quarta-feira, 15 de junho de 2016

A adolescência está mais complexa

Por Rosely Sayão, Psicóloga

Estou sempre em contato com pais, avós e educadores formais e recebo deles, pessoalmente ou pela internet, muitas questões, dúvidas e angústias que eles vivem em relação aos filhos, netos e alunos. Nos últimos dias, o tema que predominou foram os adolescentes. Vamos, então, refletir sobre essa fase do desenvolvimento.

Há até pouco tempo, sabíamos com clareza conceituar a adolescência: um período de transformações pessoais, sociais, emocionais, psicológicas e, principalmente, de concepção a respeito de si mesmo e da vida, que resultava em mudanças de comportamento. A puberdade –as alterações físicas dessa etapa– antecedia a adolescência e a precipitava.

E agora? Primeiramente, essa etapa da vida foi prolongada: não termina mais perto dos 20 anos, com a entrada na maturidade adulta. Hoje, podemos considerar a adolescência até mais ou menos os 25 anos, e olhe lá! Seu início também foi antecipado: não depende mais da puberdade, pois pode se iniciar bem antes.

Outra questão importante foi a mudança na busca da privacidade do adolescente. Quem não se lembra dos melhores amigos dessa época da vida, ou dos diários, escritos –e escondidos– com dedicação? Pois esses foram recursos que os adolescentes já usaram para construir sua privacidade em relação à família.

Hoje, a situação ficou complexa: com a internet, os diários –com fotos e tudo o mais– passaram a ser expostos publicamente, não mais compartilhados apenas com a(o) melhor amiga(o) ou escondidos. E os pais? Ah! Eles fazem de tudo para que os filhos contem a eles todos os detalhes da sua vida.

Essas mudanças significam mais trabalho para os pais e mais dificuldades para os adolescentes. Hoje, os pais querem controlar os filhos, querem desejar por eles, querem dar a eles felicidade, etc. Dureza, porque tudo isso resulta em imaturidade, fragilidade, baixa resiliência.

Os adolescentes precisam de tutela mais discreta, que não se transforme em abandono; de espaço de experimentação para descobrir como querem e como podem ser, sem que sejam julgados ou penalizados por isso. E o melhor espaço que eles teriam para tanto seria a escola. Como ela não tem permitido isso aos seus alunos adolescentes –qualquer coisa que eles façam, a escola corre para contar aos pais–, é claro que eles procuram outros espaços para isso, como o virtual, as festas e baladas etc., o que é muito mais perigoso, porque lá eles não têm nem tutela, nem apoio.

Os adolescentes precisam muito de nossa companhia, de nosso apoio crítico, de nossa compreensão, de nossa amorosidade adulta, de nosso desapego em relação a eles, de nosso acolhimento.
Eles querem conflitar com os pais e professores? Vamos bancar esses conflitos com seriedade e argumentação, sem espanto. Poucos adolescentes defendem a pena de morte, por exemplo, por convicção. É, na maioria das vezes, por oposição. Nem por isso devemos tratar as questões que eles trazem como bobagens.

Eles ultrapassam todos os limites possíveis? Vamos repactuar a relação com eles, verificar como demos oportunidade para que tenham feito o que fizeram. Sempre há essa possibilidade! Mas vamos, principalmente, entender essa crise como um pedido de socorro, que eles têm tanta dificuldade em simbolizar.

Essa é a companhia que eles precisam, e que podemos oferecer!

segunda-feira, 13 de junho de 2016

VELHO CHICO

Evaristo E. de Miranda

Doutor em ecologia, chefe da Embrapa Monitoramento por Satélite

No final da década de 70, sobrevoando o rio São Francisco em Paulo Afonso, o ex-ministro Delfim Neto comentou seu desgosto de ver aquela água fluindo em meio da caatinga sem nenhuma área irrigada visível. Alguém da Embrapa respondeu: - Ainda bem. Aqui, se irrigar, saliniza. O ex-ministro ficou surpreso ao descobrir que, conforme os estudos já realizados no semiárido, o solo era mais relevante do que água para a irrigação. 

Quando o avião pousou em Petrolina, ele já havia autorizado recursos financeiros adicionais para a Embrapa desenvolver a irrigação na região. E assim foi. No ano passado, a fruticultura irrigada do rio São Francisco faturou mais de 500 milhões de reais no mercado interno e externo. Mas o universo humano e natural do rio São Francisco ainda segue um grande desconhecido dos brasileiros.

A novela “Velho Chico” traz agora o rio da integração nacional para dentro dos lares brasileiros. E, com o profissionalismo e a competência dinástica da família Ruy Barbosa, muitas aventuras ainda virão. O rio São Francisco é parecido ao Tietê: teimoso, arredio às facilidades. Ambos ao nascer poderiam correr direto para seu destino, o oceano. Pertinho. Mas não. Eles se afastam do oceano, adentram as terras, caminham em direção do poente e não do nascente. E só depois de uma longa viagem, miram o leste e desaguam no mar. O Velho Chico percorreu mais de 2800 km.

O São Francisco nasce na Mata Atlântica e logo entra no bioma Cerrado, no qual se localiza 57% dos quase 64 milhões de hectares de sua bacia. Quase toda água que o rio leva para o semiárido, vem de Minas Gerais (68%) e do Oeste da Bahia (30%). A grande caixa d´água, a torneira do São Francisco, é mineira. Os sertanejos detém a caneca.

No passado, essa água escoava livremente para o mar, ao sabor de cheias e vazantes. Hoje, mais não. Existem 34 barragens construídas na bacia, das quais 30 em Minas Gerais e na região Oeste da Bahia. No semiárido são poucas, mas essas canecas são grandes: Sobradinho e os complexos de Paulo Afonso e Luiz Gonzaga (Itaparica). Barrar um rio dessa dimensão trouxe mudanças enormes e definitivas na vida da bacia.

A grande missão dessas barragens, em última instancia, é gerar energia elétrica para as capitais nordestinas. Quem liga o ar condicionado em Natal ou Fortaleza, quem usa eletrodomésticos em Aracaju ou João Pessoa ou ainda quem trabalha nas indústrias de Salvador ou Recife, raramente sabe o preço alto que os homens e o meio ambiente no vale do São Francisco, pagaram e ainda pagam em benefício do mundo urbano.

A transposição das águas do São Francisco, mais uma vez, atenderá essencialmente demandas do mundo urbano, que as transformará simplesmente em esgoto. O projeto já gastou muitos recursos e segue questionado. A transposição é possível. Contudo, o projeto atual ainda não construiu uma capilaridade de benefícios sustentáveis para o mundo rural que atravessa. A ponto de ser necessário patrulhar a obra, para que os agricultores não “roubem” água para saciar a sede de seus rebanhos e familiares.

O projeto da transposição previa a revitalização da bacia que pouco avançou. Até a definição do ministério, que deveria planejar e operar esse processo, ainda não está clara. O tratamento efetivo do esgoto industrial e urbano de todas as cidades na bacia do São Francisco deveria ser a prioridade número um da sua revitalização.

A caatinga vive grandes transformações sociais e econômicas. Em três anos de seca, com 10 milhões de pessoas atingidas, em mais de 1.300 municípios, não ocorreram saques, deslocamentos de flagelados, frentes de trabalho, invasões de cidades em busca de comida, ataques a armazéns da CONAB ou campanhas pelo país para arrecadar ajuda para as vítimas da estiagem. Esses fenômenos sempre aconteceram. Foram 1,2 milhões de alistados em frentes de trabalho em 1999. Hoje mais não.

O Programa Bolsa Família garante a alimentação das famílias no semiárido. Muita gente parou de plantar ou reduziu a área cultivada. A caatinga cresceu. Os rebanhos de caprinos e ovinos também. A sinergia com outros programas como a construção de cisternas, a ampliação do fornecimento de água para a população rural, a interligação de adutoras, a distribuição de água com carros pipa e outras ações (Bolsa Estiagem, MP 565, investimentos em infraestrutura, consolidação das áreas irrigadas etc.) é real. A moto substituiu os jumentos. E eles vagam abandonados pelas estradas.

A natureza não tem mais como salvar o rio. Ele está nas mãos de quem vive nas cidades, sobretudo no Nordeste. Sertanejos, irrigantes, agricultores e pescadores são mais vítimas do que causadores de problemas à vida do rio. Não há como compará-los à dimensão dos problemas ambientais criados por quem implantou barragens e se beneficia da geração de energia elétrica no mundo urbano. O urbanóide se preocupa com o meio ambiente. Gosta de planejar o que não executa e avaliar o que não fez. Os desafios ambientais do rio São Francisco pedem outras soluções.

Como estabelecer um processo decisório participativo no uso múltiplo das águas? A transposição e a irrigação são inovadoras nesse sentido, mas marginais e muito diferentes em suas funções. Como garantir um futuro melhor para quem vive na bacia e não apenas para os que se beneficiam de seus recursos em distantes áreas urbanas? Uma surrealista “Cooperativa do Velho Chico”, talvez fosse a solução. Como a criada pelo personagem Santo na novela. 

No cooperativismo: um membro, um voto. Na gestão das águas do rio, os maiores interessados não votam. Nem são convidados às “assembleias”. Recebem tarefas, encargos, migalhas compensatórias e tentam aproveitar oportunidades geradas. A gestão do Velho Chico está essencialmente na mão do setor elétrico e na demanda urbana. Eles sim são os novos e poderosos coronéis da região.

Giles Azevedo é nomeado assessor da Casa Civil e continua na equipe de Dilma

Esse governo Temer está parecendo o governo "Me engana, que eu gosto!". 

A edição de hoje (13) do "Diário Oficial da União" traz a nomeação de Giles Azevedo para o cargo de assessor especial da subchefia de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais da Casa Civil da Presidência da República. Giles assessora a presidenta afastada Dima Rousseff desde que ela era ministra de Minas Energia. 

De acordo com a Secretaria de Imprensa da Presidência, a nomeação foi um ajuste e Giles continuará integrando a equipe de Dilma. As informações são da Agência Brasil.

Ainda de acordo com a Secretaria de Imprensa da Presidência, a nomeação publicada nesta segunda-feira ocorreu porque o cargo de natureza especial ocupado por Giles foi extinto, e o assessor continuará trabalhando com Dilma Rousseff até que haja a conclusão do processo de impeachment.

No dia 12 de maio, data da notificação do afastamento da presidente Dilma, Giles foi nomeado secretário executivo do gabinete pessoal da Presidenta da República. Durante o período em que Dilma esteve na Presidência, Giles ocupou os cargos de chefe de gabinete e de assessor especial.

Neudo pode ganhar liberdade ainda neste mês

O ex-governador de Roraima Neudo Campos pode voltar a gozar de liberdade a partir do dia 22 deste mês. De acordo com o que informa o colunista Lauro Jardim, de O Globo, o STF pode mudar o entendimento de que o réu vai preso após a condenação em segunda instância, antes da condenação definitiva, o chamado trânsito em julgado.

A prisão após condenação em segundo grau é uma das principais reivindicações do Ministério Público Federal na pauta das dez medidas contra a corrupção.

Na sessão do dia 22, serão julgados pelo plenário duas ações declaratórias de constitucionalidade, uma apresentada pelo Conselho Federal da OAB e outra pelo Partido Ecológico Nacional.

As duas pedem que o STF reconheça uma norma do Código de Processo Penal sobre a presunção da inocência e, consequentemente, que mude o entendimento atual, vigente desde o julgamento de um habeas corpus em fevereiro.

Agora, a coisa pode mudar. Dias Toffoli e Edson Fachin já deram sinais de que podem mudar seus entendimentos.

Em fevereiro, o placar foi de 7 a 4. Votaram a favor da prisão já na condenação de segundo grau, além de Toffoli e Fachin, os ministros Teori Zavascki Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes.

Foram vencidos Rosa Weber, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski.

Demora na demissão de petistas trava o governo Temer

Aliados avisam: gente do PT, ainda nos cargos, sabota o governo

Aliados de Michel Temer reclamam que o governo continua “infestado” de petistas. Nos ministérios e demais órgãos federais, apesar da troca de titulares, o comando da burocracia permanece com militantes do PT, que sabotam ações do governo.

Isso sem contar casos como os da estatal EBC e do plano de saúde Geap, cujos gestores se beneficiam da criação malandra de “mandato” para se agarrarem às boquinhas. A informação é do colunista Cláudio Humberto, do Diário do Poder.

O Palácio do Planalto tranquiliza os servidores: “todos os petistas serão demitidos”. É só questão de tempo, diz o ministro Geddel Vieira Lima.

Temer “foi obrigado a trocar o pneu com o carro em movimento”, reconhecem os aliados, mas é preciso deixar sabotadores para trás.

“O desaparelhamento do PT não se faz de uma hora para a outra”, justifica o líder do governo, deputado André Moura (PSC-SE).

O governo já monitora, para levar à Justiça, os casos de perseguição de chefetes petistas a subordinados que apoiaram o impeachment. (Diário do Poder)

Assessor de Dilma terá cargo de confiança na Casa Civil de Temer

Giles Azevedo foi nomeado pelo ministro Eliseu Padilha

O ministro Eliseu Padilha nomeou Giles Azevedo para exercer o cargo de assessor especial da Subchefia de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais da Casa Civil da Presidência da República. A portaria de nomeação de Azevedo está publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira, 13.

Azevedo, que vem assessorando Dilma Rousseff desde quando ela era ministra de Minas e Energia, tinha sido nomeado secretário executivo do Gabinete Pessoal da presidente afastada, ainda em maio. A portaria assinada por Padilha não informa, porém, se Giles Azevedo irá acumular os dois cargos – um na equipe do presidente em exercício, Michel Temer, e o outro vinculado à Dilma.

O Diário Oficial de hoje ainda traz a nomeação de Erivaldo Oliveira da Silva para presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), ligada ao Ministério da Cultura, e de Luislinda Dias de Valois Santos, para secretária especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Ministério da Justiça e Cidadania. (Agência Estado)

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Gilmar Mendes: "Com Dilma o Brasil não tinha governo"

Por Débora Bergamasco - IstoÉ 

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, quer aproveitar seu mandato na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, assumido há três semanas, para discutir uma reforma política no Brasil. Ele acredita que, sem ela, casos de corrupção como o do Petrolão podem continuar levando o País a “uma democracia falseada” onde, segundo ele, “só uma força política cria condições de disputar e ganhar as eleições”. Mendes explica, numa referência clara ao PT: “Porque só ela disporia de recurso. Esse era o modelo desenhado a partir da apropriação das empresas e do modelo de governança que se instalou e se desenvolveu em relação a empresas estatais como a Petrobras”, afirmou. Segundo o ministro, o discurso de que “a Petrobras é nossa”, entoado por partidos ligados ao governo, permitiria outra leitura: “A Petrobras é ‘nossa’? ‘Nossa’ quem, cara pálida?”. Para Gilmar Mendes, a resposta encerra o óbvio ululante: “’Nossa’, do partido (PT), e nós podemos nos apropriar da Petrobras”.

ISTOÉ – Advogados do PT pretendem entrar com arguição de suspeição contra o sr. em processos que envolvam qualquer tema relacionado ao PT, à presidente afastada Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula. Eles estão fazendo um levantamento de suas manifestações, declarações e votos.
Gilmar Mendes – Não estou muito preocupado com isso, não. O Supremo Tribunal Federal hoje é composto por 11 ministros. A presidente Dilma até fez uma declaração esses dias dizendo que o Tribunal era composto por 12 ministros, mas são 11 e há muito tempo, né? Desses, oito foram indicados pelo governo do PT. Seriam eles todos suspeitos?

ISTOÉ – O argumento é o de que seu posicionamento seria muito crítico aos desmandos do PT…
Mendes – Eu tenho criticado os desmandos da política, inclusive no meu discurso de posse eu ressaltei os graves problemas com os quais nós estamos nos acostumando e que distorcem profundamente a luta política e a própria democracia. Não faço distinção de forças partidárias. É notório que empresas estatais, como a Petrobras, foram utilizadas por partidos que estavam no governo para fins extravagantes. Isso precisa ser reprimido, censurado, criticado e desse ponto não me afasto.

ISTOÉ – Como resolver isso?
Mendes – Sou uma das vozes que se levanta em prol da necessidade urgente de uma reforma política, para evitar a repetição dessa situação. Se esse quadro tivesse se perpetuado, muito provavelmente nós estaríamos muito próximos de um modelo de uma democracia totalmente falseada. Em que só uma força política cria condições de disputar e ganhar as eleições, porque só ela disporia de recurso. Esse era o modelo desenhado a partir da apropriação das empresas e do modelo de governança que se instalou e se desenvolveu em relação a empresas estatais como a Petrobras.


ISTOÉ – O sr. está dizendo que, até pouco antes da Lava Jato, vivíamos em uma democracia falseada?
Mendes – O País tem uma economia complexa, diversificada, o que dificulta a submissão da sociedade às determinações de uma dada força política e, portanto, isso não ocorreu. Temos o exemplo da força do agronegócio, em que há uma livre iniciativa forte. Mas houve um tipo de estatização da economia em relação à construção. Só construíram as empresas que estivessem vinculadas a dado objetivo partidário. Instalou-se um tipo de capitalismo de partido e foi isso que observamos pelos casos que as investigações estão revelando. O Estado tem uma força muito grande na economia de forma direta, com as estatais, ou indireta, com os fundos de pensão, por exemplo. Hoje, nós temos como retrato o quê? As empresas estatais falidas, os fundos de pensão com imensos déficits, com sinais de má gestão e de improbidade…

ISTOÉ – Há também um mesmo partido eleito quatro vezes…
Mendes – Isso poderia se eternizar com esse tipo de prática. Tenho a impressão de que já tinha havido informações básicas sobre o modus operandi no caso do mensalão. E hoje percebemos que o Petrolão nada mais é que uma réplica mais sofisticada e mais ousada do mensalão. Temos o debate no Brasil sobre mais Estado, menos Estado, no que diz respeito às empresas estatais, mas o discurso de que “a Petrobras é nossa”, que era feito por muitas vozes de partidos ligados ao governo, permite talvez uma outra leitura: “A Petrobras é ‘nossa’? ‘Nossa’ quem, cara pálida?”. A resposta é qual? “’Nossa’, do partido, e nós podemos nos apropriar da Petrobras”. Portanto, caminhamos para um modelo extremamente extravagante, que nada tem a ver com a nossa Constituição.

ISTOÉ – No julgamento do mensalão ficou a sensação de que o Brasil inaugurava um novo momento de combate à corrupção. E, o que se viu na sequência foi o Petrolão, um esquema ainda mais sofisticado. Depois da Lava Jato, teremos outra decepção?
Mendes – Temos que colocar isso na agenda e chamar o distinto público, as pessoas que estão discutindo política na rua, os manifestantes, para que deem atenção à reforma política. Eu tenho um duplo sentimento em relação a tudo isso que está acontecendo. De um lado, um sentimento positivo que foram as instituições que conseguiram por termo a esses abusos todos. Mas tenho uma certa frustração e perplexidade em termos de identificar a profundidade dessas mazelas. Acabamos por corromper o modelo da Lei de Responsabilidade Fiscal, comprometer a ideia da verdade orçamentária e financeira, que era um valor que o Brasil tinha incorporado. E acabamos por envolver as estatais num sistema de governança notadamente corrupto.

ISTOÉ – Quando o senhor diz “acabamos”, o sr. se refere ao governo da presidente Dilma Rousseff?
Mendes – O Brasil, né? Acabamos por chegar a este estágio. Digo assim, como as instituições nesse ponto falharam. É esse duplo sentimento: de um lado satisfação, mas também de que chegamos um pouco tarde. Se tivéssemos sido mais efetivos e mais profusos nas investigações em relação ao mensalão…

ISTOÉ – E por que isso não aconteceu?
Mendes – Diversas razões. O próprio quadro político, a saúde política daquele momento, a não sequência nas investigações. Nunca se pode esquecer, por exemplo, que a CPMI dos Correios, agora muito polêmica, tinha recomendado que o Ministério Público prosseguisse nas investigações dos fundos de pensão. E tal não se deu. Falharam. Órgãos de controle obviamente falharam. E claro também que se anestesiou um pouco a opinião pública com um certo sucesso apresentado na economia. Foi um engodo. Quando já não se tinha mais a situação confortável de bem-estar no âmbito orçamentário financeiro, optou-se pela fraude.

ISTOÉ – As pedaladas e os decretos da presidente Dilma configuram crime de responsabilidade?
Mendes – Essa é uma questão para ser avaliada pelo Congresso Nacional. Mas a situação econômica na qual nos encontramos é reveladora de que essas práticas distorcidas no âmbito orçamentário não representam um pecado venial. Como resultado temos aí 11 milhões de desempregados, cortes de orçamento no Supremo, no STJ, Justiça Eleitoral, depressão econômica. Isso é resultado de uma má gestão financeira e econômica como um todo. Portanto, está longe de ser um erro contábil.

ISTOÉ – O sr. esteve com o presidente em exercício, Michel Temer, no fim de semana. Sobre o que conversaram? Trataram de Lava Jato e impeachment?
Mendes – Pedi essa audiência para tratar da recomposição do orçamento do tribunal. Depois conversamos sobre a vida institucional. Enfatizei a necessidade de dar sequência à reforma política e ele concordou. Não falamos de Lava Jato e ninguém com o mínimo de informação imagina que possa deter essas investigações.

ISTOÉ – A situação da gestão Dilma era de ingovernabilidade. Agora temos um governo interino. Ele é governável?
Mendes – Com Dilma o Brasil não tinha governo. Agora, já se tem uma equipe e as coisas começam a se delinear, mas com grandes dificuldades. Não nos esqueçamos também que se trata de um governo provisório enquanto existir esse processo de impeachment no Senado. O cenário só se estabilizará depois que soubermos qual vai ser a decisão do Senado sobre o impeachment.

ISTOÉ – Vai demorar para serem julgadas as Ações de Impugnação do Mandato Eletivo da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral?
Mendes – Até o fim de junho nós saberemos se temos ou não condições de julgar esse processo ainda neste ano ou no próximo.

ISTOÉ – O material reunido até agora no TSE é contundente?
Mendes – Os elementos existentes são bastante significativos, sem dúvida nenhuma. Agora, não sei qual é a avaliação que o tribunal fará sobre esse tema. Em primeiro lugar, a afirmação de que parte significativa dos recursos decorreu de propina…

ISTOÉ – É difícil provar isso?
Mendes – Vai depender de como essa fase de instrução vai se dar. Temos alguns depoimentos que indicam que há quase que um condicionamento para que quem tivesse contratos em curso na Petrobras fizesse a doação. Temos também debates sobre caixa dois, sobre a utilização de recursos para o pagamento do publicitário, que também recebeu formalmente pelo caixa regular. Terão que ser considerados. No caso do caixa dois, o que se fala é que determinadas empresas pagaram no exterior em contas que estão sendo identificadas e as pessoas que receberam estão confirmando. Nesse sentido, são provas que estão longe de ser impossíveis de serem colhidas.

ISTOÉ – Causou certa polêmica sua decisão de devolver à Procuradoria-Geral da República o pedido de inquérito sobre Aécio Neves. Por que o sr. tomou essa decisão?
Mendes – Na verdade, no caso – e isso a opinião pública não sabe – o senador já havia recebido informações sobre a abertura de inquérito e ofereceu por meio de seus advogados esclarecimentos e manifestações contrários. Como de praxe, submeti à Procuradoria para sua apreciação as informações da defesa que trazem elementos inclusive factuais, que, em tese, podem tornar desnecessárias ou prejudicadas certas diligências já deferidas, além de, eventualmente, ensejar novas apurações. Daí que suspendi as diligências já deferidas até manifestação da Procuradoria. Nenhuma medida de interrupção das investigações. Elas seguem de maneira absolutamente normal. Mas como houve defesa antecipada de eventual investigado, simplesmente dei conhecimento à Procuradoria, como é de rigor.

ISTOÉ – Na prática o que isso muda?
Mendes – Se a Procuradoria entender pertinente, pode adaptar, requerer novas ou simplesmente prosseguir com as diligências já solicitadas. Não são incomuns casos em que diligências requeridas são atendidas de pronto pela própria defesa, como a juntada de certidões e documentos públicos que dispensam o ofício às autoridades competentes. Nesse caso, porém, como todos os temas estão sendo analisados emotivamente, há um certo escarcéu em torno de meros atos ordinatórios. Temos que entender que a vida prossegue

terça-feira, 7 de junho de 2016

Jornal diz que Janot pediu a prisão de Renan, Jucá e Sarney

Por Reinaldo Azevedo

O Globo informa que Rodrigo Janot encaminhou ao ministro Teori Zavascki, do Supremo, os respectivos pedidos de prisão dos senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e do ex-presidente e ex-senador José Sarney (PMDB –AP).

Acusação: tentativa de obstruir a investigação da Lava-Jato. O pedido estaria com Zavascki há uma semana. Ele pode simplesmente recusá-lo ou, então, submeter ao plenário. Janot também teria pedido o afastamento de Renan do cargo, a exemplo do que se fez com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje presidente afastado da Câmara.

Vocês querem torcida ou análise? Vamos lá.

Na base desses pedidos, estariam a delação de Sérgio Machado e as gravações que fez. O ex-presidente da Transpetro assinou acordo de delação premiada. Aliás, o fofo está se comprometendo a devolver a bagatela de R$ 100 milhões. Que gente imodesta!
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Bem, meus caros, não sei se a Ministério Público Federal e a Polícia Federal dispõe de material que ainda não conhecemos, inclusive sonoro. O que veio a público até agora não justifica um pedido de prisão — ATENÇÃO, ESTOU ME REFERINDO APENAS ÀS GRAVAÇÕES. Nas falas que conhecemos de Renan, Jucá e Sarney, não há nem mesmo indício de crime. Se há outras, aí a coisa pode mudar de figura.

O comportamento de Janot em relação a Renan não deixa de ser um tanto exótico. O senador é investigado em 11 inquéritos. E nada de se oferecer uma denúncia para que o STF decida se ele se torna réu ou não. E se parte logo para o pedido de prisão?

Insisto: as gravações não justificam pedido de prisão de nenhum dos três. Mas é óbvio que não se pode descartar a existência de eventos que até agora desconhecemos.
E não custa lembrar: seria, de fato, um mimo destes tempos que Sarney, Jucá e Renan fossem presos por causa da Lava Janto, e Lula ficasse… solto!

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Segundo jornal, general vê o MST como deve ser visto. Que bom!

Reinaldo Azevedo


Texto publicado na Folha de hoje [segunda, 30] me deixa um pouco mais tranquilo. Segundo leio lá, “o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), o general Sérgio Etchegoyen, 64, faz parte de uma ala do Exército que vê com preocupação as manifestações do MST e de outros grupos” de esquerda.
 
Que bom! Eu também vejo. E isso é tanto melhor quando se sabe que o general é o responsável pelo Plano de Defesa Nacional e que, “sob seu comando, está a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que será usada para cumprir a missão que o general recebeu: monitorar os movimentos de esquerda”.
 
Bem, meus caros, dizer o quê? Viva, então, o general Etchegoyen se for esse o seu, digamos assim, grande defeito, não é mesmo?
 
Acho, sim, que o MST e outros movimentos de esquerda têm de preocupar a autoridade responsável pelo Plano de Defesa Nacional. Não é segredo para ninguém que esses grupelhos anunciaram que iriam tentar impedir Michel Temer de governar, certo?
 
Como ele é o presidente legal do Brasil, ungido pela Constituição democrática de 1988, a esquerdalha está anunciando que não vai respeitar a lei. E mais pode ser lembrado: ouvimos ou não ouvimos, dentro do Palácio do Planalto, um sindicalista pregar a luta armada?
 
O general, ademais, dá mostras de conhecer o seu ofício. Ao se referir ao regime bolivariano da Venezuela, disse: “O bolivarianismo só dá certo na Venezuela pelo baixo nível de suas Forças Armadas. No Brasil, criamos um modelo de convívio entre Forças Armadas, o governo e a sociedade. 
As Forças Armadas não oferecem ameaça à sociedade e assim vão continuar”.
 
Só me resta aplaudir o general Sérgio Etchegoyen!
 
Ah, sim: lembrem-se de que em sua mais aloprada e recente resolução, o PT lamentou não ter “bolivarianizado” as Forças Armadas. Segundo o partido, os governos petistas deveriam ter promovido só generais identificados com as causas da sigla.
 
Acho que as Forças Armadas são imunes a esse tipo de vagabundagem.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Dilma é um cheque sem fundo

Por Rodolfo Amstalden

Bruno Araújo, ministro das Cidades, em coletiva nesta tarde:
“Última gestão foi a maior passadora de cheque sem fundo”.
Isso resume a política econômica do ex-governo de Dilma Rousseff.
Lula passava cheques na conta das commodities, bombadas então pela China.
O valor das commodities se foi, os cheques continuaram.
Sem fundos.
Só que, a rigor, nada é sem fundo na economia.
Esses cheques foram “fundeados” (como se diz no mercado) pela inflação que corrói sua poupança, pelo desemprego que compromete sua renda e pelos juros que explodem suas dívidas.
O cheque sem fundo de Dilma foi um xeque nos nossos fundos.
Chegamos, assim, ao fundo do poço.
De onde agora estamos saindo.
Como?
Parando de gastar com propinas e ideias estúpidas.
Gastando apenas o que temos em conta.
E, inclusive, recebendo alguns cheques (com fundos) do exterior.
É fácil assinar um cheque no nome dos outros.
Também fácil governar com cheque em branco.
O difícil é se ver descontado na praça, com o nome limpo.
Começaram - para nosso bem - as dificuldades do Governo Temer.