sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Felicidades a todos!

Por Francisco Espiridião
Fim de ano é sempre a mesma coisa. Você profere e também retribui centenas de votos de feliz Natal e próspero ano novo (há quem diga próximo ano novo!). E o que é pior, engorda-se um tantinho a mais, já que para onde você se vira é festa regada a pernil de porco, chester, peru, blesser da Aurora e tantas outras novidades do gênero. Eu me rendo. Confesso, não dá para resistir, apesar de constatar que o que menos se festeja é o homenageado da época. Mas é assim mesmo.
Seria bom se esse período não fosse mágico apenas no sentido de nos transformar por um momento. O importante seria a gente viver de verdade tudo aquilo que desejamos para o nosso próximo. Que não fosse nada tão mecânico. Que as palavras bonitas não fossem tão só um clichê próprio da época, mas que saíssem do fundo do coração. E não só entre o dia 1º e 31 de dezembro, mas durante todo o ano.
As Escrituras Sagradas nos ensinam por meio da carta do apóstolo São Paulo aos Filipenses, capítulo 4, verso 8:  “Por fim, irmãos, todas as coisas que são verdadeiras, todas as que são de séria preocupação, todas as que são justas, todas as que são castas, todas as que são amáveis, todas as coisas de que se fala bem, toda virtude que há e toda coisa louvável, continuai a considerar tais coisas [ou seja, nisso pensem vocês]”.
Esse pensamento paulino é a regra única para vivermos bem uns com os outros. O problema é que nem sempre conseguimos enveredar por esse caminho tão difícil, tão espinhoso. Ser rede rasgada, sanguíneo, pavio curto é muito mais fácil do que vivermos, como direi, dentro de uma perspectiva de amor e carinho pelo próximo, procedimento que o Senhor Jesus classificou como o cumprimento de toda a Lei e os profetas.
Quando eu voltar a ocupar este espaço já terá virado o ano. Será, por certo, outra realidade. Que a expectativa de um novo ano, como sempre, traga-nos novos ares. Que sejamos mais condescendentes, saibamos entender o próximo, que tenhamos palavras que levantem a autoestima de quem nos ouve.
Que possamos cumprir as velhas e surradas promessas que, sai ano, entra ano, sempre fazemos nos últimos dias antes de janeiro chegar. E, quando vem dezembro de novo, parece que não avançamos.
Que busquemos de verdade ser melhores. Isso não é nada fácil nesse mundão doido, onde não se está tranquilo nem mesmo sentado ao redor de uma mesa de pizzaria com a família. Mas buscarmos melhorar nossos relacionamentos é a parte que nos cabe nesse latifúndio.
Tentar isso por nossa conta e risco é tarefa hercúlea. Nem mesmo com todo o dinheiro do mundo se consegue. Mas, com Cristo no barco, tudo vai muito bem, como diz uma música infantil. As tempestades podem se acalmar a uma simples insinuação dEle.
Afinal, ninguém é deus de si mesmo. Todos os seres humanos precisam das misericórdias daquele que fez céus e terra e tudo o que nela há.
Enfim, ano novo, tudo novo. Que nossas mentes estejam firmadas naquele que pode todas as coisas, o senhor e salvador de todo aquele que nEle crê, o Senhor Jesus. O único que é digno de toda honra, toda glória, todo louvor. Felicidades a todos neste 2014!  



Uma trama excepcional

Por Francisco Espiridião

Revendo crônicas que escrevi e publiquei em www.franciscospid.blogspot.com.br, encontrei esta que considero instigante e que, na minha visão, vale a pena ser reeditada. Foi publicada no dia 6 de maio deste ano. Acho que pode levar alguém a querer também viver a mesma experiência literária. Segue na íntegra.

Acabo de ler o segundo romance de Henri-Marie Beyle (1783-1842), o francês que adotou Sthendal por pseudônimo. O primeiro, O vermelho e o negro, li dois anos atrás, por recomendação da chefa, Albani Mendonça. A Cartuxa de Parma (Editora Globo, 560 páginas) é tão cativante quanto o primeiro. Uma história apaixonante.

Nos dois romances, uma conexão entre os protagonistas. Julien Sorel, de O vermelho e o negro, aceita a função eclesiástica por imposição. Já em Cartuxa, o protagonista Fabrício Del Longo, depois de se envolver em tantos apuros, luta por se tonar arcebispo. Chegou lá. Por força de sua carência amorosa, torna-se um eloquente pregador católico.

Stendhal escreve essa segunda obra – o terceiro romance, Lucien Leuwen, ficou inacabado, sendo publicado, assim mesmo, postumamente, em 1894 – tendo como ponto de partida um estudo sobre famílias antigas da Itália, entre elas a Farnese. A trama tem lugar na Itália durante e logo após o Império Napoleônico francês.

A vida de Fabrício Del Longo, a contragosto de seu pai, um monarquista italiano de família nobre, mostra-se desapegada de quaisquer arroubos de vaidade. Juvenil e tresloucado, italiano de nascimento, o personagem só pensa em conhecer e lutar ao lado de Napoleão, a quem venera. Consegue seu intento, em meio à batalha de Waterloo.

Depois disso, vários embaraços marcam a vida de devaneios de Del Longo, até tropeçar num certo mambembe, a quem elimina a facadas para liberar o trânsito a uma sugestiva “rapariga” que nem vale a pena. Essa história termina com o nosso herói batendo os costados na prisão – a cidadela –, onde fica sob os auspícios de um determinado general.

Em meio ao turbilhão, na antessala da masmorra, ele se vê fisgado pelo verdadeiro amor. Esse sentimento arrebatador – que jamais sentira por uma mulher, já que todas que passaram por sua vida, e foram muitas, significaram apenas divertimento passageiro –, tem como endereço a filha do detentor das chaves do cárcere, o general Fábio Conti.

O importante em toda a trama é que ela mostra os enredos políticos do momento. Coisas do coração se misturam com decisões administrativas do império. Oposição e situação se digladiam a ponto de descambar em assassinatos, tentativas de envenenamento e até um prenúncio de incesto entre a tia, Gina Pietranera, a duquesa Sanseverina, e o protagonista. 

É bastante sugestiva a ideia de o título da obra não se justificar senão na última página da narrativa. Isso, porque, diante de desilusão amorosa, Del Longo recolhe-se ao convento, a Cartuxa de Parma, para morrer. Morrer de amor, literalmente.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O panteão das virtudes

Por Francisco Espiridião


Os funerais de Nelson Mandela, o líder pacifista sul-africano, serão concluídos neste domingo (15), mas seu exemplo de democracia, justiça social e, sobretudo, igualdade entre os homens serão atributos próprios a ser pregados em verso e prosa posteridade afora.
Mandela é considerado, num mundo ávido por heróis, um líder rebelde que alcançou a presidência da África do Sul. O corolário de sua luta, o Prêmio Nobel da Paz de 1993. 

Sinônimo de Mandela é extinção do chamado Apartheid, regime político instituído em 1948, que segregava a população negra em benefício da branca, minoritária em seu País.

Aliás, A maior parte de sua vida foi dedicada à causa, como advogado dos direitos humanos, luta em razão da qual se tornou prisioneiro de um regime de exceção. Margareth Tatcher, no entanto, não via assim.

É aí que asas as mosquinhas começam a zumbir atrás de minhas orelhas e que não me deixam sossegar. Por isso, vamos, então, ver este quadro por outro ângulo.

Longe de mim querer-me iconoclasta, mas faz-se necessário dizer algumas coisas que têm passado um tanto nas nuvens nesses tempos de festejada biografia do líder sul-africano. Começa que, em muitos aspectos, Mandela pode ser considerado imbatível. Já em outros, nem tanto assim.  

Nem poderia ser diferente, posto trata-se de um ser humano como qualquer outro, sujeito às mais diversas mazelas inerentes aos, digamos, seres humanos. Mazelas não só de ética, de caráter, como também as físicas. Ou seja, uma simples dor de barriga, se vem com força, derruba o mais forte dos heróis.

No quesito caráter, enfim, ficam dúvidas que nesse momento de quase deslumbramento passam despercebidas: Mandela era amicíssimo de ditadores empedernidos, como Fidel Castro, de Cuba; Qaddafi, da Líbia; Saddam Hussein, do Iraq; e do líder palestino Yasser Arafat.

Ele chegou a propalar que Cuba se sobressaía perante os demais países “por seu amor aos direitos humanos e liberdade”. Chegou a posar abraçado a Fidel, num gestual a indicar acachapante vitória.

Pode alguém – que não seja petista empedernido (lá estou eu de novo falando mal de petistas... mas só dos empedernidos) – considerar tal pensamento normal para um pacifista ganhador de Prêmio Nobel?

Que o homem foi a maior personalidade do século 20, como disse a presidente Dilma em discurso de despedida proferido nessa terça-feira, em Johanesburgo, não há o que se questionar. Mas a prudência recomenda não esquecer sua condição de ser humano.

Elevá-lo a categoria de Deus parece um tantinho assim demais. Ou não?  

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Dias de Ira

Por Francisco Espiridião
 
O título acima remete para o spaghetti-western americano estrelado pelo recém-falecido Giuliano Gemma, que embalava os sonhos da minha adolescência. Mas não é dele que quero falar nesta crônica, que abro com uma das declarações de fé mais contundentes nas Escrituras Sagradas.

O salmista e Rei Davi, ao pé dos montes de Jerusalém, olha para cima, faz o comentário e completa com uma pergunta quase retórica a que ele mesmo responde: "Elevo os meus olhos para os montes, de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra." (Salmos 121.1-2).

Hoje, vive-se dias em que o socorro só poderá vir mesmo do Senhor, que fez os céus e a terra. Não se está seguro nem mesmo dentro de casa. Veja-se, por exemplo, o caso de um policial civil que teve a casa invadida na terça-feira por dois marginais, em plena luz da tarde.

Fizeram e desfizeram, plantaram o terror com ameaças e atos, distribuindo tapas e pontapés. Estupraram uma empregada da casa, decretaram limpa geral nas dependências e saíram lindos e fagueiros (um já está preso).

Um fato como esse, no entanto, não pode ser considerado razão para pânico generalizado. É fruto de um momento conturbado que teve nascedouro na instabilidade gerada no interior do setor prisional, tendo a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo como ponto de ebulição.

Não vem ao caso tratar-se de PCC ou Comando da Maioria, pouco importa. O fato é que gerou instabilidade. Apesar de todos os esforços do poder público, imprevistos indesejáveis acontecem. Aliás, o que não existe neste mundo é segurança inexpugnável.

No dia 22 de novembro de 1963, 50 anos atrás, a maior autoridade mundial do momento, o então presidente americano John Fitzgerald Kennedy, trafegava em carro aberto na Praça Dealey, em Dallas, estado do Texas. Estava ao lado da primeira-dama Jacqueline Kennedy.

O que não lhe faltava naquele instante era segurança. Gente disposta a proteger com o próprio corpo o corpo do presidente. Porém, de nada adiantou. Certo Lee Harvey Oswald, fuzileiro de miolo mole, postado de maneira estratégica no alto de um dos prédios, alvejou o presidente. Sem dó nem piedade.

No caso de Roraima, em relação às demais unidades da federação, ainda se vive no céu. Mas é claro que não se pode ter o mesmo pensamento de 30 anos atrás, quando se dormia de portas abertas e todo mundo se conhecia pelo nome.

Havemos de entender que hoje se vive um novo tempo. Tempo em que o progresso grita alto e bom som que está presente. Mas, com ele, também suas implicações. Nem todas positivas.

A abertura da BR-174, estrada pavimentada para Manaus, é via de mão dupla. Por ela chega o tão sonhado desenvolvimento. E por ela se vai a nossa paz. Por ela chegam indivíduos pernósticos, verdadeiros marginais que outrora ninguém ousava sequer pensar existir.

Daí me vem à mente outro fragmento das Escrituras Sagradas escrito também pelo mesmo Rei Davi. "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam. Se o Senhor não vigiar a cidade, em vão vigia a sentinela." (Salmos 127.1 – traduções bíblicas de João Ferreira de Almeida).

O poder público está, sem dúvida, fazendo a sua parte. São homens e mulheres incorporados ao aparato de segurança, além de meios como novas viaturas e equipamentos. Mas não dá para pôr um "guarda" em cada casa. Cabe a nós, cidadãos, também fazermos a nossa parte. Prudência e caldo de galinha, como dizia minha avó, não fazem mal a ninguém.


 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Ainda existem juízes no Brasil

Por Francisco Espiridião

“Madeira de dar em doido vai descer até quebrar, é a volta do cipó de arueira no lombo de quem mandou dar.” Esses versos de Geraldo Vandré, dos idos de 1967, em pleno regime militar, quase cinquenta anos atrás, são emblemáticos nos dias atuais.

Ver personalidades impolutas, havia até pouco tempo posando de verdadeiros mandachuvas da nação, fazendo e desfazendo no País, esnobando o mais alto de sua soberba, e não por acaso enlambuzadas com o tal mensalão, hoje, chorando juntos, trancafiados em uma cela da Polícia Federal, em Brasília, é cena impagável.

Esse dia, para eles, estava nas calendas gregas, como diria o saudoso brigadeiro Ottomar Pinto. Jamais existiria. Mas chegou. A previsão do ex-tesoureiro do PT, o professor Delúbio Soares, caiu por terra.

O professor disse, em tom de “mestre-sabe-tudo”, que “todas as besteiras” que se levantavam naquele momento terminariam em “piada de salão”. Isso, quando ainda se desenhavam no Ministério Público Federal os primeiros contornos do mensalão que desaguaria no Supremo Tribunal Federal batizado de Ação Penal 470.

Quão enganado estava o mestre Delúbio! Os ministros do Supremo até que chegaram a preparar a massa e pôr a pizza em fogo brando. Ocorre que o gás acabou. O fogo se apagou e a pizza não chegou a ser assada. Dissolveu-se.

A profecia de Vandré confirma-se de maneira tão premente que só acredita quem vive este momento para ver. Mesmo depois do choro da primeira noite em cana, ainda não perderam a empáfia.

Como bons mensaleiros que são, continuam como dantes. Em cana, mas senhores de si. Dirceu, por exemplo, mandou recadinho a Lula, na semana passada. Foi ouvir a cantilena e atender prontamente: deitou falação espinafrando o presidente do STF e demais ministros.

Que não seja surpresa para ninguém se se descobrir mais tarde que o empreguinho de Dirceu, R$ 20 mil no Hotel St. Peter, teve, ainda que discretamente, o dedinho de Lula.

Voltemos à cena da Proclamação da República: hilariante ver os condenados de punho em riste, dizendo-se “presos políticos”, quando do momento da prisão, naquele dia emblemático.

Comovente a cena daquele domingo (15) à tarde, quando Genoino se entregava à PF. Um meliante – como diz o colega Nonato Souza – posando de herói. E aplaudido por obtusos petistas – nem todo petista é obtuso, que fique claro.  

Aliás, li dia desses em algum lugar que nas ditaduras há a figura dos “presos políticos”, enquanto nas democracias, “políticos presos”. Bom sinal. Nestes dias de desforra vê-se políticos presos. Queira-se ou não, uma novidade. Resta a incógnita: até quando?  

Mas só de saber que “eles” deram com os costados nas masmorras já causa certo ar de contentamento. Uma sensação de que nem tudo está perdido. Fato “quase” improvável. Mas verídico. Ainda há juízes no Brasil.