Tão logo Roberto Barroso conceda os perdões judiciais, não haverá mais nenhum político cumprindo pena por causa do mensalão. Faz sentido?
Por Reinaldo Azevedo
Na década de
80, uma música chatíssima de Chico Buarque chegou a fazer sucesso.
Chamava-se “Mulheres de Atenas”. Era para uma peça de Augusto Boal, que
deve ser o autor da letra. De modo irônico, as mulheres eram convidadas a
se mirar no exemplo de suas congêneres de Atenas, sempre tão solícitas,
doces, submissas, sem vontades, entregues aos caprichos de seus
maridos.
Uma notícia
desta quinta me leva a fazer um convite aos empreiteiros enrolados com o
petrolão: “Mirem-se no exemplo da banqueira Kátia Rabello (Banco Rural)
e do publicitário Marcos Valério”. Ela foi condenada, no processo do
mensalão, a 16 anos e 8 meses de prisão; ele, a 40 anos, 1 mês e 6 dias,
para ser preciso. Guardaram essa informação? Então vamos a outra.
Rodrigo
Janot, procurador-geral da República, se manifestou de forma favorável,
atenção!, ao PERDÃO JUDICIAL para outras seis pessoas condenadas no
escândalo do mensalão — quatro são políticos. Ficariam livres de cumprir
o resto de suas penas os seguintes patriotas: Valdemar Costa Neto
(PR-SP), Bispo Rodrigues (PR-RJ), Romeu Queiroz (PTB-MG) e Pedro Henry
(PP-MT), além de Rogério Tolentino, que é ex-advogado do operador do
esquema, e Vinicius Samarane, ligado ao núcleo financeiro.
Ah, sim: o
mesmo Janot já se disse favorável ao perdão judicial para Delúbio Soares
e João Paulo Cunha. Quem vai decidir é o ministro petizado do Supremo
Roberto Barroso, que é o novo relator do mensalão.
Atenção!
Tão logo o senhor Barroso conceda o perdão
judicial, não haverá mais nenhum político cumprindo pena por causa do
mensalão. Dirceu está preso de novo, mas é por causa do petrolão. Sem
esse novo enrosco, é provável que estivesse também na lista.
Então veja
que coisa formidável! Dirceu à parte, mas por outra imputação, restarão
em cana, por causa do mensalão, a banqueira e o publicitário-operador.
Fica-se,
então, com a impressão de que a dupla é que foi peça-chave no escândalo e
que o mensalão foi uma urdidura para atender a interesses financeiros. É
como se o mensalão não tivesse sido uma maquinaria política para
assaltar o estado e a democracia.
Sim, eu sei
que os indultos concedidos se encaixarão em critérios previstos em lei e
em decreto-padrão assinado por Dilma. Mas os políticos mensaleiros só
serão beneficiados porque, obviamente, a condução do processo e a
dosimetria das penas acabaram sendo extremamente duras com os
empresários e frouxas com os políticos.
Os senhores
empreiteiros que se mirem no exemplo das mulheres de Atenas… Ou melhor:
no exemplo de Katia Rabello e Marcos Valério.
Tudo mais
constante, num prazo de uns três anos a partir da condenação, não haverá
nenhum político em regime fechado por causa do petrolão, mas alguns
empreiteiros estarão mofando na cadeia, como se o esquema criminoso que
está sendo desvendado não tivesse uma natureza principalmente política.
Os
depoimentos de João Santana e de Mônica não deixam dúvida: o objetivo é
livrar a cara dos políticos e mandar os empresários para o quinto dos
infernos.
As mulheres de Atenas “secavam por seus maridos”… Pergunto aos empresários: vale a pena “secar” por Lula e Dilma?