março de 2013

EXPECTATIVAS

Isaltino Gomes Coelho Filho

Fui batizado no dia em que completei 15 anos. Poucos dias depois entrei numa livraria evangélica, na Rua da Constituição, no centro do Rio (não o Amazonas em cujas margens moro, mas o de Janeiro) e comprei meu primeiro livro evangélico: “O que Deus espera de você”. Infelizmente não o tenho mais, porque o emprestei e não me devolveram (início da triste sina!) nem o encontrei mais para compra. Gostaria de relê-lo um dia, para ver como eu pensava quando tinha 15 anos. Porque o livro me marcou muito, na época.


Desde cedo entendi que a vida cristã era engajamento na obra de Cristo, senso de utilidade, servir a Deus. Eu era um adolescente com muitos problemas, mas quis ser útil a Deus. Entendi que este era o conceito de ser servo. O cristianismo evangélico de hoje me deixa, em muitos momentos, frustrado. O conceito de servo se esvai cada vez mais e as pessoas querem ser adoradoras. É mais fácil e mais agradável ser adorador que ser servo. A pessoa externaliza suas emoções e procura se sentir bem. Inclusive, para muita gente, o bom culto é aquele em que a pessoa se sentiu bem, e não aquele em que o evangelho foi fielmente exposto. O foco é a pessoa. Quando se é servo, a preocupação não é agradar-se, mas agradar a Deus. O foco é ele.

Não quero por sobre mim o foco, mas quando o Pr. Benildo Veloso da Costa, de Belém, pregando no 42º. aniversário da igreja que sirvo me perguntou como Meacir e eu nos adaptamos à cidade de Macapá, disse-lhe que isto era um ato de culto a Deus. Nossa presença aqui é para nós um modo de cultuá-lo. Culto é serviço e obediência, desejo de ser um instrumento, e não apenas catarse, a liberação de emoções, em um período de atividades religiosas comandadas por alguém.

Por isso fiquei indignado com uma pessoa que me perguntou se, vindo para a igreja a que sirvo ela seria mais abençoada que na sua. Simplesmente lhe disso: “Por favor, não venha para esta igreja. Você não é o tipo de ovelha que desejo ter”. Alguns poderão me achar grosseiro, mas as ovelhas “têm direito” de escolher pastor e “têm direito” de escolher igreja. Por um momento, concedam a um pastor o direito de “escolher” ovelha. Porque a visão desta pessoa destoa de todo o ensino neotestamentário, que é amar e servir a Cristo. Não é como o Espírito Santo tem me orientado a formatar as igrejas que pastoreio.

As pessoas têm suas expectativas de como Deus deve abençoá-las. De como sua igreja deve servi-las. De como as demais pessoas da igreja devem se encaixar em sua perspectiva de vida. Elas fazem seu “mundinho” e se abespinham quando algo perturba seu universo pessoal, a sua zona de conforto. Mas nem sempre se preocupam com a expectativa de Deus com respeito a elas, nem com a expectativa da sua igreja para com elas. Quando alcançou Saulo de Tarso no caminho de Damasco, Jesus manifestou-lhe suas expectativas para com a vida de Paulo. Este o serviria e sofreria por ele, mas levaria seu nome perante os gentios e as grandes autoridades. Saulo foi Paulo, o apóstolo que fincou o evangelho no mundo não judeu, porque atendeu às expectativas de Deus para sua vida. Foi útil.

Uma vez ouvi uma música evangélica em que o cantor gritou para o baterista: “Glorifica, Fulano!”, pedindo-lhe para bater mais forte na bateria. Glorificar a Deus é mais que cantar num culto e espancar um instrumento. É, com humildade, servi-lo, buscar ser-lhe útil, lutar para fazer o nome de Jesus ser conhecido. Isto não exclui o culto, que deve levar a mensagem da cruz com testemunho, com pregação, com cânticos. Mas é, acima de tudo, levantar bem alto a cruz de Jesus para que o mundo veja. É mais que emoções, mais que gestos litúrgicos e que repetir palavras de ordem. É dedicação e serviço.

Você atende às expectativas de Deus para sua vida? É útil? Qual é sua expectativa como cristão: ver o triunfo do evangelho ou ser abençoado? Desejar ser abençoado é normal, e não é pecado. Mas quando ser abençoado vem antes de honrar a Jesus, alguma coisa está errada. A expectativa é o bem estar da pessoa e não a glória de Cristo.

Que nossas expectativas sejam ver a mensagem da cruz triunfar em todos os lugares do mundo! Quando isto vier em primeiro lugar, as demais coisas se ajeitarão (Mt 6.33).

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