segunda-feira, 31 de maio de 2010

Empacou

Espernear todo mundo tem direito. Até mesmo o senador Augusto Botelho (PT), contrariado em sua pretensão de se reeleger ao Senado.

Depois de ter sido passado para trás pela cúpula do partido em Roraima, segundo suas próprias palavras, Botelho disse cobras e lagartos.

Magoado, ele empacou. Diz que não aceita qualquer forma de cala-boca. Para servir ao Estado, segundo ele, só se for como senador.

E pronto! 

Coisa de país rico


A Funai contratou a empresa Roraima Taxi Aéreo, dispensando licitação, para transportar índios yanomamis ao custo anual de R$ 7,3 milhões. Dinheiro suficiente para comprar meia dúzia de aviões. (Coluna Claudio Humberto, de hoje)

sábado, 29 de maio de 2010

UM CRENTE PODE SER MAÇOM?

Existem certas coisas que, seja pelo desconhecimento, preconceito ou mesmo por contradições com a fé cristã, não são aceitas no meio evangélico.

Uma entidade vista com muita desconfiança e curiosidade pelos crentes, é a maçonaria, espécie de sociedade secreta.

Oculta, misteriosa, dona de uma filosofia centenária cuja origem se perde nas brumas do tempo, e por isso mesmo sedutora, a Maçonaria é uma espécie de caixa preta que assusta muita gente. Especula-se por exemplo, que em algumas cerimônias praticam-se pactos de sangue e juras de morte àqueles que abandonam suas fileiras. Bem menos tenebrosas são as prosaicas senhas que utilizam para identificar-se, como determinados toques nos apertos de mão e a adoção de três pontinhos na assinatura. Boataria a parte, o certo é que para a sociedade em geral, e os evangélicos em particular, o grupo é um ilustre desconhecido. Seus membros são reservados e os locais de reunião, as chamadas lojas, são fechados para quem não faz parte da entidade.

Descontados os exageros propagados pela ignorância generalizada a seu respeito, o certo é que a Maçonaria é via de regra rechaçada pela Igreja Evangélica. Contudo, é grande o número de crentes que não só simpatizam, como participam de suas fileiras. Para eles não há qualquer incompatibilidade entre servir a Cristo e ser maçom. Mas a grande maioria dos crentes consideram a maçonaria como uma religião ocultista e até diabólica, e, portanto, incompatível com a sua fé.

Ao contrário da maior parte das igrejas evangélicas, onde qualquer pessoa que se declare convertida pode se tornar membro mediante o batismo, o ingresso na Maçonaria é um processo lento e complexo. Alguém só pode vincular-se a instituição através da indicação de alguém que pertence à sociedade. E em boa parte das vezes, nem sequer sabe que está sendo investigado. O processo se inicia quando determinada pessoa começa a ter suas características notadas.

Neste caso seu nome é sugerido por um maçom à Loja. Então levanta-se a maior parte de informações possíveis sobre essa pessoa – como é sua vida pessoal, se goza de boa reputação, se sua honestidade é reconhecida. Se nada o desabonar, então é feito o convite, com a permissão da Loja. Mas isso não termina aí. Se o convite for aceito, iniciam-se outras formalidades. No caso de homem casado é fundamental o consentimento da esposa. É preenchido um formulário com diversas perguntas. Depois abre-se uma sindicância que pode demorar até dois anos. Só depois de tudo isso é possível tornar-se um maçom.

Além de se auxiliarem mutuamente, os maçons desenvolvem uma série de atividades de cunho social e comunitário. Costumam definir-se como uma reunião de homens livres e de bons costumes. Em geral os maçõns são extremamente zelosos pelo grupo a que pertencem, praticando com afinco seus ensinos. Nas Lojas os ritos seguem rígidos princípios de hierarquia e carregam elevada dose de simbolismo. As reuniões são realizadas geralmente uma vez por semana ou quinzenalmente.

Nas celebrações cada uma tem função definida, de acordo com seu posto na entidade. Há uma abertura solene, na qual entram os aprendizes, os companheiros e os mestres, seguidos pelo venerável mestre, a quem cabe dirigir a sessão. A disposição dos assentos também é ritualística – Oriente, Coluna do Sul, Coluna do Norte. Antes dos trabalhos, pode haver a leitura do Salmo 133, que fala sobre a excelência do amor fraternal, depois é feito uma oração solene ao Grande Arquiteto do Universo, identificado como Deus e normalmente representado pela letra “G”.

Nessa oração, roga-se pelos presentes, por suas famílias e pela reunião. O dirigente dá orientações preliminares para verificar se o templo está coberto, ou seja, se todas as portas estão fechadas, se todos os presentes são maçons e outras formalidades. Em um determinado momento, depois da palavra de exortação, cada um dos irmãos podem falar. Geralmente fazem pequenos discursos sobre temas variados.

Tudo muda, se há algum neófito para ser admitido. Neste caso grande parte da cerimônia é dedicada à iniciação do novato. É parte da tradição, por exemplo, vendar os olhos do candidato, que é levado a ingerir o conteúdo de um cálice com água doce e amarga, e submeter-se a uma série de outros rituais, tudo com elevado conteúdo simbólico. Ninguém bebe sangue ou se flagela, come é comentado, embora no caso da iniciação de um mestre (numa escala que vai até o Grau 33, de acordo com o ritual), usa-se até um caixão, onde um dos presentes deita-se para representar um antigo líder já morto.

Algumas contradições com a fé evangélica:

-O maçom tem o compromisso de manter o segredo sobre a instituição e defender os outros membros a qualquer custo, quer dizer se for preciso tem de mentir par defender a instituição.
-Maçom deve respeitar a prática religiosa de todos, e evitar o proselitismo. Isso vai contra o mandamento de Jesus, que é pregar o Evangelho e fazer discípulos.
-Em suas atividades rituais são usados: astrologia, cabala, numerologia e ocultismo.
-A Bíblia não é considerada como única regra de fé e prática.
-O sincretismo que fazem com Deus. “Identificando-o até com Om, o deus do sol dos egípcios".
-Jesus Cristo dentro da Maçonaria, é apenas o fundador de uma religião, como foram Maomé, Buda e Confúcio.
-Evocação a São João, isso ele fazem costumeiramente.
-O presidente da Loja é a “luz” para os novos adeptos.

Tal conjunto de normas e doutrinas municia sem dúvida aqueles que se opõem a maçonaria por motivos religiosos, como os evangélicos. E com razão já que fazem parte dos rituais práticas que vão contra o que ensina a Bíblia Sagrada.

A Maçonaria não pode ser considerada um movimento cristão pelo simples fato de valorizar a fraternidade. Mas se tem templos, ritos orações e recompensas, está claro que é uma religião.

Entre as igrejas evangélicas, a questão da maçonaria é tratada com um misto de preconceito, desconhecimento e, claro alguma dissimulação. Afinal, é complicado para um crente, sobretudo pastor, assumir que pertence a uma sociedade desta natureza.

O caráter religioso das reuniões maçônicas foi o que acabou afastando o pastor Daniel de Almeida, ex-maçom e hoje na 2ª Igreja Batista de Macaé (RJ). “Vi que aquilo era um culto, e como já tinha feito minha escolha pela igreja, pedi meu desligamento”.

J. DIAS
Fonte: Revista Eclésia
http://www.santovivo.net/

sexta-feira, 28 de maio de 2010

De continência e casmurrice


Francisco Espiridião

Recebi dia desses um e-mail de certa forma amável de um ex-aluno. Digo “de certa forma amável” porque esse ex-aluno, ainda que sem querer, deixou-me encafifado. Consciente de um traço peculiar de meu caráter que eu jamais imaginava possuir: sou carrancudo. Logo eu, que até aqui me imaginava a pessoa mais expansiva do mundo.

É verdade que não costumo muito me olhar no espelho. Nem mesmo pela manhã, quando escovo os dentes. Muitas vezes descubro já na rua que devia ter tirado a barba. Aliás, por ser tão rala, incomoda pra burro. Nas poucas vezes que me deparei com minha imagem, foi só decepção. A barba lembra a do Salsicha, sabe, aquele amigo do Scooby Doo.

Convenhamos... carrancudo? Algumas vezes já me disseram que sou tímido. Concordo, ainda meio que discordando. Quando não conheço bem o ambiente, sou tímido mesmo, reconheço. Mas depois, me solto. Acho até que gosto de tirar umas brincadeiras para deixar o ambiente mais descontraído, etc. e tal... Pelo sim, pelo não, vejo que devo me policiar mais.

Não foi, porém, só para me puxar a orelha que o meu ex-aluno me mandou o citado e-mail. Ele queria lembrar algumas peripécias de nosso relacionamento de sargento/alunos, ordens e contra-ordens, coisas vividas há mais de 20 anos na caserna. Para ser mais exato, 21 anos. É esse o tempo que ele vai completar de efetivo serviço já na próxima terça-feira.

O ex-aluno é nada menos que Aldecir de Souza Queiroz, oficial da Polícia Militar. Ele e seus companheiros de turma incorporaram na “briosa” em 1º de junho de 1989, para fazer o Curso de Formação de Soldado PM, no extinto Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP), que funcionava, na ocasião, numa dependência externa da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo.

Naquele tempo, eu era 2º sargento e ocupava a função de monitor da disciplina de Português (hoje extinta dos cursos policiais militares), tendo como instrutor o coronel da reserva remunerada – então 2º tenente – Quezado. Valorosos militares saíram daquelas três primeiras turmas de 1989!

Delas, a PM dispõe hoje de capacitados oficiais superiores, entre tantos, os coronéis Rosael, Egberto e Wilson Nunes, sem falar em não menos importantes praças. O Corpo de Bombeiros também ganhou daquelas turmas vários oficiais e praças com premiada e extensa lista de bons serviços prestados à sociedade roraimense.

Quero aqui citar dois: os coronéis Leocádio e Mamed. Mamed foi secretário de Estado de Segurança Pública e Leocádio é, hoje, o diretor geral da Academia de Polícia Integrada, a API, órgão responsável pela formação e especialização de todo o corpo de segurança no âmbito do Estado.

Naquele tempo, eles me prestavam continência. Hoje, sou eu quem lhes tira o chapéu. Parabéns a todos!

(*) Jornalista, policial militar da Reserva Remunerada, autor de Até Quando (2004) e Histórias de Redação (2009); e-mail fe.chagas@uol.com.br; blog www.franciscospid.blogspot.com.

Ficha Limpa já!

Confesso que sou meio obturado, mesmo. Quando olhei a foto aqui ao lado, de relance, não tive a perspicácia de ver que o homem está à frente das grades. Juro que pensei que ele estava atrás.

É por essas e outras que acredito que o Ficha Limpa deve valer o quanto antes. Se já estivesse em vigor, nada me levaria a crer que o impoluto senador Romeu Tuma pudesse ser um pilantra atrás das grades. Né não? 

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Veja essa!

"Se eu fosse argentino e tivesse razões para detestar o Brasil, eu criaria uma entidade de defesa do desmatamento da Amazônia. Seria um desastre econômico para o Brasil, e eu, como argentino, ficaria feliz."
(Jared Diamond, cientista (biólogo, historiador e geógrafo) e escritor americano, nas páginas amarelas de Veja desta semana).

domingo, 23 de maio de 2010

Uma lenda chamada Josimar

Foto: globoesporte.globo.com
Por Francisco Espiridião

Nessa sexta-feira, à noite, encontrei o cidadão Josimar Higino Pereira. Como qualquer ser normal, saboreava tranquilamente um peixe no escabeche, recheado a uma boa e agradável companhia. Isso tudo num boxe instalado de forma precária na lateral direita da Estação Rodoviária de Boa Vista.

Além de delicioso e barato, o local é aconchegante, principalmente por ficar ao ar livre e dispor de garçons e garçonetes atenciosos. Um deles, o próprio dono do pequeno negócio. A coisa pega quando a chuva resolve dar o ar da graça, é claro. Mas, aí já é outra história. Além do mais, isso não aconteceu naquela noite. Pelo menos enquanto estivemos lá.

Aí você me pergunta: “E eu com isso? Quem é Josimar Higino Pereira, para merecer tão grande deferência de um decadente articulista?” Calma, refresco-lhes a memória: trata-se daquele lateral-direito que brilhou muito – não no Corinthians, mas sim – na Seleção Brasileira liderada pelo técnico Telê Santana, na Copa de 1986, no México.

Nesta época de Copa do Mundo, não me furtei a interpelá-lo. Não foi nenhuma entrevista, reconheço. Até porque eu sequer cheguei a me apresentar como jornalista. Na verdade, depois de tudo, analiso que agi mesmo como tiete diante de pessoa tão importante, que tantas alegrias dera ao Brasil.

Foram apenas dois gols com a camisa da Seleção Canarinho. Mas, convenhamos, dois gols numa Copa do Mundo não é coisa para qualquer um. Tantos campeões estão lá há anos e nunca fizeram nenhum! Ir para a Copa já é um feito inominável. Ainda mais nas condições em que Josimar embarcou.

Convocado de última hora, ele substituiu o “insubstituível” Leandro, que desistira no último momento de ir à Copa do México em solidariedade ao colega Renato Gaúcho, cortado por indisciplina pelo técnico Telê Santana.

Quando vi Josimar ali, sentado próximo a mim, resolvi cumprimentá-lo. A primeira pergunta que me veio à mente foi: “Como você se sente nesse momento de grande expectativa, com a Copa do Mundo às portas?” Estava pronto para ouvir como resposta algo rebuscado, comportamento próprio daqueles que se acham “o cara” (o que ele fora, sem dúvida!).

Qual nada! A resposta foi tão simples que me desconcertou: “A gente fica apreensivo, torcendo para que tudo dê certo, como qualquer brasileiro”. Aí, me lembrei que ele jogava ao lado de ninguém menos que Zico, Alemão, Sócrates, Edinho, Júnior... Só fera do futebol brasileiro na época.

Segurando a emoção, aproveitei para dizer-lhe que ainda tinha nítida na memória a imagem daqueles dois gols importantes que ele marcara contra as seleções da Irlanda do Norte e da Polônia.

Demonstrando ar de agradecimento, Josimar simplesmente me abraçou. Agiu como quem se vê recompensado por ter sido lembrado. Senti naquele momento que ainda é possível existir no ser humano uma virtude tão escassa nesses dias conflituosos: a humildade.

Josimar, você merece não só ser lembrado, mas também festejado pelas alegrias que proporcionou ao povo brasileiro. Que Deus te abençoe!

QUE BABACA EU SOU!

Confesso que quando vi na TV os parlamentares festejando com tanta ênfase a aprovação do projeto Ficha Limpa, logo me acendeu a tecla SAP.

-- Isso não está me cheirando bem - pensei. -- Logo eles, festejando um negócio tão bom para o país assim? Aí tem!

E não é que tinha mesmo? A coisa foi feita com tamanha maestria que não vai pegar ninguém. Nenhum "ficha suja" ficará impedido de disputar as próximas eleições.

Eles tinham mesmo o que festejar. E eu, que botava tanta fé no negócio... Que babaca eu sou!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Carga de impostos consome 148 dias de trabalho dos brasileiros

Os brasileiros terão de trabalhar até a sexta-feira da próxima semana, dia 28 deste mês, apenas para cumprir suas obrigações tributárias com os fiscos federal, estaduais e municipais.

Serão 148 dias de trabalho no ano, um dia a mais do que os trabalhados em 2009 e o mesmo número de 2008.

O cálculo faz parte do estudo sobre os dias trabalhados para pagar tributos, divulgado ontem pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário).

Segundo o estudo, hoje os brasileiros trabalham quase o dobro do que trabalhavam na década de 1970 (76 dias) apenas para os fiscos.

Números estratosféricos

Nesses 148 dias, os três fiscos arrecadarão quase R$ 500 bilhões. Nesta quinta, o Impostômetro (painel na capital paulista que registra, em tempo real, a carga tributária no país) já marcava mais de R$ 460 bilhões.
 
Com base no estudo, o IBPT diz que 40,54% da renda bruta dos contribuintes estará comprometida neste ano com tributos.

Os brasileiros estão entre os que mais pagam tributos no mundo, perdendo apenas para os suecos (185 dias) e os franceses (149 dias). Os espanhóis (137), os norte-americanos (102), os argentinos (97), os chilenos (92) e os mexicanos (91) trabalham menos do que os brasileiros.

Forte Príncipe da Beira

Com o rio Guaporé ao fundo, no hoje estado de Rondônia, fronteira com a Bolívia, o forte foi construído pelos portugueses nos idos de 1776, para assegurar a posse da terra que fazia parte do reinado por força do segundo tratado de Madri, assinado em 1750.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Equiparação já - II

Servidores de ex-territórios podem mudar enquadramento
Outra emenda aprovada pelo Plenário nesta quarta-feira permite a todos os servidores dos ex-territórios de Rondônia, Roraima e Amapá optarem pela inclusão em quadro de pessoal em extinção do governo federal.

Poderão fazer essa opção os policiais militares e os servidores municipais que estavam em exercício na data em que os ex-territórios foram transformados em estados, assim como todos os servidores admitidos até a data da posse do primeiro governador eleito (15 de março de 1987), assim como aposentados e pensionistas.

A emenda proíbe o pagamento de diferenças remuneratórias a qualquer título, mas propõe como estrutura salarial dos policiais civis e militares e do corpo de bombeiros aquela aplicada aos policiais do Distrito Federal.

Equiparação já - I

O plenário da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira emenda que veio do Senado à medida provisória 472 que permite aos servidores dos ex-territórios optarem pela migração para os quadros da União.

A medida favorece, sobretudo, policiais militares e funcionários de municípios que trabalhavam na época em que o ex-território virou estado.

O Ministério do Planejamento foi voto vencido nessa batalha que se arrasta há anos no Congresso Nacional. Na votação de ontem, PT, PSDB. DEM e a torcida do Flamengo disseram "sim".

Ninguém sabe ao certo qual será o custo financeiro da transposição desses servidores. Os "novatos" que farão parte do quadro de pessoal federal terão como parâmetro remuneratório a tabela dos policiais civis e militares e do corpo de bombeiros do Distrito Federal.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Socorro, quero um culto velho – A força da ignorância (ou: socorro, não aguento mais cantar corinhos!)

Por: Isaltino Gomes Coelho Filho

Vivemos mesmo numa época de ignorância, de obscuridade intelectual e de irracionalismo. Infelizmente, a ignorância tem se tornando jóia cultivada neste país, e os mais pensantes são cada vez mais postos de lado. Quando um político de expressão nacional diz que livro é como academia de ginástica: a gente olha e foge, é porque a coisa ficou feia mesmo. O pior é que a ignorância é cultivada com arrogância. Parece que quanto mais ignorante, mais digno de crédito. E a espiritualidade evangélica tem se distanciado do pensar, que tem sido cada vez mais visto como ato carnal, quando não diabólico. A ignorância está em alta. Está difícil ser evangélico, também, hoje, a quem é pensante.

Ouvi no noticiário televisivo: um rapaz de vinte e poucos anos, gaúcho, estudante de Teologia na Bolívia, desapareceu nos Andes, quando fora escalar uma montanha de 6.300 metros. O rapaz não tem experiência alguma de alpinista, e ainda assim foi sozinho porque, segundo a mãe, queria ter uma experiência com o Espírito Santo, queria encontrar o Espírito Santo. Como achou que ele é boliviano e mora nos Andes foi fazer a escalada.

Com todo respeito: o que leva a uma pessoa a sair do Rio Grande do Sul onde há bons seminários, passando pelo Paraná, onde também os há, e ir estudar Teologia na Bolívia? Respeitosamente: desde quando a Bolívia tem expressão em ensino teológico? Este jovem não tinha um pastor que o orientasse? E o que leva alguém, sem experiência alguma, a escalar sozinho uma montanha de 6.300 metros para encontrar o Espírito Santo? De onde lhe veio a idéia de que numa montanha encontraria o Espírito? E como convertido e aparentemente vocacionado, ainda não encontrara o Espírito? O que ensinaram a este jovem na igreja e depois no seminário? Sei que a família está sofrendo e que é hora de consolar, mas não posso deixar de dizer: quanta gente tonta, sem noção das coisas, e usando a espiritualidade como pretexto para a falta de juízo! Mas isto é reflexo do cristianismo que pregamos e cantamos hoje em dia. Cantamos autênticos absurdos teológicos e que se chocam contra a Bíblia, e ficamos por isto mesmo. As pessoas não pensam no que cantam, mas se apenas o ritmo é bom, agitado e as faz sentirem-se bem.

Temos um cristianismo cada vez mais sem Cristo, e cada vez mais com o Espírito Santo, sendo que por Espírito Santo as pessoas entendem uma experiência extra-sensorial. Porque uma experiência com o Espírito aproxima mais de Cristo, pois esta é sua missão. O evangelho está se tornando um ajuntamento de sentimentos, sensações, experiências místicas. Culpo um púlpito que não é exegético e corinhos ingênuos e até tolos. Os muitos corinhos que enxameiam nossa liturgia nos fazem cantar tantas inconveniências que fico abismado que pessoas razoavelmente lúcidas em sua vida secular cantem aquelas letras. Boa parte delas é confusa, sendo difícil ligar uma linha à outra. Pessoas que são professores cantam tantos erros de português, em que “tua” e “sua”, que são pessoas diferentes, se misturam e por vezes nem se sabe quando se fala de Deus ou de alguma outra pessoa. Raramente se fala de Jesus, e quando se fala dá para notar que Jesus é cada vez mais um conceito para dentro qual as pessoas projetam seus sonhos de consumo ou de classe média, que o Redentor e Salvador. A linguagem é horrorosa: mergulhar nos teus rios, beber nos teus rios, voar nas asas do Espírito, subir o monte de Sião, estar apaixonado por Jesus, subir acima dos querubins, uma série de expressões que não fazem sentido algum. Mas os compositores estão acima da crítica, mesmo quando fazem coisas ridículas, como andar de quatro em público. E quem canta os tais corinhos se sente bem. E também não aceita correção. Quem tenta corrigi-los em suas heresias e tolices é vaidoso, carnal, fossilizado, etc. O que vale não é se o que se canta é certo, mas se faz bem. As pessoas querem se sentir bem e ter alguma experiência. O conteúdo do que se canta é irrelevante. Sendo honesto: não agüento mais cantar corinhos! Chamem-me de vaidoso ou pernóstico, que não fará diferença, mas a maior parte dos corinhos, mesmo que na nova semântica se chamem pomposamente de louvor, é uma ofensa a quem sabe ler e interpretar um texto e tem uma noção mínima de conteúdo da Bíblia.

“Eu tenho a força”, bradava He-Man. Uma força mística, não divina, mas uma energia cósmica. Parece-me que é essa força espiritual que as pessoas buscam. Eles não querem aprofundamento no evangelho nem estudar a Bíblia. Eles querem sensações e experimentar uma força. O evangelho está se diluindo no esoterismo que grassa no mundo atual.

Esta é uma palavra especial aos pastores e ministros de música, que julgo eu, são as pessoas mais responsáveis pelo que acontece e que podem mudar a situação. Quero alinhavar algumas sugestões e lhes peço, respeitosamente, que pensem nelas.

1. FUJAM DO COPISMO

Chacrinha dizia que “na televisão nada se cria, tudo se copia”. No cenário evangélico também. Há uma usina produtora de corinhos, de forma comercial, que massifica nossas igrejas. Nossos jovens cantam as mesmas coisas vazias em todos os lugares. Em várias igrejas se vê a mesma deselegância de adolescentes robustas, saltitando, num monte de véus, no que pretende ser uma coreografia, mas que mostra gestos descoordenados e deselegantes. Chega a ser triste de ver as pessoas saltitando sem habilidade e com uns gestos que nada têm a ver com o ritmo da música. E a gente fica sem saber o que fazer: se olha as jovens pulando, se pensa no que está cantando, se nota as figuras do multimídia, ou os erros de português das letras, ou ainda o embevecimento do chamado “grupo de louvor”, que volta atrás, repete uma estrofe (quando há estrofe), tremelica a voz, faz ar de quem está sentindo dor. Mas é o padrão na maior parte das igrejas. Parece um shiboleth. Quem não faz assim corre risco de ser execrado. Porque os detentores da verdade litúrgica inovadora são fundamentalistas: fora do modelo deles não há louvor nem espiritualidade. Mas eu pergunto: é preciso fazer tudo igual? Convencionou-se que sim, porque ser antiquado é uma ofensa inominável. E para alguns, fora do padrão corinhos e danças tudo é velharia e não há espiritualidade.

Se você é líder e não concorda, diga que não concorda. Não ceda por medo. Há pastores que têm medo de perder o pastorado e cedem a direção do culto aos jovens. Eles cantam, cantam, e depois se sentam e se desligam do resto da atividade, quando não saem do templo. Há um descompasso entre o que se cantou e o que se prega. Porque se canta um evangelho muito diluído. Há pastores que têm medo de perder o rebanho, massificado por este padrão, e o usam. Tenho ido a igrejas em que pastores ficam alheios aos corinhos (recuso-me a chamá-los de “louvor”), mas dizem-me candidamente: “Eu não gosto, mas o pessoal gosta”. Ele deixa de ser o orientador do povo e passa a ser um garçom que serve o que o povo gosta. Ministro de música também age assim. E também está errado. Se estudou música e passou por um seminário deve ter uma proposta de liturgia menos medíocre e que atenda a todas as faixas etárias da igreja. É sua responsabilidade. Nossos cultos estão sendo empobrecidos pelos corinhos. A música é de baixa qualidade e as letras são aguadas. Os corinhos são cada vez mais efêmeros. Ministro de música, não copie a pobreza musical e intelectual dos corinhos. Pensar não é pecado. E ser inteligente também não é. Se os “levitas” podem discordar dos que chamam depreciativamente de “conservadores”, por que nós, conservadores, não podemos discordar dos “mediocrizadores” da música evangélica?

2. O QUE A BÍBLIA DIZ?

Tudo na igreja deve ser submetido ao crivo da Bíblia, inclusive o que se canta. Os compositores não estão escrevendo uma nova revelação e estão sujeitos ao crivo da Bíblia. Devem ser humildes e não pensarem de si como oráculos de Iahweh. Quem queira subir o monte santo de Sião deve ler Hebreus 12.22-29 e ver que ele é um símbolo do evangelho, da igreja de Deus, e que cada crente já está nele. O monte Sião não tem nada para nós. Quem queira subir acima dos querubins deve ler Isaías 14 e verificar que alguém quis fazer isto no passado e foi expulso do céu. Quem cante “Quero ver a tua face, quero te tocar”, deve se lembrar que Deus disse a Moisés: “Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá” (Êx 33.20).

As primeiras declarações de fé da igreja foram expressas em cânticos. Muitas afirmações litúrgicas do Novo Testamento foram expressões teológicas que firmaram os cristãos. Lutero firmou a Reforma com suas pregações, seus escritos, mas muito mais com seus cânticos. São cânticos que ficam na mente e muita gente está subindo o monte porque canta isto. A igreja precisa cantar sua fé e sua fé está na Bíblia. Toda letra de cântico deve ser submetida ao crivo bíblico. O certo não é o que a pessoa sente nem se o que ela canta lhe faz bem. O certo é o que está de acordo com a Bíblia.

O conteúdo do evangelho foi muito definido: Cristo crucificado. Mas pouco se cantam Cristo e a sua cruz. Precisamos cantar o ensino da Bíblia. “Doce canto vem no ar com a primavera, Flores lindas vão chegar com a primavera, Lírios, dálias e alecrins, Violetas e jasmins, O sol vai brilhar, passarinhos vão cantar, Com a primavera”. O que isto tem a ver com Cristo, com a salvação, com a segurança dos salvos?

Temos abandonado a Bíblia como fonte de doutrina, trocando-a por revelações e sonhos de gurus. Temo-la abandonado como inspiradora de modelo gerencial para a igreja, assumindo padrões de administração humana. Muita pregação, mesmo com ela sendo lido, é apenas emissão de conceitos culturais, e sendo ela mero pretexto para o discurso. E temo-la deixado de lado como balizadora do que cantamos. A função do cântico não é distrair as pessoas nem fazê-las sentir-se bem no culto, mas ensinar as grandes verdades de Deus. O culto deve ser doutrinador, sim. Preguei num congresso de jovens em Manaus, e deselegantemente, o dirigente tomou a palavra após minha fala e disse: “Não me interesso por doutrina, e sim por Jesus”. Pedi o microfone de volta e fiz uma pergunta: “Sem doutrina, que Jesus você tem?”.

Com nossos cânticos atuais, não temos Jesus. Em muitos deles temos um espírito de grupo, uma cultura grupal ou um Espírito que mais se parece com a Força de He-Man que com o Espírito Santo. É preciso subordinar tudo ao crivo da Bíblia. O evangelho está se tornando cada vez menos bíblico e mais sentimental. Porque está faltando Bíblia.

3. NÃO DESPREZE SUA HERANÇA TEOLÓGICA E LITÚRGICA

O terceiro aspecto que abordo é este: não despreze sua herança teológica e litúrgica. Há uma tradição que engessa e que fossiliza. Mas há uma tradição que enriquece e que dá balizamento. O evangelho não começou agora. A igreja não surgiu há alguns poucos anos. Os momentos de louvor e adoração não foram criados agora. Muitos deles, no passado, deixaram marcas profundas de avivamentos que impactaram a sociedade.

Até agora caí de tacape e borduna nos corinhos, sem abrir espaço para reconhecer que alguns sejam bons. Foi de propósito. Creio que consegui um pouco de atenção. Creio que há cânticos bons e que trazem conceitos espirituais seguros. São coerentes, biblicamente falando. E respeitam a herança teológica do protestantismo. Porque este critério também tem valor: os cânticos estão reafirmando nossa fé ou modificando a nossa fé? Infelizmente, a maioria me deixa desconfortado: não os canto porque não expressam minha fé, a fé em que fui criado, a “bendita fé de nossos pais”, como diz um hino.

Nós temos um passado e não podemos fugir dele. A ignorância do passado leva a cometer os mesmos erros cometidos. Houve uma longa luta para firmar o cânon do Novo Testamento, e precisamos lembrar que é ele que interpreta o Antigo. Muita gente tem cantado o Antigo Testamento, mas nós somos cristãos. Nós cantamos a fé em Cristo. Se o Antigo Testamento é pregado, deve ser interpretado pelo Novo. Se o Antigo é cantado, deve ser interpretado pelo Novo. Estão querendo rejudaizar o evangelho, questão que a igreja já resolvera em Atos 15 e contra a qual Paulo escreveu a sua mais dura carta, a epístola aos gálatas. Somos filhos do Novo Testamento, e não do Antigo. Somos filhos dos evangelhos e das epístolas, e não de Salmos, embora Jesus os usasse. Mas seu próprio jeito de usar os salmos nos orienta: ele os reinterpretou em sua pessoa. Cantemos Jesus, cantemos a fé cristã e não meras sensações, cantemos a cruz, o túmulo vazio, o perdão dos pecados. Cantemos a Igreja, e não Israel. Somos cristãos e não judeus. Cantemos que “a cruz ainda firme está e para sempre ficará”.

Somos salvos pela graça por meio da fé em Cristo. Não somos salvos pelo Espírito Santo nem por uma experiência litúrgica. O Espírito é uma pessoa e não sensações: “O Espírito Santo se move em você com gemidos inexprimíveis” é algo sem sentido. Ele geme por nós, em oração, com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26). Mas não se move dentro de nós, com gemidos. O ponto central do evangelho é Cristo e sua cruz. Este é nosso tesouro teológico, herança à qual devemos nos agarrar. Qualquer cântico que deslustre isto, que diminua Jesus, que esmaeça a cruz, é blasfêmia. Não quero cânticos de auto-ajuda. Quero Jesus e sua cruz. Quem tem Jesus não precisa de muletas emocionais. Quero cânticos bíblicos, de acordo com a fé que uma vez foi entregue aos santos (Jd 3).

CONCLUSÃO

Sei que foi uma palestra dura. Não vou me desculpar porque o que eu disse é o que eu creio. Sim, estou cansado da ditadura litúrgica que me parece associada a um fundamentalismo: só nós sabemos o que é espiritual e vocês estão fora, são do passado, são frios, são formais. Eu me recuso a cantar bobagens com roupagem espiritual. E desafio vocês a restaurarem a liturgia com conteúdo, com ensino. Desafio-os a não cederem à força da pobreza litúrgica que nos avassala.

Há algo mais comovente e com mais conteúdo que “Castelo Forte”, “Aleluia”, “Amazing Grace”? Por que a ditadura dos corinhos? Por que, no natal, sou obrigado a cantar que quero voar nas asas do Espírito? Que os compositores de corinhos componham música de boa qualidade com letras de conteúdo, e ajustada às épocas, também. Os corinhos são monocromáticos. Dizem sempre a mesma coisa. Nunca ouvi um exortando à confissão de pecados, falando do natal, da dedicação de crianças, da semana da paixão, de missões, da Bíblia como Palavra de Deus. Tudo é igual: louvar, adorar, contemplar, sentir-se bem. Não permitam a monocromia, que é sinal de pobreza.

Escrevi, tempos atrás, um artigo intitulado “Quero uma igreja velha”. Esta palestra é um desabafo e um pedido de ajuda: “Socorro, quero um culto velho”. Com a Bíblia exposta, com solenidade, com cânticos com nexo, com os grandes hinos de nossa fé, com Cristo e sua cruz brilhando. Sim, estou cansado da liturgia atual, que é pobre e alienante.

Preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho para o Encontro de Músicos, na PIB de Manaus, 15.11.8

http://www.isaltino.com.br/2008/11/a-forca-da-ignorancia-ou-socorro-nao-aguento-mais-cantar-corinhos/

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A batina trocada pela vida a dois

Estima-se em 7 mil o número de padres "desgarrados" no Brasil. Eles abandonam o sacerdócio para se casar ou viver em união estável. Muitas vezes, enfrentam preconceitos

Por: Rodrigo Couto

A falta de sacerdotes no interior e nas grandes cidades do país pode estar sendo potencializada pelo fato de que muitos têm abandonado a batina para se casar. Apesar de a Igreja Católica não divulgar oficialmente estatísticas sobre presbíteros que optaram pelo matrimônio, o Movimento Nacional das Famílias dos Padres Casados estima que existam pelo menos 7 mil pessoas nessa condição ou vivendo em união estável no Brasil. Pesquisa multinacional do Vaticano revelou que, de 1964 a 2004, 69 mil pessoas largaram as obrigações religiosas para viver uma vida a dois. Depois de se desvincularem da doutrina, alguns são vítimas de preconceito e têm dificuldade para conseguir um emprego. Outros, mesmo após constituir família e com uma carreira profissional estabilizada, pedem para voltar a realizar missas.

É o caso do padre Antonio Evangelista, 53 anos, hoje advogado e professor de filosofia em uma universidade de Brasília. Casado com a dentista Aila Ribeiro, 48 anos, desde 2000 — mesmo ano em que recebeu a autorização do Vaticano para o matrimônio — Evangelista acredita que poderia voltar a realizar missas para os fiéis. “A Igreja deveria permitir que os padres casados rezassem para a comunidade. Hoje, depois do convívio familiar, me sinto mais preparado”, afirma. Mesmo sem o aval para a consagração do pão e do vinho, ele mantém a prática em sua casa. “Em ocasiões especiais, como a Páscoa, celebro entre a família e os amigos”, salienta Evangelista, que coordena o movimento das famílias dos padres casados no DF. Estimativas da associação apontam que a capital federal deve abrigar aproximadamente 200 sacerdotes nessa situação.

Para a Igreja Católica, o sacramento da ordem, recebido pelos seminaristas quando se tornam padres, é eterno, como o batismo e o casamento. Por isso, não existe ex-padre. Apesar da pouca idade, os dois filhos de Evangelista nunca contestaram sua situação de sacerdote casado. Na opinião de Dimarco, 8 anos, a missa do seu pai é melhor que a das igrejas. “É com menos gente e mais rápida. Assim tenho tempo para brincar”, diz o garoto. “Acho bom porque não preciso sair de casa”, completa Theodoro, 6.

Evangelista e Aila se conheceram em 1996 na paróquia do Santíssimo Sacramento, na L2 Sul. Ordenado em 1989, o padre revolveu solicitar o desligamento de suas atividades na igreja em 1999, quando decidiu se casar com uma das integrantes da equipe de liturgia. “Não me arrependo de nada, mesmo com as dificuldades enfrentadas tanto no seio familiar quanto entre os frequentadores da paróquia”, lembra. Segundo Aila, é uma incoerência da Igreja não permitir que padres casados realizem missas. “É lamentável ter de optar”, ressalta.

Celibatofobia

Questionado sobre o fim do celibato entre os padres, o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Dimas Lara Barbosa, é enfático. “Seria um erro a Igreja do rito latino perder essa riqueza que temos construído ao longo dos séculos”, afirma. “Acho impressionante como o celibato questiona. Parece que hoje há uma celibatofobia. Quem opta por uma vida consagrada na castidade é uma espécie de E.T. e pessoa desequilibrada, o que não é verdade. O celibato é uma fonte inesgotável de santificação”, opina.

Na opinião de dom Dimas, quem melhor expressou a relação entre casamento e celibato foi o papa João Paulo II no catecismo da Igreja: “Celibato e matrimônio vêm do mesmo senhor e os dois exigem renúncia”, cita.

Nascido na pequena São Domingos de Goiás, o padre Tarcísio Bráulio, 30 anos, não se arrepende de ter largado a função que exercia em uma igreja de Planaltina (GO) para viver um amor avassalador com a então secretária paroquial Valdenice Ribeiro, 25. “Me ordenei sem vocação. Não tenho vontade de voltar a celebrar missas”, reconhece. Preceituado em 3 de julho de 2004, Bráulio pediu o desligamento — ainda não enviado ao Vaticano — em 15 de fevereiro de 2009. “Estava vivendo uma vida dupla, por isso pedi o afastamento”, relata, ao confirmar que chegou a manter relações sexuais com Valdenice quando ainda celebrava missas. “Errei. Pedi perdão ao bispo e optei por sair”, comentou.

Pai do pequeno Tiago, com um mês de vida, Tarcísio vive ao lado de Valdenice, que já é mãe de outras duas crianças. “Ela já estava separada quando decidimos ficar juntos”, adianta. Funcionário público desde dezembro, o padre diz que foi vítima de preconceito e teve dificuldade para obter emprego. “Fomos rejeitados por parte da comunidade e só consegui trabalhar porque um catequista de Planaltina me indicou para uma vaga”, observa. Em sua opinião, Valdenice foi quem mais sofreu. “Nesse caso, a mulher é considerada culpada. Quando saíamos às ruas as pessoas apontavam.” Defensor do celibato opcional, Tarcísio não se vê novamente na função de padre. “Fui muito feliz, mas faltava algo para me completar”, conta.

Abstenção sexual

Para a Igreja Católica, o conceito vai além da proibição do casamento e de uma esposa. É a abstenção de relações sexuais para os que alcançaram o grau presbiteral (padre) ou episcopal (bispo). No Brasil e nos países que adotam o rito latino, o celibato não é exigido no diaconal (diáconos), primeiro grau do sacramento da ordem.

Seguido pela maioria

A Igreja Católica brasileira segue, predominantemente, o rito latino. Quase 98% dos fiéis de todo o planeta seguem essa corrente. Ao contrário do rito latino, o oriental permite o celibato voluntário entre os padres.

(Transcrito do Correio Braziliense, de 17/5/2010, às 13h50)