quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Brasil está em atoleiro, diz Economist em manchete de capa

A revista The Economist volta a dedicar a capa para o Brasil. Na edição latino-americana que chega às bancas, uma passista de escola de samba está em um pântano coberta de gosma verde com o título "O atoleiro do Brasil". Em editorial, a revista diz que a antiga estrela da América Latina "está na maior bagunça desde o começo dos anos 1990". A capa da edição da Economist para o restante do mundo não tem o País como tema principal e dá destaque a outro assunto: o avanço dos telefones celulares.

A Economist diz em editorial que, durante a campanha, Dilma Rousseff "pintou um quadro rosa" sobre o Brasil e a campanha teve o discurso de que conquistas como o emprego, aumento da renda e benefícios sociais seriam ameaçados pela "oposição neoliberal". "Apenas dois meses do novo mandato, os brasileiros estão percebendo que foi vendida uma falsa promessa". Para a revista, "a economia do Brasil está em uma bagunça, com problemas muito maiores do que o governo admite ou investidores parecem perceber".

Além da ameaça de recessão e da alta inflação, a revista cita como grandes problemas o fraco investimento, o escândalo de corrupção na Petrobras e a desvalorização cambial que aumenta a dívida externa em real das empresas brasileiras. "Escapar desse atoleiro seria difícil mesmo para uma grande liderança política. Dilma, no entanto, é fraca. Ela ganhou a eleição por pequena margem e sua base política está se desintegrando", diz a revista.

A Economist nota que boa parte dos problemas brasileiros foram gerados pelo próprio governo que adotou uma estratégia de "capitalismo de Estado" no primeiro mandato. Isso gerou fracos resultados nas contas públicas e minou a política industrial e a competitividade, diz o editorial. A revista cita que Dilma Rousseff reconheceu parte desses erros ao convidar Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. "No entanto, o fracasso do Brasil em lidar rapidamente com distorções macroeconômicas deixou o senhor Levy com uma armadilha de recessão".

Entre as medidas para que o Brasil retome o caminho do crescimento sustentado, a revista diz que "pode ser muito esperar uma reforma das arcaicas leis trabalhistas". "Mas ela deve pelo menos tentar simplificar os impostos e reduzir a burocracia sem sentido", diz o texto, ao citar que há sinais de que o Brasil pode se abrir mais ao comércio exterior.

O editorial termina com a lembrança de que o Brasil não é o único dos BRICS em apuros e a Rússia está em situação pior ainda. "Mesmo com todos os seus problemas, o Brasil não está em uma confusão tão grande como a Rússia. O Brasil tem um grande e diversificado setor privado e instituições democráticas robustas. Mas seus problemas podem ir mais fundo do que muitos imaginam. O tempo para reagir é agora".

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Quanta petulância!

Por Francisco Espiridião Jornalista metido a besta publicou livreco, em 2004, intitulado “Até quando? Estripulias de um governo equivocado”. Abordava, de maneira boçal e açodada, as primeiras ações do governo do PT, classificando-as, veja só, de “equivocadas”. Como se a nova elite governamental, estribada na grande estrela vermelha, não soubesse o que estava fazendo. Na sua bestial autossuficiência, o desalentado escriba dizia que da forma como o país era governado caminhava, fatalmente, a passos largos, rumo ao caos. Quanto engano!

Citava, em uma das crônicas, a metáfora do sujeito em queda livre do alto de um prédio de 30 andares. Ao passar pelo 20º, perguntam-no como está se sentindo. Ele responde: “Até aqui, tudo bem”. Quão enganado estava o pretenso escritor! Ao longo do governo do PT nada foi como dantes na história deste país.

A dívida interna nunca chegou aos três trilhões de reais; a segurança pública jamais esteve tão garantida ao cidadão como nos dias atuais; a saúde pública brasileira em boas mãos, ouvidos e estetoscópios. Nada de filas. Flui aos moldes dos ares progressistas do primeiro mundo.

Estradas, portos e aeroportos mais eficientes, impossível; energia elétrica, artigo que abunda. E como é barata! Falta d'água, então, só a da marchinha de carnaval composta por Luiz Antônio e Jota Júnior, na década de 1950. “Lata d'água na cabeça, lá vai Maria. Sobe o morro e não se cansa, pela mão leva a criança, lá vai Maria...”

Na era petista é chique falar e escrever errado. "Vou ao mossar". Deu para entender, que mal faz? As redações do Enem estão aí para mostrar. Gasolina... Ah, a gasolina! Qual o problema, gente, se somos autossuficientes em petróleo? Afinal, quem tem um pré-sal pode reclamar de quê?

Lembram-se de quando o finado bolivariano Hugo Chávez nos qualificou como o mais novo integrante da Opepe, a organização dos países exportadores de petróleo? Pois é. E pensar que aquele jornalistazinho de meia tigela chamou o governo petista de “equivocado”...

Tem mais: viram como temos crescido? O PIB que o diga. E com razão. O primeiro-mandatário da áurea era petista recomendava, enfim, que o brasileiro comprasse às largas. O consumismo, imagina, levaria o país às alturas. É claro que ele sabia o que estava dizendo. Afinal, essa história de multidões de brasileiros inadimplentes, hoje, não passa de história da carochinha.

O consumismo exacerbado não podia dar em outra: fábricas em franco crescimento, pátios das montadoras de veículos vazios, amplo emprego, enfim, desenvolvimento a todo vapor. Inflação, dragão morto. Corrupção... que corrupção?

Ora, vejam... o jornalistazinho ainda mantém seu livreco – o tal de “Até quando? Estripulias de um governo equivocado” - à venda na livraria da Megafarma da Avenida Capitão Júlio Bezerra. Quanta petulância!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Chegou a hora

* Por Fernando Henrique Cardoso

Quando eventualmente este artigo vier a ser lido, a Câmara dos Deputados estará escolhendo seu novo presidente. Ganhe ou perca o governo, as fraturas na base aliada estarão expostas. Da mesma maneira, o esguicho da operação “Lava Jato” respingará não só nos empresários e ex-dirigentes da Petrobrás nomeados pelos governos do PT, mas nos eventuais beneficiários da corrupção que controlam o poder. A falta de água e seus desdobramentos energéticos continuarão a ocupar as manchetes. Não se precisa saber muito de economia para entender que a dívida interna (três trilhões de reais!), os desequilíbrios dos balanços da Petrobrás e das empresas elétricas, a diminuição da arrecadação federal, o início de desemprego, especialmente nas manufaturas, o aumento das taxas de juros, as tarifas subindo, as metas de inflação sendo ultrapassadas dão base para prognósticos negativos do crescimento da economia.

Tudo isso é preocupante, mas, não é o que mais me preocupa. Temo, especialmente, duas coisas: o havermos perdido o rumo da história e o fato da liderança nacional não perceber que a crise que se avizinha não é corriqueira: a desconfiança não é só da economia, é do sistema político como um todo. Quando esses processos ocorrem não vão para as manchetes de jornal. Ao entrar na madeira, o cupim é invisível; quando percebido, a madeira já apodreceu.


Por que temo havermos perdido o rumo? Porque a elite governante não se apercebeu das consequências das mudanças na ordem global. Continua a viver no período anterior, no qual a política de substituição das importações era vital para a industrialização. Exageraram, por exemplo, ao forçar o “conteúdo nacional” na indústria petrolífera, excederam-se na fabricação de “campeões nacionais” à custa do Tesouro. Os resultados estão à vista: quebram-se empresas beneficiárias do BNDES, planejam-se em locais inadequados refinarias “Premium” que acabam jogadas na vala dos projetos inconclusos. Pior, quando executados, têm o custo e a corrupção multiplicados. Projetos decididos graças à “vontade política” do mandão no passado recente.


Pela mesma cegueira, para forçar a Petrobrás a se apropriar do pré-sal, mudaram a lei do petróleo que dava condições à estatal de concorrer no mercado, endividaram-na e a distanciaram da competição. Medida que isentava a empresa da concorrência nas compras, se transformou em mera proteção para decisões arbitrárias que facilitaram desvios de dinheiro público.


Mais sério ainda no longo prazo: o governo não se deu conta de que os Estados Unidos estavam mudando sua política energética, apostando no gás de xisto com novas tecnologias, buscando autonomia e barateando o custo do petróleo. O governo petista apostou no petróleo de alta profundidade, que é caro, descontinuou o etanol pela política suicida de controle dos preços da gasolina que o tornou pouco competitivo e, ainda por cima (desta vez graças à ação direta de outra mandona), reduziu a tarifa de energia elétrica em momento de expansão do consumo, além de ter tomado medidas fiscais que jogaram no vermelho as hidrelétricas.


Agora todos lamentam a crise energética, a falta de competitividade da indústria manufatureira e a alta dos juros, consequência inevitável do desmando das contas públicas e do descaso com as metas de inflação. Os donos do poder esqueceram-se de que havia alternativas, que sem renovação tecnológica os setores produtivos isolados não sobrevivem na globalização e que, se há desmandos e corrupção praticados por empresas, eles não decorrem de erros do funcionalismo da Petrobrás, nem exclusivamente da ganância de empresários, mas de políticas que são de sua responsabilidade, até porque foi o governo quem nomeou os diretores ora acusados de corrupção, assim como foram os partidos ligados a ele os beneficiados.


Preocupo-me com as dificuldades que o povo enfrentará e com a perda de oportunidades históricas. Se mantido o rumo atual, o Brasil perderá um momento histórico e as gerações futuras pagarão o preço dos erros dos que hoje comandam o país. Depois de doze anos de contínua tentativa de desmoralização de quase tudo que meu governo fez, bem que eu poderia dizer: estão vendo, o PT beijou a cruz, tenta praticar tudo que negou no passado: ajuste fiscal, metas de inflação, abertura de setores públicos aos privados e até ao “capital estrangeiro”, como no caso dos planos de saúde. Quanto ao “apagão” que nos ronda, dirão que faltou planejamento e investimento como disseram em meu tempo? Em vez disso, procuro soluções.


Nada se consertará sem uma profunda revisão do sistema político e mais especificamente do sistema partidário e eleitoral. Com uma base fragmentada e alimentando os que o sustentam com partes do orçamento, o governo atual não tem condições para liderar tal mudança. E ninguém em sã consciência acredita no sistema prevalecente. Daí minha insistência: ou há uma regeneração “por dentro”, governo e partidos reagem e alteram o que se sabe que deve ser alterado nas leis eleitorais e partidárias, ou a mudança virá “de fora”. No passado, seriam golpes militares. Não é o caso, não é desejável nem se vêm sinais.


Resta, portanto, a Justiça. Que ela leve adiante a purga; que não se ponham obstáculos insuperáveis ao juiz, aos procuradores, delegados ou à mídia. Que tenham a ousadia de chegar até aos mais altos hierarcas, desde que efetivamente culpados. Que o STF não deslustre sua tradição recente. E, principalmente, que os políticos, dos governistas aos oposicionistas, não lavem as mãos. Não deixemos a Justiça só. Somos todos, responsáveis perante o Brasil, ainda que desigualmente. Que cada setor político cumpra sua parte e, em conjunto, mudemos as regras do jogo partidário eleitoral. Sob pena de sermos engolfados por uma crise, que se mostrará maior do que nós.

*Ex-presidente da República

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Tecnologia x habilidades motoras

Preocupa-me ver o tablet insistentemente nas mãos do Francisco. Veja matéria a respeito aqui.