terça-feira, 29 de novembro de 2011

Magno Malta: “Meu partido está ‘assim’ de homossexual”

Enquanto discursava contra a aprovação do projeto de lei que criminaliza a chamada homofobia, o senador Magno Malta se esforçou para dizer que não tem nada pessoal contra os gays.

E se empolgou: contou ter sido atendido por cinco cabelereiros homossexuais antes do casamento de sua filha, mostrou uma foto em que aparece abraçado ao travesti Moa, vereador pelo PR em Nova Venécia (ES).

E ainda garantiu que o colega de legenda não é exceção: “O meu partido está ‘assim’ de homossexual”, disse ele. As declarações foram dadas nesta terça-feira em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado.

Bispo ‘importa’ índios para Raposa Serra do Sol

Em ação incentivada por um bispo Aldo Mogiano, índios de diversos países sul-americanos estão sendo levados para a reserva Raposa Serra do Sol, no Estado de Roraima, para fazer número e dar ideia de “ocupação”. A região, grande produtora de arroz, foi transformada em nova fronteira de fome, desemprego e alcoolismo, depois que os agricultores foram expulsos por decisão do Supremo Tribunal Federal.

Esperteza antiga

Índios estrangeiros sempre foram levados a ocupar áreas reivindicadas para demarcação, mas eles eram arregimentados apenas na Guiana.

Bye, bye, Brasil

O tal bispo Mogiano criou no passado uma “Aldeia da Demarcação”. Os índios importados se articulam em novas “nações independentes”.

Vida boa

Protegidos pela Funai, índios estrangeiros usufruem de assistência de dentistas, médicos, remédios e até avião para emergências médicas.

Transcrito da coluna Claudio Humberto, de hoje

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

IGREJAS EM BUSCA DE RELEVÂNCIA

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

Apresentado à 12ª. Assembléia da COBAP, Convenção Batista Amapaense, na Terceira Igreja Batista de Santana, em 19.11.11.

INTRODUÇÃO

Igrejas em busca de relevância se tornou uma preocupação na mente de tanta gente que dá vontade de perguntar: como elas sobreviveram até hoje, num mundo tão competitivo, sendo irrelevantes? Numa sociedade secularizada e massificada por valores contrários aos das igrejas, como elas ainda existem, crescem e ainda preocupam tanta gente que se sente incomodada com elas? Parece que igreja é o negócio mais irrelevante do mundo e que alguns descobriram agora como torná-la relevantes, funcionais e interessantes.

Não creio que a questão por trás de tudo seja relevância ou sua ausência. Há outras mais. Pretendo mostrar isto neste trabalho. E também mostrar que esta preocupação não tem sentido.

1. DEFININDO TERMOS

A questão se torna mais aguda quando tentamos entender o que se quer dizer com isso. Porque relevância não é contemporaneidade. É importância. Neste sentido, se quer se dizer que a mensagem da igreja não é contemporânea, é verdade. Mas é importante. Porque importância não é contemporaneidade, mas ter valor ainda hoje. Quem queira dizer que sua mensagem não tem importância hoje não aborda mais a questão de forma ou de modelo, mas nega a essência de sua pregação.

Exemplifico para mostrar que relevância e contemporaneidade não são a mesma coisa. Big Brother Brasil é contemporâneo, mas é irrelevante. A medicina, como ciência, não é contemporânea, mas é relevante. A questão me soa mais como um desejo de tornar a igreja contemporânea no mesmo nível e prática de certos eventos que foram assim definidos pela cultura prevalecente. Nossa cultura parece ter voltado ao primitivismo. As pessoas se comunicam mais com o corpo que com a cognição. A cultura do sacolejo, por exemplo, nos produziu algo curioso: a qualquer momento que ligarmos a televisão veremos um grupo musical se sacudindo. Pode ser de baixa qualidade musical, mas se sacoleja, e é exótico, então é contemporâneo. A letra pode ser paupérrima, mas se está envolta em sacolejo, é contemporânea. Isto foi definido como o correto. Tal mentalidade migrou para o eclesiástico. Tudo que é igreja tem um grupo de louvor. Alguns, e tenho visto nas minhas andanças pelo Brasil, de baixíssima qualidade musical. Mas é contemporâneo. Um coral ou um quarteto pode ter excelente qualidade musical, mas é ultrapassado. Como resultado, digo sem titubeio e sem exagero: a qualidade musical de nossos cultos caiu muito, nos últimos anos. É medíocre. Ruim mesmo.

Que relevância querem impor à igreja? Relevância não é quantificável. Nos termos em que está sendo disposta é questão de opinião. Por isso levanto a questão: o que é relevância e por que a igreja deve ter o que chamam de relevância?

2. O X DA QUESTÃO: DE QUE ESTÁ SE FALANDO?

Deu para entender que a questão é esta: de que estão falando? O que querem impingir à igreja? Comecemos pela definição de igreja. Evitarei definição formal e rebuscada. Ela é agência do Reino de Deus. É o aspecto visível do Reino invisível. Sua missão é anunciar Jesus Cristo como Senhor sobre todos os homens. Neste sentido ela é relevante. Ela anuncia a mais importante mensagem que o mundo precisa ouvir. Se o faz adequadamente, se alguns de seus setores se desviam desta linha, é outra questão. O que interessa é isto: como instituição e com a mensagem que tem, a igreja é relevante ou não? Não é se gostamos dela ou não, mas se o evento teológico chamado igreja é relevante ou não. E se seu tema é relevante ou não.

Muita gente tem analisado a igreja por um ângulo secular. Quando morei em Brasília fui o pastor organizador da Igreja Batista da Quadra 02, em Sobradinho. Foi um dos momentos mais agradáveis no meu ministério. A Quadra 02 é um dos meus xodós. Fui seu organizador e primeiro pastor. Foi em 23 de abril de 1988. No dia 25 fui à sede da TERRACAP para ver se havia algum lote disponível, na Quadra 02, para igreja. Fomos organizados em uma escola. O representante da TERRACAP me disse que não havia interesse em vender área para igrejas porque elas subutilizam a propriedade, com reuniões apenas às quartas e domingos. Suas áreas não tinham função social. Como terreno em Brasília era raro (e depois houve tantas invasões de luxo que foram toleradas!) isto não era interessante. Perguntei-lhe por que havia estádios de futebol em Brasília, se lá não havia futebol. Qual era a função social dos estádios de futebol, inclusive o do Sobradinho, onde aconteciam jogos com dez pagantes. Talvez alguns parentes de alguns jogadores. Qual era a função social dos botequins? Quem mais ajudava as pessoas, no sentido de prepará-las para vida, a igreja ou o boteco?

Relevância não se quantifica. Não se mede por quilômetros ou reais conseguidos. Como a mensagem da igreja é espiritual e apela para o espírito do homem (que não se quantifica nem se mede) ela é vista como irrelevante. Mesmo que uma pessoa depravada seja tornada em santa. Mesmo que um criminoso seja regenerado. Mesmo que um drogado se levante ou uma prostituta se torne uma mãe extremosa. Tudo isso são valores não quantificáveis nem mensuráveis. A sociedade valoriza pela quantidade e pelo movimento. Não nos iludamos com isto.

O mundo não pode avaliar o que foi uma alma consolada num culto. As pessoas não ficam sabendo que alguém entrou num culto pensando em suicídio, mas ali foi alcançado pela graça de Deus e saiu com novo ânimo para a vida. Relevância da igreja, para alguns, só acontece se houver um curso de artesanato, um prato de sopa dado a alguém, uma muda de roupa velha dada a outrem, um corte de cabelo feito num mendigo. Porque estas coisas são quantificadas e mensuradas. Não me entendam mal. Essas coisas são boas e as igrejas que as realizam estão fazendo algo bom para a comunidade. São atos bons, mas qualquer organização beneficente pode fazê-los. No entanto, pregar o evangelho que coloca a vida do homem em ordem com Deus só a igreja pode fazer. Nenhuma outra instituição pode. Esta é a relevância da igreja! Esta é sua singularidade! Esta é uma das razões pelas quais sou apaixonado por igreja. Ela é fantástica!

Quando se discute o tema “igrejas relevantes”, estamos falando mesmo de relevância ou de uma adequação da igreja a uma ótica mundana esposada por alguns, que a contemporaniza? Ela pode ser relevante sem ter essa contemporaneidade. Mas pode ser contemporânea e ser irrelevante. Pode ter artesanato, sopa e corte de cabelos, mas ser, como igreja, irrelevante. A relevância da igreja vem de sua mensagem. Se ela proclama a salvação pela fé em Cristo, ela é relevante. Se ela chama os homens a se reconciliarem com Deus por meio de Jesus ela é relevante.

3. UM EQUÍVOCO NA AVALIAÇÃO DA IGREJA

Desdobro o argumento: o equívoco está na ONGuização da igreja. Na atribuição de muitos fatores sociais a ela, fatores que não são errados, mas são acessórios e não a sua essência. No equívoco de vê-la mais como organização social, que deve preencher áreas sociais da vida não atendidas pelo poder público, que como agência proclamadora do Reino. E digo Reino nos moldes do proposto por Jesus e não como o resultado de acréscimo de coisas que puseram no termo. Há um blábláblá enorme sobre Reino no discurso teológico latino americano de esquerda. Falo de Reino como os evangelhos falam. E parece que quem não tem o acessório, mas só o fundamental, é visto como irrelevante e pregador de evangelho descarnado.

Nada também contra as ONGs, por favor. Sei que evangélicos têm uma imensa capacidade de colocar na boca dos outros palavras que os outros não disseram (ou escreveram – apenas 24% dos brasileiros conseguem decodificar um texto). O que digo é isto: a missão precípua de uma igreja não é prover assistência social nem lazer e entretenimento para jovens. Ou cuidar de animais de rua (eu mesmo estou me engajando em uma ONG para cuidar de animais de rua, em Macapá). Estou usando ONG como figura pelo seu aspecto social, e pela sua estrutura, de comunas, como a igreja local. Elas têm uma utilidade pública por causa do seu escopo social.

O terreno é minado e vou andar por ele com cuidado. Mas vou andar. O noticiário político (deveria ser policial) nos mostra ONGs que foram criadas para sugar dinheiro do Estado. Trambique puro. Fiel ao seu viés marxista de ter um Estado forte que domine tudo (o Estado brasileiro quer até ensinar os pais a não darem palmadas nos filhos), o Ministro Aldo Rabelo quer menos ONG e mais Estado. O problema não são as ONGS, e sim que corruptos encontraram brechas na lei e criaram ONGs de fachada para seus fins escusos. E alguns desses corruptos fazem parte do Estado. Elas cumprem um papel extraordinário. Suprem lacunas do Estado, são mobilização popular, têm mobilidade administrativa. Elas são um fenômeno social fantástico.

Mas a igreja é diferente. Sua utilidade (se podemos usar este termo) deve ser percebida de outro ângulo. A relevância da igreja reside em ela cumprir a missão para a qual foi destinada. Eis Atos 2.38: “Pedro respondeu: – Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para que os seus pecados sejam perdoados, e vocês receberão de Deus o Espírito Santo”. Eis 2Coríntios 5.20: “Portanto, estamos aqui falando em nome de Cristo, como se o próprio Deus estivesse pedindo por meio de nós. Em nome de Cristo nós pedimos a vocês que deixem que Deus os transforme de inimigos em amigos dele”. Esta é a missão da igreja.

4. UMA PROPOSTA DE CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO DA RELEVÂNCIA DA IGREJA

Começo de maneira apologética. Quem transformou mais pessoas que Jesus Cristo? Quem recuperou mais vidas, ao longo da história? Quem tirou mais gente da lama?

Trabalhando com pessoas com problemas de álcool e drogas, fiquei conhecendo muito do trabalho dos Alcoólicos Anônimos. É sério e fantástico e tem ajudado muita gente. Os AA não querem entrar em competição com ninguém, sei disso. Mas, com respeito a eles, Jesus fez mais que eles para tirar pessoas do vício.

Pessoas que são regeneradas pelo poder do evangelho são novas criaturas. Se a igreja quiser ser mesmo relevante, que pregue Jesus Cristo, poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. Estamos assumindo um complexo de inferioridade em relação ao mundo, e muitos de nós não cremos mais que pregar Jesus Cristo, o poder de Deus que salva, regenera e muda para sempre é a mais importante coisa que se pode fazer. Em muitas igrejas o louvor é mais importante, e em muitos cenários a igreja é direcionada para o poder político e social. Nossa relevância vem daqui, e este é o critério correto: só o evangelho pode transformar pessoas e a sociedade. O resto são folhas de parreira para esconder os resultados do pecado.

Neste sentido, nada é mais relevante à igreja que cumprir sua missão, não a descrita pelos missiólogos, mas a estabelecida pelo Senhor Jesus, e bem descrita na Grande Comissão: “Então Jesus chegou perto deles e disse: – Deus me deu todo o poder no céu e na terra. Portanto, vão a todos os povos do mundo e façam com que sejam meus seguidores, batizando esses seguidores em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a obedecer a tudo o que tenho ordenado a vocês. E lembrem disto: Eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28.18-20)..

Mas recordo uma palavra de A. W. Tozer: “É falsa a concepção de que a primeira missão da igreja é anunciar o evangelho. Sua primeira missão é ser espiritualmente digna de fazê-lo”. Igrejas fracas, sem autoridade espiritual, que pregam um cristianismo folgazão e de entretenimento, divulgarão um evangelho falso. Há muita gente querendo que a igreja seja amigável. Há até um livro com este título, Igrejas amigáveis. Recordo uma frase de Haroldo Reimer: “A igreja não está no mundo para fazer relações públicas, mas para entregar um ultimato”. Ela chama os homens a deporem as armas e se renderem a Cristo. Como disse Douglas Webster: “O pecador não é um coitado, mas um rebelde de armas nas mãos contra Deus”. Ao invés de seguir George Barna, que ela siga Abraão e seja amiga de Deus.

Queremos igrejas relevantes? Elas serão relevantes na medida exata em que compreenderem bem para que existem, qual sua missão, qual sua mensagem, e estabelecerem suas prioridades. Evangelismo e missões são suas prioridades. Se elas perderem isto, poderão ser relevantes ao mundo, mas irrelevantes para Deus.

CONCLUSÃO

Citei Abraão e vou encerrar por ele. Quando chegava numa cidade, o velho patriarca, antes de tudo, levantava um altar de pedras para Deus. Depois, para si, fazia tendas. Para Deus a prioridade e o duradouro. Para si, o secundário e o temporário. Nós construímos mansões para nós e investimos pouco em vidas. Não investimos mais em missões e evangelismo, que rendem frutos para a eternidade. Gastamos mais com patrimônio que com missões. Gastamos mais com futilidades pessoais que com o Reino.

Abraão foi relevante. Porque foi fiel à sua chamada. Igreja relevante é aquela que é fiel à sua chamada, que é pregar Jesus como Senhor, e não a que se contenta em ser trampolim para eleger políticos ou pretexto para pessoas formarem império econômico. Da mesma maneira, o pastor relevante não é que se preocupa em escrever seu nome em gás néon, mas em exaltar o nome de Jesus. É aquele cujo tema predileto não seja ele mesmo (há gente que só consegue falar de si mesma!), mas Jesus Cristo. “Eu me propus a não saber nada entre vós, a não ser Jesus Cristo, e este crucificado” (1Co 2.2).
Eu os desafio a serem obreiros relevantes e a formatarem igrejas relevantes. Pela ótica neotestamentária e não pela ótica do mundo.
Tenho dito. E era o que eu tinha a dizer.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Queimadas em Roraima

Entrincheirado em algum lugar da região amazônica, Wank Carmo manda notícias. Más notícias. Seus despachos chegaram até alguns blogues dedicados à fotografia (como o de Clicio Barroso) e seu trabalho saiu na revista de Bob Wolfenson. A mensagem é curta e grossa: a Amazônia está queimando. Andarilho em busca de uma causa, esse carioca de 55 anos vive em Boa Vista, capital de Roraima, depois de bater perna por quase todo o país. Discípulo de Cartier-Bresson e de Sebastião Salgado, Wank está empenhado num ativismo solitário: denunciar a destruição da floresta e os responsáveis por isso. "Vou continuar fotografando e provando que esses caras são inimigos da raça humana", promete.

O texto acima é do jornalista Alcides Mafra, da Photo Magazine. Boa leitura. Matéria completa na edição impressa.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Texto de Ouro:

"Justo és, Senhor, em todos os seus caminhos, e benigno em todas as suas obras. Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade. Ele cumpre o desejo dos que o temem; ouve o seu clamor, e os salva."

(Salmos 145: 17-19)

Como é bom morar em Boa Vista ou "Vai morar em Porto Velho, vai..."

Por Francisco Espiridião

Mês passado, fomos convidados a participar da festa de aniversário duplo de 50 anos dos amigos gêmeos Sábio, na região da serra de Tepequém. Era um sábado. Chegamos à fazenda por volta das 16h. Muitos conhecidos, antes de nós. A maioria se refrescava na barragem com pinta de piscina feita num privilegiado ponto do córrego que serpenteia defronte à casa grande da propriedade. Uma delícia.

Eu e Eliana, depois de cumprimentarmos a Glória, anfitriã, conversarmos um pouco e decidimos, então, subir a serra e dar uma espiada no que restou daquela que foi uma das corruptelas de garimpo mais movimentadas do então território federal, isso até meados dos anos 1980. Subida íngreme, porém, agora, suavizada pela existência providencial do asfalto de boa qualidade.

Lá no topo, antes de começar a descer do outro lado, a Eliana me mostra algumas incidências virtuais (a palavra está na moda), ou seja, “aqui era o posto de saúde, ali ficava a delegacia de polícia, lá deveria existir aquilo, e mais adiante aquilo outro...”. Desnecessário dizer, tudo o maior deserto. Mostrou-me o local exato em que ficava a casa do falecido velho Valter Matos, seu pai, num vale escondido detrás de pequena serra.

Enquanto a gente roda pela estrada, agora de piçarra, a certa altura ela diz, abrupta:

- Para aqui! É aqui mesmo.

- O quê, mulher?

- O cemitério, onde minha santa mãezinha foi enterrada (em meados dos anos 1960).

Vegetação rasteira. Duvidei que ali pudesse ter sido um dia a cidade dos mortos. Mas era. Uma cruz baixinha denunciava que Eliana tinha razão. Boa memória! Saiu de lá menina ainda e, durante todo esse tempo, trazia na mente o croqui exato do extinto povoado.

Esse fato ficou martelando o meu juízo, até me despertar a que também fizesse viagem de volta às origens. Rondônia. Saí de lá faz mais de 36 anos. Voltei uma única vez, em 1978. Estou decidido: comprei até passagem de ida e volta, para pagar em seis prestações – sem juros. O tour será em maio do ano que vem, mas faz alguns dias que venho buscando informações de lá por meio do Google.

Descobri que o mar não está pra peixe por aquelas bandas. Artigo assinado por um professor, publicado no dia 11 deste mês de novembro, no site Gente de Opinião (www.gentedeopiniao.com.br), mostra a dura realidade. Começa pelo título: “Nosso Auschwitz rondoniano”.

Porto Velho mantém o pior hospital de pronto-socorro do País, o hospital João Paulo Segundo; de acordo com levantamento feito pelo Instituto Trata Brasil, a capital ostenta o título nada honroso de cidade mais suja do Brasil, além de dispor de apenas 1,2 por cento de saneamento básico e de menos de 3 por cento de água tratada nas residências.

As mazelas não param por aí. Mas, creio, não vale a pena desfiar todo o novelo de agruras enfrentado pela população daquele meu estado natal. O articulista diz que, para completar, “só falta cair sobre a cidade uma chuva de fezes”. A realidade é de cortar coração.

Aí fico a pensar que nós, boa-vistenses, moramos no paraíso. Boa Vista tem esgoto sanitário em nada menos que 60% das residências; água tratada – de excelente qualidade – em 100% das moradias; é uma das cidades mais limpas do Brasil. Tá bom, nesse quesito cabe um senão: hoje já não se pode dizer tanto assim, em razão dos buracos nas ruas, especialmente na periferia. Mas isso é o de menos.

A terra de Makunaima tem problemas? Tem. Mas, nem tanto. Esperar por perfeição, afinal, é coisa de lunático. Mesmo assim, por qualquer ângulo que se veja, o nosso querido Roraima está longe de ser o que se quer fazer crer: um estado em fase terminal.

Para quem estiver incomodado em viver nesta Boa Vista querida, uma recomendaçãozinha básica: que vá morar em Porto Velho.

A cruz solitária

Solitária cruz perdida em meio à vegetação rasteira, no mais alto da serra de Tepequém. Para descobrir esse que eu considero um achado arqueológico é necessário, antes de tudo, a sensibilidade, o desejo de reencontrar o tempo que se perdeu na névoa que envolve a paisagem paradisíaca.

Rompendo as agruras das efemérides, a cruz solitária indica que ali, em tempos de outrora, fora um campo santo a guardar sonhos e esperanças que se desfizeram nas sombras de uma vida severina, plagiando João Cabral de Melo Neto.

Outras covas devem permanecer dormitando sob o denso tapete verde-seco. A foto faz parte do acervo do amigo fotojornalista Bruno Garmatz, que, gentilmente, me cedeu para ilustrar parte da história que conto no post acima.

domingo, 20 de novembro de 2011

Os donos do Brasil

A pesquisa do IBGE mostrando que metade dos brasileiros tem renda per capita de até R$ 375 derruba o slogan do governo “País rico é país sem miséria”. Deveria mudar para “País rico é país com banqueiros”. (Transcrito da Coluna Claudio Humberto)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

ACONSELHAMENTO PASTORAL OU ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO?

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

1. QUESTÃO PRELIMINAR

Esta é a primeira questão que desejo considerar: o que estudaremos será aconselhamento pastoral ou aconselhamento bíblico? Muitos pastores têm se travestido de psicólogos e, nesta disciplina, muitos seminários têm se preocupado mais com aconselhamento psicológico que pastoral. Freud, Adler, Mortimer, Jung, Erickson e outros têm tomado o espaço da Bíblia. Pessoalmente, vi um professor da disciplina ironizar a Bíblia, quando depreciava seu ensino para formação do caráter e para resolução dos problemas emocionais das pessoas. Para ele, a área espiritual nada tinha a ver com a emocional e psicológica. A Bíblia podia ser usada para outras coisas, mas para o aconselhamento, ele, particularmente, “usava a ciência”. E segundo ele, este era o erro de muitos pastores “fundamentalistas”, o de prenderem-se à Bíblia e aos princípios e valores cristãos. Só a “ciência” podia ajudar as pessoas. Contraditoriamente, este professor era pastor, e aos domingos pregava sobre a autoridade e a suficiência das Escrituras, do púlpito que ocupava. Parece que tanto a autoridade quanto a suficiência eram parciais. Ou sua teologia era esquizofrênica.

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terça-feira, 15 de novembro de 2011

domingo, 13 de novembro de 2011

USA, SENHOR

Futucando a internet nesta noite, encontrei, por meio do Google, este site de cânticos e hinos antigos. Agora, que estou sozinho na frente do computador, posso soltar essa minha "linda" voz em louvor a Deus. Que maravilha! 
 
Usa, Senhor, todo o meu ser pra teu louvor 
Mãos pés e voz, tudo consagro a Ti. 
Não há no mundo nada melhor 
Que dia-a-dia trabalhar por Jesus
Por isso tudo te entrego, ó Deus,
Enquanto neste mundo eu viver,
Usa, Senhor, todo o meu ser, pra teu louvor 
Mãos pés e voz, tudo consagro a Ti.

sábado, 12 de novembro de 2011

TUA GRAÇA ME BASTA.

Eu não preciso ser reconhecido por ninguém
A minha glória é fazer com que conheçam a Ti
E que diminua eu pra que Tu cresças,Senhor, mais e mais
E como os serafins que cobrem o rosto ante a Ti
Escondo o rosto pra que vejamTua face em mim
E que diminua eu pra que Tu cresças,Senhor, mais e mais 
No Santo dos santos a fumaça me esconde
Só Teus olhos me veêm
Debaixo de Tua asas é meu abrigo
Meu lugar secreto
Só Tua graça me basta
E Tua presença é meu prazer 
Tua presença,
Tua presença é o meu prazer...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Deus seja louvado!

Estou terminando a leitura da Bíblia de capa a capa, mais uma vez. Faltam apenas seis capítulos de Apocalipse.

Confesso que este ano fui um tanto relapso. No ano passado, os fogos de artifícios foram acesos ainda no mês de agosto.

Mas é impressionante como a Palavra de Deus é viva e eficaz. A cada leitura que faço, descubro preciosidades que passaram batidas nas leituras anteriores.

Os Evangelhos são impressionantes, pelo jogo de esconde feito por Jesus. "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!". Para entendê-los, é necessário o auxílio do Espírito Santo e muita meditação.

Certa vez, pregando em nossa igreja, o Pastor Isaltino Gomes disse que, para entender um texto para pregar, precisava lê-lo e relê-lo por pelo menos umas 50 vezes.

E creio ser verdade, porque, a cada leitura que faço de trechos das Sagradas Escrituras, descubro coisas novas, construo linhas de raciocínio que me levam a entender com mais profundidade o querer de Deus para a minha vida.

É por isso que eu tenho mais é que repetir, alto e bom som: "Deus é o nosso (meu) refúgio e fortaleza, socorro bem presente no momento de tribulação" (Salmo 46.1). Soli Deo Glória!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Na terra dos bois, o Cordeiro triunfa

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho, líder da Igreja Batista Central de Macapá 

Voltei a Parintins, após catorze anos. Fui pregar nos 15 anos da 2ª. Igreja, pastoreada pelo Pr. Antonio. Templo grande, com ar condicionado, freqüências ao redor de 300 pessoas. Reencontrei o Elmer, filho do Pr. Lessa, o homem que implantou o evangelho na ilha, há mais de meio século. Hoje é o Pr. Elmer, da PIB. A família Lessa foi perseguida e até atentado de morte sofreu. A PIB de Parintins se aproxima dos 1.000 membros. O Colégio Batista vai bem, e não está endividado.


Quando o Pr. Elmer era adolescente fizemos uma viagem louca à aldeia saterê na reserva Vila Nova. Os rios transbordavam e a água batia na copa das árvores. Ele, eu, o Brilhante (hoje pastor) e o Dr. Joel Afonso (PIB de Manaus) para tratar dos índios. Fui como Presidente da Convenção Batista do Amazonas. Fora sido lançado o NT em saterê e agora se lançavam Gênesis e Êxodo. Recebemos a Igreja Saterê, com 40 membros, no seio da Convenção. No ano seguinte, presidi a assembléia convencional, em Parintins. A Igreja estava com 120 membros e seu exuberante coral se apresentou, cantando em saterê.

Parintins é a terra dos bois Garantido e Caprichoso, que já foram folclore e hoje são indústria cultural. Seu clima é úmido e muito quente. Tudo é distante e difícil. Por isso não fui a Nhamundá ver o amigo Brilhante. Os rios baixaram, não há lancha a jato, só o barco de linha. Em vez de duas horas seriam oito e eu perderia os vôos (ao todo, oito horas em aviões de hélice até chegar a Macapá). O resultado da festa do boi não tem a plástica televisiva: mães solteiras, filhos sem pais, drogas, violência. Aqui, literalmente, o Bicho (aquele!) pega.

O Pr. Elmer me disse que o Pr. Alberto Graham, tradutor da Bíblia para o idioma saterê havia falecido, nos EUA. Sua esposa, Sue, trouxe suas cinzas e as sepultou na aldeia, ao lado do ex-tuxaua da tribo, pai do Pr. Maxyko, nativo da aldeia. Suas cinzas repousam na aldeia do povo que ele amou. Ele ressuscitará com os saterês salvos.

As igrejas crescem, têm congregações, treinam liderança entre os ribeirinhos e os indígenas. Com lutas, dificuldades, escassez de gente treinada e de recursos financeiros, a obra segue. Homens como o Pr. Lessa (um dos “monstros sagrados” da obra batista no Brasil), Pr. Graham, Pr. Élmer, Pr. Brilhante, Pr. Antonio (2ª. de Parintins) fazem-na andar, sendo instrumentos de Deus. Enquanto houver gente assim, o evangelho continuará crescendo. Nem o Bicho nem os bois impedem o avanço do Cordeiro.

Histórias do povo de Deus na Amazônia. Histórias que edificam. Por elas digo Uaco sesse Tupana. Se o saterê não me falha (metido!): Obrigado muito forte, meu Deus! Vale a pena trabalhar aqui!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ações integram Operação Rio Branco, da 1a. BIS

A 1a Brigada da Infantaria de Selva (1a Bda Inf Sl) encontra-se, desde 31 de outubro, realizando operações conjuntas com a PF, PRF, FUNAI, IBAMA e ICMBio na faixa de fronteira com o objetivo de coibir ilícitos transfronteiriços e ambientais. Estão sendo realizadas, também, ações de apoio médico e odontológico em diversas comunidades do arco amazônico em Roraima.

Para essas atividades a 1a Bda Inf Sl tem empregado cerca de 800 militares de suas organizações militares subordinadas, sendo uma companhia do 1º Batalhão de Infantaria de Selva Aeromóvel (1º BIS), aeronaves do 4º Batalhão de Aviação do Exército e militares da 3a Companhia de Forças Especiais, sediados em Manaus-AM.

No âmbito da 1a Bda Inf Sl, o 1º BIS está realizando o controle dos principais eixos de acesso aos municípios de NORMANDIA e de BONFIM, coibindo a ocorrência do descaminho, do contrabando e a entrada de drogas a partir da Guiana para o território Brasileiro.

O 12º Esquadrão de Cavalaria Motorizado realiza emprego similar na porção norte de Estado, na fronteira do Brasil com a Venezuela, atuando contra os ilícitos transfronteiriços na BR 174 e na Terra Indígena São Marcos.

Yanomami - O Comando de Fronteira Roraima/ 7 º Batalhão de Infantaria de Selva tem sido empregado ainda na Terra Indígena Yanomami para identificar e desativar garimpos e pistas de pouso clandestinas, além de fiscalizar a presença ilegal de estrangeiros nessa área. Tem realizado, também, patrulhas na faixa de fronteira com a Guiana, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, coibindo a entrada de drogas e a ocorrência de garimpo em solo brasileiro.

O 10 º Grupo de Artilharia de Campanha de Selva tem sido empregado no sudeste de Roraima, nos municípios de Rorainópolis, São Luís do Anauá, São João da Baliza, Caroebe, distrito de Entre-Rios, realizando patrulhas até a divisa do Estado de Roraima com o Pará. Nessa região, tem recebido o apoio da Polícia Federal, do IBAMA e do ICMBio na coibição de ações de desmatamento ilegal, garimpo, contrabando de armas e munições.

Nesta primeira semana de operações, foram retirados 13 garimpeiros da Terra Indigena Yanomami, identificadas e desativadas oito balsas nas regiões do rio Couto de Magalhães e Homoxi, que foram alvo de denúncia, recentemente, pelo Fantástico da Rede Globo. Foram realizadas outras diversas ações de patrulha que levaram à desativação de mais de 20 pontos de garimpo, além da interdição de pistas clandestinas.

Do norte ao leste de Roraima, estão sendo patrulhados cerca de 12.000 km de eixos, estabelecidos pontos de controle desde as rodovias federais até as vicinais, tendo sido até o momento apreendidos 2.500 L de combustível.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Texto de apresentação do livro Histórias de Garimpo

Para começar, um punhado de prosa


Este livro não tem a pretensão de estabelecer um tratado – mínimo que seja – ou mesmo criar certezas absolutas sobre o conturbado assunto garimpo em terra indígena. O leitor verá, no máximo, que alguns questionamentos levantados dizem respeito à realidade de Roraima, terra que tem como seu principal mo-numento a escultura de um garimpeiro com sua bateia, plantada no mais importante logradouro da capital, a Praça Joaquim Nabuco, no Centro Cívico.

E mais: que essa realidade não se atém apenas a fatos contemporâneos, incluindo-se aí a recente decisão tomada solenemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de homologar em área contínua a internacionalmente cobiçada Reserva Indígena Raposa-Serra do Sol, localizada a nordeste do Estado, numa extensão de 1,746 milhão de hectares. Verá, também, que argui, principalmente, reminiscências de tempos outros.

Conforme o título da obra sugere, a ênfase será dada à extração manual de minérios, com maior importância para o ouro de aluvião, uma das atividades econômicas mais pujantes ao longo do século passado, especialmente no seu último quartel, mas que se vê presente em toda a história de Roraima, desde a sua gênese, a exemplo de garimpeiros históricos como Severino Pereira da Silva, o lendário Severino Mineiro (1853-1950), lídimo fundador do agrupamento populacional que dera origem à atual cidade de Uiramutã, até os dias que marcam o início da segunda década do presente século.

Como parêntese, vale aqui lembrar que o ícone Severino Mineiro permanece vivo na pessoa de descendentes ilustres, entre estes, os jornalistas Paulo Tadeu Franco das Neves e Florany Mota, ex-prefeita de Uiramutã.

Não à toa, a tradição roraimense mostra o extrativismo mineral, com especialidade para a lavra de diamantes em seus primórdios, como uma das principais razões da crescente densidade demográfica verificada nestas paragens.

O assunto traz à memória, imediatamente, pelo menos três locais pioneiros onde a atividade garimpeira dava o tom da batida: o rio Maú, que marca a fronteira entre Brasil e a atual República Cooperativista da Gui-ana, na altura da Vila de Mutum – hoje porta de entrada para os garimpos manuais em terras guianenses; segundo, o igarapé Suapi, cuja principal personagem é o “Seu” Levindo Oliveira, pai do jornalista Laucides Oliveira; e, em terceiro lugar, a não menos lendária Serra do Tepequém, hoje explorada com bastante propriedade como um dos principais pontos do turismo ecológico no Estado. Não esquecendo, portanto, todos locais pródigos na lavra de diamantes.

O garimpeiro é nômade por natureza. Não consegue criar raízes em um determinado ponto geográfico. O bizu de nova fofoca descoberta em distantes pontos, sejam estes no longínquo Roraima ou em qualquer outro local do País, sempre foi propagado com celeridade impressionante. E veja que isso já ocorria nos primórdios – início do século passado –, quando ainda sequer existia a internet dos dias atuais, essa inovação que dá asas à comunicação, fazendo com que um fato que ocorra do outro lado do Mundo seja visto e entendido em detalhes por aqui, em tempo real.

Aquela potente comunicação boca a boca ensejava com grande competência o que ficou conhecido como “corrida do ouro”. Não demorava muito e os lugares sobre os quais se anunciava existir ouro ou diamante tornavam-se verdadeiros formigueiros humanos. Foi assim em Serra Pelada, no Pará; foi assim em Sinop, no Mato Grosso; e não poderia ser diferente em Roraima.

Quem viveu a alvorada da lavra manual por volta das décadas de 1930 e 1940 do século passado em terras deste setentrião nacional fala de episódios pitorescos – e outros nem tanto – envolvendo a garimpagem, ou seja, garimpeiros e agenciadores de grotões. Histórias que, em alguns casos, chegam a tangenciar a bizarrice, no sentido pejorativo do termo.

Um destes relatos diz respeito à determinada família tradicional, dona de extensos latifúndios no hoje municí-pio de Amajari, local em que pedras de diamante in natura abundavam como areia na praia. Isso, es-pecialmente na Serra de Tepequém.

Para o clã, respeitado de Norte a Sul do então Território Federal, o que importava mesmo eram as pedras que apresentavam valor expressivo de mercado, desprezando-se, assim, toda e qualquer pepita de somenos importância, os subvalorizados xibius.

Contam os mais velhos que os patriarcas desse clã tripudiavam sobre a generosa lavra do Tepequém a ponto de carregar a chumbeira inúmeras vezes ao dia, usando xibius em lugar de chumbinhos. E apertavam o gatilho mirando alvos nada convencionais.

Esse particular, no entanto, e com toda razão, não foi confirmado pelos descendentes da dita família, o que nos obriga a pular os pormenores. Sentiram-se ofendidos com o simples ventilar do assunto. Em seu lugar, preferimos então citar aqui a versão que nos foi por eles repassada.

Ou seja: apertavam o gatilho da chumbeira, ao léu, cano voltado para o infinito, e ao brado de:

-- Vão se criar (os xibius), pois lá na frente quando estiverem crescidinhos tornaremos a nos encontrar!

Qualquer um que tenha vivido em Roraima nos anos 1980 guarda na memória pelo menos uma história de garimpo. Seja ela de experiência própria, enfiando-se nos baixões e vivendo na carne as agruras que a profissão de garimpeiro impõe a quem a ela se dedica – e haja sofrimentos! –, ou pelo menos de ouvir falar, ter mantido contato social ou mesmo comercial com um garimpeiro, enfim...

Este livro pretende discorrer sobre essas histórias, ou, se preferir o leitor, sobre os “causos” em que não pode faltar uma bateia e uma pá como atrizes coadjuvantes. A minha história, em particular, enquadra-se na primeira alternativa, a daqueles que foram lá, que viveram o dia a dia do metier.

Antes, preciso assegurar ao leitor que, mesmo sem se perceber qualquer tendência telúrica de minha parte, os relatos a seguir são verdadeiros. Quase inverídicos, mas, garanto: eu, eu mesmo, fui lá. E nem precisamos confirmar com a Terta (1).

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Impasse religioso impede que família seja sepultada junta

Veja a quantas anda a intolerância humana. A dureza de coração desse padre é algo impressionante. Ele não levou em consideração que os dois anciãos, casados durante quase que a vida toda, não poderiam se separar nesse momento tão crucial, de lancinante dor, para os filhos. 

A matéria está no UOL Notícias.

Por conta de um impasse religioso, o evangélico luterano Irineu Wasen, 60, teve de ser enterrado fora do cemitério católico do município de Poço das Antas (RS), onde a mulher, Eunice Teresinha Ely, 58, e a sogra Carmelita Maria Ely, 78, foram sepultadas. Os três morreram em um acidente de trânsito na rodovia Tabaí-Lajeado (BR-386) no feriado de Finados, na quarta-feira (2).

Abalada pela perda trágica de três pessoas da família, a filha de Irineu, Paola Wasen, queria que todos fossem sepultados no Cemitério Católico em Poço das Antas, cidade de origem das mulheres. Porém, apenas elas puderam ser enterradas no local, na manhã de ontem (3).

De acordo com o padre João Paulo Schäfer, responsável pela paróquia e pelo cemitério católico, Irineu era evangélico e, portanto, não poderia ser enterrado junto à mulher.
"É uma norma da igreja que não podemos quebrar. Só podemos sepultar em nosso cemitério pessoas católicas que contribuem e estejam em dia com a taxa anual. Expliquei isso para a família, e eles entenderam", disse o padre, que ainda afirmou não poder abrir exceções.
A negativa e a busca por outro local para sepultar Irineu abalou ainda mais a família. "Foi uma espera angustiante. A filha queria muito que os pais fossem enterrados no mesmo local", disse Cleris Elizabete Flach, parente das vítimas.
"Com uma tristeza dessas, três pessoas da mesma família perdem a vida, e não há quem se sensibilize por isso", afirmou Marlise Meyer, amiga da família.
Sem poder ser sepultado junto à mulher, o corpo de Irineu foi levado para a cidade natal do empresário, Teutônia, no Vale do Taquari. Na tarde de ontem, a família acompanhou a cerimônia fúnebre no Cemitério da Comunidade de Linha Clara, interior do município, mesmo local em que os avós de Irineu já estão sepultados.

Irineu, Eunice e Carmelita moravam na capital e passaram o feriado de Finados em Poço das Antas para visitar a família e também prestar homenagens a parentes já falecidos. Retornavam para Porto Alegre quando o carro em que estavam bateu em uma caminhonete no km 377 da rodovia Lajeado-Tabaí, perto do trevo de acesso ao município de Paverama.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

ENTÃO, POR QUE SAIU?

Por Carlos Chagas

Certas coisas, só no Brasil, onde tudo pode acontecer, segundo mestre Gilberto Freire, para quem o Carnaval ainda acabaria caindo numa Sexta-Feira Santa. Espantou-se quem assistiu a solenidade de posse de Aldo Rebelo e, depois, a transmissão do cargo por Orlando Silva. Tanto no palácio do Planalto quanto no ministério dos Esportes, o ex-ministro foi a figura central.
A presidente Dilma Rousseff, discursando, lamentou a saída e disse perder um colaborador excepcional. Aldo Rebelo foi adiante, acentuando ser o antecessor uma vítima inocente. Renato Rabelo (presidente do PC do B) falou em campanha sórdida. Funcionários lembraram ser o ex-ministro um cidadão maravilhoso e espetacular.

Ora bolas, então por que Orlando Silva saiu? Ele mesmo, nas duas solenidades, exaltou a própria inocência. Recebeu emocionado abraço de Dilma, cumprimentos efusivos do sucessor e calorosos apertos de mão de todos os ministros presentes.
Não teria sido mais lógico que permanecesse, acrescendo que até o seu partido, o PC do B, mereceu loas generalizadas da presidente e dos demais presentes? São fenômenos que a vã filosofia não explica.

PÉS COMO OS DA CORÇA

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

Pastoral do boletim da Igreja Batista Central de Macapá, 6 de novembro de 2011

Estudava os profetas menores com os alunos do Centro de Formação Pastoral. Chegamos a Habacuque, um desconhecido em nossas igrejas. Analisamos o pano de fundo e a estrutura do livro. Depois, sua teologia. No final, o profeta descreve um quadro grave de fome (3.17). Mesmo assim, ele exultaria no Senhor (3. 18). Eis a razão: “Ele fará os meus pés como os da corça, e me fará andar sobre os meus lugares altos”.
Expliquei o sentido da expressão. A corça era um animal típico da região, de faro apurado, que sentia o cheiro da grama e de água, à distância. Quando tudo estava seco, sem grama e sem água, ela captava a sua existência. Geralmente, nos lugares altos, no topo do montes, onde o orvalho era mais forte. Com patas fortes e ágeis, ela escalava a montanha e encontrava o alimento.

O profeta diz que Deus lhe daria patas fortes para escalar as montanhas em busca de comida. Não lhe daria um maná especial, mas o capacitaria para achá-lo. São duas lições para nós.
A primeira é que a penúria vem sobre todos. Até sobre os fiéis. Deus não traz seca sobre a fazenda do ímpio e chuva sobre a do fiel. A seca vem sobre todos. Ser fiel a Deus não é ter imunidade contra o sofrimento. Seguir a Cristo não é ter uma passagem de primeira classe por este mundo, servido por garçons de casaca. Todos temos contrariedades e enfrentamos crises.
A segunda é que na hora da crise somos fortalecidos. O faro é apurado. As pernas são tornadas como as patas da corça. A grama não surge do nada para o animal. Já existe e ele vai achá-la. Deus nos capacita para encontrarmos respostas e termos as necessidades atendidas. Ele não destrói a montanha. Dá forças para escalá-la.
Muita gente gostaria de não sofrer nem ter problemas. Aconselhei um homem que tentou o suicídio. Ele me disse: “Pastor, eu não fui feito para ter problemas!”. Perguntei-lhe: “Quem lhe disse isso? Todos nós temos problemas na vida. O segredo não é não tê-los. É vencê-los”.
Diz um belíssimo hino do passado: “O segredo do viver, o segredo do vencer, é em Cristo confiar, nunca, nunca duvidar!”. Quem confia no Senhor também topa com carências na vida. Não necessariamente econômicas, mas em varias áreas: afetivas, emocionais, relacionais, etc. Mas tem uma certeza: há grama e água na penúria. Deus lhe dará e pernas fortes.
Além da corça, lembremos da águia: “Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no SENHOR renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam” (Is 40.29-31).
Lembre-se disso: Deus fortalece!