quinta-feira, 30 de abril de 2009

Coisas de insano

“Não pretendo, não vou discutir. Esse assunto já foi discutido exaustivamente. Aquilo vai se transformar num verdadeiro zoológico humano. Sem a menor condição de sobrevivência, sem contato com o branco, o que vamos ver lá serão animais humanos”.

Declarações do governador Anchieta Júnior, em Brasília, hoje (30), falando sobre a retirada de não índios da terra indígena Raposa Serra do Sol.

O governador lamenta que, com a decisão do Supremo Tribunal Federal, cerca de um milhão de sacas de arroz se percam por não serem colhidas, em função da retirada dos arrozeiros da área.

É comida sendo jogada fora, num momento em que a escassez de alimentos começa a tomar corpo em todo o Mundo. Uma pena.

Fim da farra

Apesar de hostilizada ao extremo, a imprensa brasileira acaba de marcar um gol de placa. De tão fustigado, o Senado decretou o Ato da Comissão Diretora n.º 5, que acaba com a farra das passagens aéreas dos Senadores.

O Ato extinguiu a cota mensal e instituiu a cota de apenas cinco passagens de ida e volta de Brasília para o estado de origem para cada senador.

Essa mesma cota poderá ser usada por assessores, mediante comunicação à Mesa do Senado.

Se não for usada, não poderá acumular para os meses seguintes. A parte usada deve ser tornada público através do site do Senado.

Agora, espera-se que os deputados também façam a mesma coisa. Está na hora de mostrarmos que não somos uma "república das bananas", mas sim de homens sérios.

Depois, partamos então para a moralização das licitações, fim das compras maquiadas, extinção dos empregos de araque (fantasmas) etc. etc. etc...

Falta muito, mas o Senado deu o primeiro passo. Sejamos pacientes. Talvez nossos bisnetos consigam ver algo melhor do que nossos olhos podem contemplar hoje.

Para isso, nós, da imprensa, não podemos nos calar.

Arriba!!!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Eu tô maluco!

Já li e escrevi muitos textos sobre a controvertida terra indígena Raposa Serra do Sol. Já fiz conjecturas, espremi de um lado, considerei de outro... mas, confesso, não consegui ainda achar uma lógica para, digamos, tamanho disparate.

A gota d'água para mim, sem qualquer dúvida, foi o texto que está postado aí embaixo, publicado originalmente pela Folha Web, na manhã de hoje.

Ao terminar a leitura, tinha formada em minha mente uma única ideia: diáspora. Desconfiado com as palavras como sou, me socorri do Aurélio, e descobri seu significado:

"Dispersão de povos por motivos políticos ou religiosos, em virtude de perseguição de grupos dominadores intolerantes".

É isso ou me amarrem e me joguem num hospício, porque eu estou doido!

Leia o post abaixo:

Casal terá de deixar reserva indígena após 82 anos

Da Folha Web, às 10:04 de hoje:

Para algumas famílias de Roraima, a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol tem gosto amargo. É o caso da família de Adolfo Esbell que nasceu há 82 anos, numa casinha às margens do Inamará, igarapé de água escura e fresca que corre no sopé das montanhas que separam o Brasil da Guiana, no norte de Roraima.

No último domingo, ao visitar Esbell, a história do pecuarista inspirou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) a pedir ao STF para que dê mais tempo para a saída das pessoas com mais de 80 anos que vivem na reserva.

O pai de Esbell era venezuelano e a mãe, brasileira, de origem indígena. Ali nasceu, cresceu, casou, teve 16 filhos, criou gado, cultivou arroz e feijão, fincou raízes que sonhou serem para sempre. O sonho dele desmoronou, porém, no último dia 25, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol em área contínua e deu prazo de pouco mais de um mês para todas as famílias não-indígenas saírem da área, levando seus pertences.

O nome de Esbell figurava na lista dos expulsos. O prazo de saída vence amanhã. Mas, até a tarde de ontem, terça-feira, Esbell e a esposa, Zilda, de 80 anos, não haviam mudado nada na rotina da área herdada dos pais e que tem 320 hectares. As instituições do governo que estão cuidando da remoção dos não-indígenas ofereceram a Esbell R$ 134 mil de indenização e uma área de 280 hectares, num assentamento a quase duas centenas de quilômetros dali. Considerado um lugar de difícil acesso, estradas precárias, sem luz elétrica. “Nem fui ver o local. Pelo que me disseram, não é lugar para mim”, disse ele.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Ego ferido

O nó precisa ser desatado. A ponte que liga Brasil e Guiana, sobre o rio Itacutu, foi interditada unilateralmente, pelos guianenses, um dia depois de liberada para o tráfego.

A alegação de que as autoridades daquele país não estavam sabendo da solenidade, realizada no domingo, soa como pífia.

O cônsul guianense Paulo do Vale se fez presente no evento, e tudo aconteceu dentro da normalidade.

Mas isso não é tudo. Curioso mesmo é que a ponte foi construída com recursos brasileiros. Os guianenses desprezam o feito por puro ego ferido.

Enquanto isso, os balseiros é que festejam a decisão. Continuam com o pão das crianças garantido.

O profeta

Lembram da "marolinha"? Aquela que o presidente Lula disse que não metia medo em ninguém?

Os Estados Unidos caindo pelas tabelas, o Mundo preocupado, e o presidente brincando com a situação:

"A crise não cruzou o Atlântico (saindo dos Estados Unidos e chegando ao Brasil, coisa de quem entende muito de geografia, sacumé né...)"

Desta vez, o monstro atende pelo nome de "gripe suína".

De novo, vem o presidente dizer que ela não assusta. A fala do homem agora me deixou muito preocupado.

Vou sair correndo para comprar uma máscara cirúrgica. Urgente!

sábado, 25 de abril de 2009

Faltou serenidade

Os policiais militares estaduais foram muito mal assessorados no que tange à possibilidade de galgar vantagens recalcitrando contra aguilhões (dando murro em ponta de faca).

Nenhum deles é inocente a ponto de não saber que, como militares, são impedidos de usar a greve como instrumento de reivindicação.

Como policial militar da velha guarda (hoje na Reserva Remunerada), lembro que motivos tivemos vários para fazer uso da força.

Mas nunca ousávamos passar por cima da lei. Entendíamos que nossa missão era preservar a legislação estabelecida, conforme fizemos juramento no alvorecer da carreira militar.

Se o PM, que tem o dever constitucional de zelar pela manutenção da lei e da ordem, ele mesmo quebra esses princípios, o que resta, então?

Não, queridos PMs estaduais, creio mesmo que todos os motivos vocês tiveram para fazer o que fizeram, mas não deviam ter feito.

A Azul Petróleo é sagrada. Não deveria ser maculada da forma como foi. Apesar de exemplos de cima não terem sido nada alentadores até agora, não lhes cabia descer tanto!

Começo da degola

Marco Prisco Caldas Machado, que liderou o movimento grevista dos policiais militares estaduais encontra-se no xilindró.

Foi preso hoje de manhã, por uma patrulha da Polícia Militar. O mandado de prisão foi expedido pela Justiça Militar.

A notícia, que está postada no site do Jornal do Rádio, teve origem na Ascom/RR (Assessoria de Comunicação do Governo do Estado).

O que não está escrito ali é que Prisco, que se apresentou em Boa Vista como sargento da PM da Bahia, há muito perdeu o direito de vestir a farda. Fora expulso da corporação baiana há oito anos.

Ou seja, lançou os neófitos PMs de Roraima numa fria. Um nó que agora está difícil de desatar. Nada mais justo o seu recolhimento à Penitenciária Agrícola Monte Cristo.

Uhuuuuuuuuuuuuuu!



Depois de pouco mais de oito meses de batalha, a Cristina recebeu, enfim, as insígnias de terceiro sargento da Polícia Militar. A caminhada não foi nada fácil.

A foto acima diz do sentimento que nos invadiu. A Cristina, ladeada pela irmã, Marcela, soldado do Corpo de Bombeiros, e a mãe, Eliana, era toda alegria. E eu, babando...

No meio do caminho teve não só uma pedra, mas também quatro costelas quebradas, que lhe deixou de molho por pouco mais de 15 dias. Graças ao Senhor nosso Deus e a solidariedade de seus pares e superiores, tudo foi superado.

As comemorações têm prosseguimento hoje à noite, no Espaço Glamour, no Pricumã.

Segunda feira, hora de voltar à terra.

Bola prá frente, Sargento Cristina, que Deus te abençoe!

Chumbo grosso

Durante a solenidade de formatura dos 97 novos sargentos da Polícia Militar, transcorrida na noite desta sexta-feira (24), no Palácio da Cultura, o governador Anchieta Júnior rasgou a mortalha.

Em seu discurso, referindo-se à greve encetada por parte dos policiais militares estaduais, disse que os fomentadores do movimento não têm capacidade de continuar envergando a azul petróleo.

Foi uma dica nada velada do que vem por aí.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Poder de persuasão

Pode parecer paradoxo, mas durante o período em que parte dos policiais militares estaduais esteve em greve, a Capítal contou com grande número de viaturas na rua, dando maior garantia de segurança à população.

No terceiro dia de paralisação, o gerenciador da crise, coronel PM Gerson Chagas, atual comandante da Corporação, conseguiu apoio federal, por meio da Força Nacional, e apoio municipal, com a entrada em ação das viaturas da Guarda Municipal e da Superintendência Municipal de Trânsito (SMTran).

No quarto dia de paralisação, a cidade amanheceu guarnecida por nada menos que 43 viaturas - da PM, GM, SMTran e Polícia Civil - fazendo rondas ostensivas tanto no Centro como nos demais bairros.

Isso serviu para testar a capacidade de superação do Estado. Diante da crise, as autoridades reuniram condições para conduzir todo o processo com traquilidade.

Em momento algum fez-se uso da força, o que garantiu um desfecho pacífico, sem descambar para o derramamento de sangue, como já se registrou em outras unidades da federação.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Riqueza!

Corre na rede: homem rico é aquele maior de quarenta anos:

- Prata nos cabelos.
- Ouro nos dentes.
- Pedras nos rins.
- Açúcar no sangue.
- Chumbo nos pés.
- Ferro nas articulações.
- E uma fonte inesgotável de gás natural.

Nunca se pensou que a partir dos 40 se pudesse ter uma riqueza tão grande!!!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Hoje, 10 de abril de 2009.

(Artigo publicado originalmente no blog de Ricardo Noblat, edição desta sexta-feira santa)

Por:Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Hoje, em Áquila, é o enterro coletivo de crianças, jovens, mulheres, homens, velhos e velhas.

A missa, nesta Sexta-Feira Santa, será rezada ao ar-livre, na Academia de Polícia de Áquila. Não há igrejas em pé, ou em condições, nem em Áquila, nem naquela região.

Não vou comentar sobre a dor da perda terrível para a Itália.

Vidas!

Nada mais importante.

Mas a Humanidade perdeu muito também ao perder os tesouros criados pela mão do homem naquela região.

Passada a solidariedade para com os italianos, a Humanidade continuará gastando rios e rios de dinheiro em buscas absolutamente desnecessárias para o estágio de evolução em que estamos.

Não sabemos, não conhecemos, a cura para um sem número de doenças.

Não sabemos, não conhecemos, como matar a fome de todos os homens.

Não sabemos, não conhecemos, como estabelecer a paz definitiva entre os povos.

Não sabemos, não conhecemos, como fazer do ser humano um homem e não um animal dantesco como os estupradores e os assassinos que matam a três por dois.

Não sabemos, não conhecemos, como acabar com a ganância e a cobiça.

Não sabemos e não conhecemos, como poupar a Mãe Terra, aquela que nos dá de beber e de comer.

Mas sabemos ir à Lua. Já até levamos turistas!

Conhecemos o mapa de Marte.

Apertamos, se o poder for nosso, um botão aqui, que explode um país do outro lado do mundo.

Pegamos um telefoninho pequenininho e telefonamos para Vladivistock para falar com nosso amigo que foi passear por aquelas bandas.

Vemos na hora, no minuto mesmo, o show daquela loura esquisita em Hong Kong.

Podemos andar em trens a 400 km por hora.

Movimentamos dinheiro do Japão para Tramanduateí em instantes.

Somos capazes de tirar uma Catedral daqui e levar para ali.

Compramos, basta ter dinheiro no bolso, morangos portugueses, cerejas argentinas, sal do mar Báltico, ervas frescas vindas da Provence, batatas peruanas, ovas dos peixes mais estranhos, azeites das mais variadas procedências, arenque finlandês fresco, como se não houvesse amanhã.

Leio os jornais do mundo inteiro sem sair da minha cadeira.

Encomendo, pelo telefone, um automóvel, e pago com um cartão de plástico.

Interajo com os programas de TV: não gosto daquele personagem, acabo com a raça dele, e ponho outro no lugar.

Somos moderníssimos, tecnologicamente avançadíssimos, nossos pais, se nos vissem hoje, não iam acreditar! Parecemos personagens de Jules Verne, de H.G.Wells, somos a própria ficção científica tornada realidade.

Mas não sabemos, não conhecemos, como prever um terremoto.

Não entendo nada de geologia. Absolutamente nada. Mas tenho uma enorme curiosidade: se o Homem concentrasse todo o esforço e o dinheiro que gasta em viagens espaciais, armamentos, guerras, e tudo o mais que ele acha imprescindível para ser um homem moderno e feliz, será que ele ao menos não conseguiria prever terremotos a tempo das pessoas saírem de sua cidade?

Olho os mapas da Califórnia, do Japão, da Itália, áreas de risco real assinaladas e fico apavorada.

Como pode o Homem não conhecer e dominar a terra onde vive há bilhões de anos e querer dominar o espaço?

Deixando aqui gente com fome, doente, com medo, sem teto, sem água, sem luz, ao relento?

Desculpem, hoje não está dando para escrever. Não costumo me deixar levar pelo pessimismo, sou uma pessoa que ama a vida, acordo feliz de me ver ainda por aqui. Mas hoje, não está dando. Cumpro as obrigações, mas o coração não está aqui.

Encerrando a discussão

Para encerrar o papo:

O doutor tem razão, e pronto!

E-mail recebido

Tréplica do leitor sobre o artigo "O Município e o Flanelinha":

Caro Esperidião,


De antemão, escusas sinceras caso alguma apereza nas minhas palavras tenham ferido o nobre articulista.

Bem bolado o lance da humildade logo no começo da resposta, bom subterfúgio pra abaixar armas e insulflar um sentimento de culpa. Deu certo.

Com a graça de todos os deuses da democracia, continuo não concordar com o seu posicionamento, mas como bem disse um certo Voltaire em momento singular: "Posso até não concordar... mas hei de defender até a amorte o seu direito de dizer."
Respeito, e pronto.
Não concordo, e pronto.

Temos que nos desacostumar a termos tudo às mãos, sem pagar nada. A contrapartida de ter estacionamento, é pagar um real. Nos grandes centros europeus, se vc nao tiver um adesivo "x", não podes nem circular em determinadas regioes centrais.
Agora, daí vc cobrar a utilizaçao do $$$, eu concordo. Faço até abaixo assinado, compro camisa e o escambau...
Garanto, que a grandíssima maioria da populaçao miserável não tá nem aí para esse 1 real, quer saber mesmo se o $$$ do Vale solidário (solidário a quem?) ou o Peixe mesquinhamente distribuído na Semana Santa estarão lá no dia certo...



Ces't la vie.


Daniel L. Borges
OAB 439/RR

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Aqui, não

Notinha publicada no site do jornalista Claudio Humberto, hoje:

Deputados de Santa Catarina vão avisar ao ministério dos Transportes que não querem praças de pedágio em rodovias federais no Estado.

Enquanto isso em Boa Vista, vereador recém empossado cria taxa para onerar o bolso do cidadão. É mole?

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Resposta a e-mail abusado

(Melhor ler antes os dois posts anteriores a este)

Caro Daniel,

Para iniciar, quero dizer de coração que agradeço o apreço que dedicaste a mim, ao te dares ao trabalho de ler o que escrevi. Eu sabia que tinha apenas três leitores. Você, portanto, é o quarto. Depois de 25 anos de labuta, é um bom começo...

Mas, não querendo ser tão agressivo com você quanto você foi comigo em seu e-mail, gostaria de fazer algumas considerações:

1) Acho que você não leu direito o texto que escrevi. Se o tivesse feito, saberia que em momento algum eu sugeri que o município cobre qualquer imposto. É tanto que os citados por mim são todos tributos federais. A única taxa arguida foi a do Detran, que também não é municipal.

2) Não acho e não cito em meu artigo que o município de Boa Vista esteja arrecadando muito. Muito pelo contrário, concordo, no artigo, que o “município esteja a pão e água. Erário depauperado.” Trabalhei na Prefeitura, conheço sua estrutura.

3) No artigo, em momento algum fiz qualquer equiparação de taxa com tributo. Seria misturar alhos com bugalhos, coisa de idiota, e isso eu não sou, apesar de, açodadamente, assim você me considerar.

4) Sim, amigo, já viajei uma ou duas vezes. Além de estados de outras regiões, conheço quase todo o nordeste. Até o Agreste pernambucano. Morei em Fortaleza um ano. Sei que essas zonas existem, mas nem por isso concordo com o ato de pagar taxa para estacionar meu carro. Nem mesmo em aeroportos. Já fui multado no daqui de Boa Vista, por simples rebeldia, por não concordar em pagar os dois reais cobrados. Creio mesmo ser um achaque, não pelo valor, mas pela falta de lógica, a tão bem explicada lógica do artigo, que, creio, o amigo leu e entendeu muito bem. Ou você quer dizer que não é um assalto legalizado os pedágios urbanos, como o cobrado na Linha Vermelha no Rio de Janeiro, que eu tive que pagar para chegar na casa do meu irmão, na Ilha do Governador?

5) Acredito que roubar um real e R$ 1.000,000 dá sempre no mesmo. O importante é o cunho filosófico do ato e não o ato em si ou o seu tamanho. Assim, dou-te total razão quando questionas os atos mesquinhos cometidos por quem quer que seja em esbulho ao Erário ou mesmo a pessoas individualmente. Ladrão é ladrão e, apesar de não ser assim, todos deveriam ser punidos, igualmente, na proporção do delito.

6) Para finalizar, peço que você leia novamente o artigo, porque, por certo, com todo o respeito, o amigo não entendeu o que ali está escrito. Em momento algum eu me coloco ao lado do flanelinha. Não o defendi e jamais irei defendê-lo. Acho mesmo essa classe de “profissionais” da maior desserventia. Não serve para nada, além de te achacar moedas. Minha ojeriza pelos ditos-cujos não está no fato de ter que meter a mão no bolso. Mas em pagar por uma coisa que não tem lógica. Sou tão contra o flanelinha como contra o poder público quando este se mete a me impor à força (força de lei) algo fora da lógica. Pagar pelo estacionamento público é, para mim, fora de lógica.

Bem, amigo, acho que ainda não tive o prazer de te conhecer pessoalmente, mas se pudéssemos conversar tete-a-tete, talvez você pudesse desfazer essa imagem de idiota que tem a meu respeito.

Sou grato, mesmo assim, a você por ter lido o artigo.

Um abraço

Espiridião

E-mail recebido

Em razão do artigo publicado no post abaixo, este blogueiro recebeu o abusado e-mail do leitor Daniel Borges (o quarto leitor do blogueiro), transcrito a seguir: (melhor ler primeiro o post anterior a este)

Caro Jornalista,

Não é do ensejo dessas simplórias linhas dar início a um debate infrutífero, ou mesmo tão somente contrariar sua opinião no artigo publicado no Fonte Brasil - "O Município e o flanelinha".

Todavia, sejamos responsáveis. Não faça o leigo acreditar que tudo é um tributo.
Que o cidadão boavistense paga ENORMES tributos à Prefeitura.

É mentira meu caro, e sabes disso.

A maioria da carga tributária, o FILÉ puro vai pra União. O principal, o famigerado Imposto de Renda, depois vem uns bons também como o IPI, CONFIS, II, IE entre outros.

O nosso Estado - como todas as outras unidades federativas - abocanha um bom naco, mas de certa forma bem menor com o IPVA, ICMS("compartilhado" em pequníssima parcela com os Municípios) entre outros.

Agora o Município.... putz. É até uma comédia, ainda mais em se falando de Boa Vista, que a todo momento abre-se uma brecha para um desconto aqui ou ali. O IPTU em RR ninguém paga. Minto. Menos de 50% dos imóveis pagam. O ISS (Conhece?) é outra ficçao.

Com isso como se é possível equiparar uma taxa de um serviço público a um imposto? Fato gerador tota lmente diverso.

Já foste em Goiania? São Paulo? Recife? Lá existem as zonas azuis.

Quer cidades menores? Uberaba/MG, São Jose do Rio Preto/SP, entre outras..... também existem.

Assalto legalizado são coisas bem maiores, como a não correçao da tabela de IR, o IPVA caríssimo, o ICMS nas alturas, compra de materila escolar com preço superfaturado, licitaçao de boi que nunca chegou no estado, furto a cofres de Camaras municipais,.... agora queres falar de 1 real por hora?

Já conseguiu estacionamento na Jaime Brasil no sábado pela manhã?

Caso positivo, deves guardar uma grande afeiçao pelo flanelinha, daí a verborragia na defesa do "emprego" dele...

Até qualquer hora.

Daniel

O Município e o flanelinha

Artigo publicado no site Fontebrasil, nesta segunda-feira (6/4)

Por FRANCISCO ESPIRIDIÃO (*)

Até agora não vi nenhuma manifestação contrária à lei recém aprovada na Câmara de Vereadores de Boa Vista, que autoriza o poder municipal a enfiar a mão no bolso do já espoliado contribuinte boa-vistense.

O novo instituto legal, que se encontra na mesa do prefeito Iradilson Sampaio (PSB) para sanção – ou veto –, estabelece o pagamento da taxa de R$ 1 por hora para quem quiser estacionar o carro em algumas áreas importantes da cidade, as futuras zonas azuis.

Se sancionada, creio que a lei deverá provocar um levante na sociedade. Não é possível, enfim, que a população se deixe espoliar de forma tão acintosa, sem que ninguém se manifeste. Tudo bem que o Município esteja a pão e água. Erário depauperado. Mas não se justifica mais um assalto legalizado. Afinal, a população já paga tantos impostos diretos e indiretos, que mais um soa como a gota d’água que faltava.

Hoje, a carga tributária, segundo dados do IBGE, gira em torno dos 38%, uma das maiores do mundo, sem que os serviços públicos oferecidos em contrapartida a justifique. No Brasil colônia, o levante se dera porque a Coroa queria cobrar 20%, o famoso Quinto.

O brasileiro trabalha quatro meses e 27 dias por ano só para pagar imposto. É o IPTU, o IPVA, o ICMS, o PIS, a Cofins, isso, sem falar nas taxas. Neste país é taxa para tudo. Se você precisa legalizar seu carro, por exemplo, não basta pagar o seguro obrigatório e o IPVA. Tem a bendita taxa de expediente.

Para quem votou no ilustre vereador (sim, vereador não é excelência) Joziel Wanderley, autor do projeto, deve estar se sentido mais angustiado que marido que se descobre traído pela veneranda e amada esposa. Mais ainda que goleiro na hora do gol, como diria Belchior.

Tenho certeza que não foi para isso que o elegeram. O vereador e seus pares (SMJ, como glamorosamente citam os advogados) estão equivocados quanto às suas funções. Tudo, menos onerar ainda mais o bolso do contribuinte, vereadores.

Aliás, a idéia é de todo condenável. Acredito que não agradou a ninguém. Em termos de benefício para a população, deixa a desejar em razão de não facilitar em nada a vida de quem precisa estacionar o carro nas áreas a ser taxadas.

Locomover-se de carro em Boa Vista não é luxo nenhum, e sim, uma premente necessidade. Talvez não exista outra capital brasileira que tenha um sistema de transporte coletivo urbano mais capenga que o nosso.

No bairro São Bento, por exemplo, não existe linha de ônibus. Até bem pouco tempo, os ônibus deixaram de circular no bairro Raiar do Sol. E creio que tal situação ainda não tenha sido regularizada.

Creio também que a medida será extremamente danosa para os comerciantes. Será o caos. O mínimo que poderá acontecer é se registrar sensível diminuição no número de pessoas que comparecerão àqueles logradouros para fazer compras, em razão das dificuldades impostas para o estacionamento. Desemprego à vista.

Tudo por falta de lógica. A pessoa gasta regaladamente R$ 90, R$ 100 num singelo almoço, mas fica doente por vários dias se perder R$ 5 na rua. Isso acontece porque perder dinheiro não é lógico. Não importa a quantia. Nosso intelecto não processa o que foge à lógica.

Não é lógico, portanto, pagar para estacionar o carro em via pública. É por isso que tantos se irritam com o flanelinha na frente do supermercado. Flanelinha é aquele indivíduo – geralmente menor de idade, com cara de noiado – que vive repetindo, ainda que tacitamente, aquela velha frase: “Qué queu cuido ou qué queu risco?”.

Entre os vários senões, o projeto do vereador Joziel Wanderley nada mais fez que estimular o poder público municipal a fazer concorrência oficial ao flanelinha. Aliás, o município passa a ser o próprio flanelinha – sem seus vícios, é claro.

*) Jornalista, e-mail: fe.chagas@uol.com.br