sábado, 29 de dezembro de 2012

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Gol de placa

Por Francisco Espiridião

O governo de Roraima concedeu, nessa semana que passou, ao governador de Pernambuco, a mais alta comenda, a Medalha do Mérito Forte São Joaquim no grau de Grã-Cruz. A "candinha" não deixou barato. Questionou a razão.

Ventilou que Eduardo Campos nada teria feito por Roraima. Engano. No discurso de entrega da comenda, o governador José de Anchieta declarou que o pernambucano fez mais por Roraima que muitos políticos locais.

Uma alfinetada que deve ter tido ressonância no mais íntimo de muitos que já nos representaram ou nos representam na esfera política do Planalto Central.

Olhando por outro viés, Anchieta fez gol de placa ao condecorar Eduardo Campos. O homem pode ser presidente de República. Se não agora, nas eleições de 2014, o será nas de 2018, o mais provável.

O próprio porta-voz-não-declarado da Presidência, o ministro-secretário-geral Gilberto Carvalho, declarou essa possibilidade, com todas as letras, durante entrevista concedida ao repórter Kennedy Alencar, do É Notícia, na noite de domingo passado:

“Eu não acho que é um cenário absurdo (a eleição de Eduardo Campos com apoio do PT) para 2018. Pode ser maturidade do PT convidar outro partido para ser cabeça de chapa e voltar para a planície.”

Bingo!   

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O LADRÃO DO NATAL

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

Pastoral do boletim da Igreja Batista Central de Macapá, 23.12.12

No Shopping Macapá, ouvi um jovem dizer a outro: “Papai Noel roubou o lugar de Jesus!”.  É verdade. As pessoas não querem saber de Deus, mas de festas religiosas amaciadas. Na “semana santa”, um coelho que bota ovos de chocolate tomou o lugar de Jesus. No natal, o personagem central é um idoso esquisito. Nos dois eventos, o sentido religioso foi substituído pela confraternização humana. São datas comerciais. O apelo é para consumir. O natal, por exemplo, perdeu o sentido espiritual. São presentes, bebidas e a ceia da meia noite.

Comércio quer vender. Pior que ele são os cristãos que desfiguram o natal. Alguns desfiguraram o evangelho com suas esquisitices e agora combatem o natal, dizendo-o festa pagã. Opõem-se a qualquer culto com ênfase no nascimento de Jesus. São os reinventores do evangelho.


Para outros, é troca de presentes, comida, e roupa nova. Mas o natal é a encarnação de Deus. Ele se fez homem. Não para pregar fraternidade, que isso todos pregam. Eis o natal: “Mas quando chegou o tempo certo, Deus enviou o seu próprio Filho, que veio como filho de mãe humana e viveu debaixo da lei para libertar os que estavam debaixo da lei, a fim de que pudéssemos nos tornar filhos de Deus” (Gl 4.4-5). O natal é isto: Deus se fez homem. O Eterno entrou no tempo. O Infinito entrou no espaço. O Santo veio aos pecadores.

Numa cidade onde trabalhei os pastores queriam fazer um jantar natalino. Pediram-me para levar dois perus. Estranhei que pastores também vissem o natal como comida. Ponderei: “Por que não fazemos uma refeição comum, e damos ao orfanato batista da região, bem carente, o que gastaríamos?”. Fui tido como “desintegrado”. Se as igrejas valorizam mais o social, o que esperar de outros? Como criticar o comércio, se nós não damos ao natal o seu verdadeiro sentido?

Muitos crentes não participam do culto de natal “para cear com a família”. Trinta anos atrás, os crentes se esforçavam em levar os parentes não crentes à igreja, aos domingos e em ocasiões especiais, motivos de evangelização. Por isto nós crescíamos. Hoje os parentes não crentes tiram os crentes das igrejas. Por isto tantos deles não se convertem. Eles veem que os maiores momentos de nossa fé não nos são relevantes. A igreja não é relevante para boa parte de seus membros. A presença aos cultos é “se der”. Preguei no aniversário de uma igreja e o pastor anunciou “o ponto alto da noite”: o famoso bolo de glacê e o também famoso refrigerante em copo plástico. O ponto alto de nossos eventos espirituais é comida e festa.

Jesus ou festa humana? Fé ou sentidos? Culto ou barriga cheia? Há crentes que fazem regime após o natal, para perder os quilinhos que ganham. Que pena! Desfiguramos tudo!

Acerte neste ano! Dê o primeiro lugar a Jesus!

sábado, 22 de dezembro de 2012

Brasil, campeão de reciclagem de latinhas

Catar latinhas de cerveja e refrigerante é o maior barato. Que o digam os "experts" do amanhecer do dia no Parque Anauá e Praça Ayrton Senna do dia depois de noite de festa. E isso tem sentido. Não à toa, o Brasil é o campeão de reciclagem de latinhas. O país bateu o recorde em 2011.

Foram 250 mil toneladas de latinhas recicladas, o que corresponde a 98,3% do total produzido no Brasil naquele ano, de acordo com dados da Abralatas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade) e a Abal (Associação Brasileira do Alumínio).

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Congresso é quem está certo

Francisco Espiridião

O Congresso Nacional empurrou com a barriga a votação do Orçamento. Fica para 2013. Com isso, o reajuste geral para servidores públicos federais, arrancado a duras penas, pode ir para as calendas. No mínimo, está na corda bamba.

A justificativa para o adiamento da votação na Casa do Espanto (Câmara) e na Mansão dos Horrores (Senado) foi a liminar concedida pelo ministro Luiz Fux, suspendendo a votação dos vetos presidenciais de coisa aí de uma década passada.

Só que o ministro do Supremo Tribunal Federal disse, nesta quinta-feira (20), que sua decisão nada tem a ver com outras votações senão sobre os vetos. A fila é clara. Só os vetos (mais de 3 mil).

No frigir dos ovos, tudo continua como dantes. Tudo concorre para "encarcar" cada vez mais o "barnabé". Afinal, para quê servidor público com aumento? Que besteira! Tá certo o Congresso.

A molecagem parida por um octogenário atesta que o perigo mora no Congresso

Por Augusto Nunes

O país que aplaude o Supremo pela condenação dos mensaleiros é o mesmo que elege um Congresso com cara de clube dos cafajestes, que trata a pontapés a honestidade. O país que promoveu Joaquim Barbosa a herói popular é o mesmo que, a cada quatro anos, ratifica a supremacia dos casos de polícia no Poder Legislativo. O país que admira a face clara contempla a escura com bovina mansidão. Decididamente, o Brasil não é para amadores.

E surpreende até quem acha que já viu tudo, informa o espetáculo do absurdo encenado na Praça dos Três Poderes. A sucessão de espantos chegou ao clímax nesta quarta-feira, com a molecagem arquitetada por um octogenário: foi José Sarney o pai da ideia de votar numa única sessão mais de 3 mil vetos presidenciais acumulados desde o começo do século. Para derrubar o veto de Dilma Rousseff que modificou a nova distribuição dos royalties do petróleo, o Congresso mais preguiçoso do mundo resolveu fazer em algumas horas o que não fez durante 12 anos.

Os gerentes da Casa do Espanto e da Mansão dos Horrores primeiro tentaram furar a fila. Barrados pela liminar do ministro Luiz Fux que proibiu a esperteza inconstitucional, Sarney sucumbiu a um ligeiro surto de coragem. “A decisão usurpa prerrogativa do Poder Legislativo e o deixa de joelhos frente a outro Poder”, protestou no recurso encaminhado ao STF. Como se o Congresso não estivesse de joelhos diante do Executivo desde que foi amestrado por Lula. Como se não vivesse de quatro para os próprios interesses corporativistas.

Por saber disso, Sarney voltou no mesmo dia ao estado normal. Em vez de desafiar o Supremo, preferiu torturar a lógica, estuprar a sensatez e enterrar 3 mil vetos na mesma cova rasa. O cansaço chegou antes do começo do trabalho. Exauridos pela fabricação de tantas pilantragens em tempo tão curto, o chefão do Senado e Marco Maia, presidente da Câmara, resolveram armazenar energias para as festas do fim do ano. Fechado o picadeiro, a noite no circo ficou para 2013.

“Temos o vício insanável da amizade”, ensinou em fevereiro de 2009 o deputado Edmar Moreira, dono de um castelo de R$ 20 milhões que escondeu na roça para escapar do imposto de renda. Esse vício explica, por exemplo, a resistência do presidente da Câmara, Marco Maia, à cassação dos mandatos dos deputados condenados no julgamento do mensalão. Também ajuda a entender por que tramitam no Legislativo tantos projetos concebidos para suprimir poderes e amputar atribuições do Supremo ou do Ministério Público. Um deles proíbe promotores de Justiça e procuradores de contribuírem para o esclarecimento de crimes e a identificação dos culpados.

Há outros vícios, favorecidos pela erradicação da vergonha consumada por todos os partidos. Nesta terça-feira, por exemplo, o sepultamento da CPI do Cachoeira foi o desfecho de uma missa negra celebrada em conjunto por sacerdotes companheiros, aliados e oposicionistas. O PT conseguiu livrar do relatório final o governador Agnelo Queiroz. O PMDB,  interessado em proteger a Construtora Delta e o governador Sérgio Cabral, juntou-se ao PSDB, decidido a resgatar o governador Marconi Perillo, para rejeitar o papelório produzido pelo relator Odair Cunha. Os três partidos logo estarão de mãos dadas para instalar Renan Calheiros na presidência do Senado.

A desfaçatez do Legislativo, que age de mãos dadas com o Executivo, ameaça o equilíbrio entre os Poderes que o Judiciário tenta preservar. Os inimigos do Estado Democrático de Direito estão cada vez mais atrevidos. Para eles, o perigo mora no Supremo. Para quem vê as coisas como as coisas são, o perigo está acampado em instituições controladas por figuras e partidos que se julgam acima e à margem da lei.

Graças ao julgamento do mensalão, o ano terminou com a derrota dos carrascos da verdade, castigados nesta quarta-feira por outra má notícia: o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao STF a imediata prisão dos condenados.  “Em 2013, o bicho vai pegar”, miou Gilberto Carvalho em nome dos vilões que querem mudar o fim do filme. É bom que venham preparados. O Brasil decente vai reaprendendo a vencer.

domingo, 16 de dezembro de 2012

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Custo de produção no Brasil é o menor do mundo e margem é o triplo dos EUA




– Estudo do Sindipeças revela que o custo de produção no Brasil é de 58% do preço final do carro, contra a média mundial de 79% e chega a 91% nos EUA.
 

– Fabricantes de autopeças revelem em Audiência Pública que o Lucro Brasil é de 10%, contra 5% no resto do mundo e 3% nos EUA.

A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado realizou na semana passada em Brasília audiência pública para discutir os altos preços dos carros no Brasil, com a presença de representantes da Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, do Ministério do Desenvolvimento, do Ministério Público Federal, do Sindipeças, o sindicato dos fabricantes de autopeças e deste jornalista.

A série de reportagem falando sobre o Lucro Brasil feita no ano passado – e a repercussão do assunto na mídia – motivou a convocação da audiência, conforme a senadora Ana Amélia, do PP do Rio Grande do Sul, responsável pela iniciativa.

A parlamentar lamentou a ausência da Anfavea, a associação dos fabricantes, que foi convidada, mas não compareceu.

Todos os expositores colocaram a questão dos altos preços do carro praticado no Brasil comparados com outros países: tanto países do primeiro Mundo, Estados Unidos, Europa e Japão – quanto em relação aos nossos vizinhos Paraguai e Argentina.

O exemplo do Corolla foi o mais citado: o carro custa US$ 16,2 mil, nos Estados Unidos, U$ 21,6 mil na Argentina e R$ 28,6 mil no Brasil.

O representante do Ministério Público, Antonio Fonseca, pediu ao Senado a revogação da lei de Renato Ferrari, que regulamenta a distribuição de veículos. Disse que o setor não precisa de regulamentação que essa lei provoca o oligopólio, prejudica a livre concorrência e cria reserva de mercado em regiões do País, o que contribui para o aumento do preço final do carro.

Mas foi o representante do Sindipeças, Luiz Carlos Mandelli, quem apresentou as informações mais contundentes em relação à formação do preço do carro no Brasil. Segundo o estudo apresentado pelos fabricantes de autopeças aos senadores, a margem de lucro praticada no Brasil é a maior do mundo, 10% sobre o valor ao consumidor, enquanto a margem média mundial é de 5% e nos Estados Unidos o lucro é de 3%.

Segundo a entidade, o custo de produção do veículo no Brasil é menor do que em qualquer parte do mundo. Esse custo, que inclui matéria prima, mão de obra, logística e publicidade, entre outros (que as montadoras chamam de Custo Brasil) é equivalente a 58% do valor final do carro. A média mundial é bem maior, de 79%, e nos Estados Unidos esse custo sobre para uma faixa entre 88% e 91%.

Os impostos seguem na mesma proporção. No Brasil o imposto sobre o carro é de 32%, a média mundial é 16% e nos Estados Unidos varia de 6% a 9%.

As montadoras argumentam que a margem é maior no Brasil por causa no custo do capital. Nenhum empresário vai colocar o seu capital num investimento de risco ou de baixo rendimento para ganhar 6% ao ano, ele deixa aplicado na poupança, disse uma fonte dos fabricantes, acrescentando que, se o custo do capital for levado em conta, a margem de lucro do Brasil e dos Estados Unidos ficaria equivalente.

O estudo indica ainda que a margem de lucro das empresas de autopeças de capital fechado, ao contrário, é menor no Brasil em comparação com o resto do mundo. Neste ano, o lucro foi de 4,8% e de 5,8% das empresas de capital aberto, contra 7,2% das empresas no resto do mundo.

Em estudo que comparou os anos de 2009 a 2012, apenas o primeiro ano registrou que o Brasil superou o resto do mundo no lucro com o setor: 4,2% das empresas com capital fechado e 5,0% com capital aberto, enquanto no resto do mundo foi registrado lucro de apenas 1,3%.

O Senado deve convocar novas reuniões para dar continuidade à discussão do assunto.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Cadê os bambus da minha praça?

Por Francisco Espiridião

E os bambus desapareceram da minha praça. A Praça dos Bambus, ali na avenida Santos Dumont, bairro São Francisco. Não faz muito tempo. Eu mesmo não havia percebido, ainda que a trágica perda esteja a saltar aos olhos. Principalmente para mim, que moro quase em frente.

O local hoje, totalmente diferente do que já foi um dia, é-me mais que familiar. Abrigou o Horto Municipal. Lembro-me bem. Em meados dos anos 1970, quando construí – pela metade – a minha primeira casa nas proximidades, foi de lá que surrupiei a brita para o piso.

Local ermo. Pleno inverno. Uma caçamba basculante passava por ali, mais por teimosia do motorista que por qualquer garantia de tráfego. Levava o material sei lá para onde. Bobeada do “motora” e, pronto! Ficou atolada.

Para sacar aquele monte de ferro dos buracos em que se metera, fez-se necessária a possante ação de um D-8. O piso do terreno mais parecia formado de areia movediça. Para o sucesso da “operação saca-caçamba”, a primeira providência foi despejar ali mesmo os três ou quatro metros cúbicos de brita.

Desdita de uns, regalo de outros. Todo dia, quando chegava do trabalho, no final da tarde, eu e a Eliana íamos buscar latas e latas de brita para fazer o piso daquilo que eu chamava, com muito orgulho, de casa.

Construída em madeira de terceira, sem qualquer repartição por dentro. Mas era a minha casa.
Sem o piso, a água minava dentro das quatro paredes que era uma beleza! Daí a pressa. O trabalho de remoção do material do local do atoleiro ao destino final não demorou nem duas semanas.

Aliás, tentar passar por ali transportando tão expressiva carga – areia, pedra brita ou qualquer outro material – era mesmo uma temeridade. Para eu enfrentar o brejo, rumo ao trabalho todas as manhãs, fazia-se necessário arregaçar as pernas da calça até acima dos joelhos. Os sapatos, estes viajavam nas mãos. Lá muito adiante lavava os pés em uma das últimas poças d’água e os calçava.

Mesmo com todos os óbices para o tráfego – motorizado ou a pé –, o local era lindo. Os bambus da minha praça, então, eram de encher os olhos. De tão compridos, pareciam querer tocar o céu. Estavam todos lá.

O tempo passou. O horto mudou-se. Hoje, está plantado no interior do Parque Anauá. De uma hora para outra descubro, com surpresa, que os bambus também tomaram destino. Para onde, não se sabe. Em seu lugar, outras árvores frondosas. Menos mal.

Remanescentes do antigo horto insistem em permanecer no local. São alguns pés de ingá, cajueiros e outras árvores que nenhum fruto comestível dão. Tem também uns pés de dão (coisas de macuxi), conhecem? Sim, são comestíveis esses que também são chamados de maçãs de pobre.

Tudo muito bem. Mas, não me consolo. Sinto falta dos bambus da minha praça. Bambus de volta ou mudemo-la o nome! Ah, ia esquecendo: o Francisco também agradeceria a recuperação dos brinquedos.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A triste história de um homem sem Deus

Por Francisco Espiridião

Morreu nesta quarta-feira (5), aos 104 anos, o gênio da arquitetura contemporânea mundial, o brasileiro Oscar Niemeyer (foto). É válido todo o périplo de louvação que a imprensa global – jornais e TVs brasileiros,  europeus, americanos etc. – fez sobre sua genialidade.

Há, porém, um importante nicho na vida do arquiteto a rasgar sua hagiografia. Sobre esse fato, é interessante direcionar os holofotes: Niemeyer foi um comunista convicto. Não chegava a ser um militante da causa comunista mundo afora, mas era um dos apoiadores, inclusive, financeiramente.

Como tal, confessava-se ateu. Literalmente, um homem sem Deus. Como todo comunista, pouco se importava com os milhares de pessoas que foram trucidadas pelos regimes fortes que ele, em toda a sua genialidade, ajudou a soerguer.
Um desses países é a Argélia, onde, hoje, apenas 0,5 da população professa a religião cristã (evangélicos). Essa ínfima parcela da sociedade não tem direito de professar livremente o seu credo. Os cultos cristãos, em pleno século 21, ainda são realizados de forma secreta, a exemplo dos cristãos perseguidos na Roma antiga.

Niemeyer chegou a dizer que a morte de 40 milhões de pessoas na União Soviética e de 70 milhões na China era natural, por se tratar do "justo preço que se pagava por uma utopia".
Sem dúvida, o mundo perdeu nesta quarta-feira um gênio, dado o conjunto da obra arquitetônica que realizou. O brilhante arquiteto, sim, fará extremada falta à humanidade. 

Quanto ao homem Oscar Niemeyer, é uma pena que os seus 104 anos de existência não tenham sido tempo suficiente para fazê-lo abrir o coração para entender a singela mensagem do evangelho de Cristo.
Morreu sem conhecer a grandiosidade e misericórdia de um Deus que amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3.16).

sábado, 1 de dezembro de 2012

Lá na terra de onde eu venho uma amiga como Rose tem duas letras a mais

Por Augusto Nunes

Amante, segundo o Aurélio, é a palavra que se aplica a “pessoa que tem com outra relações extramatrimoniais”. O dicionário autoriza o uso dos sinônimos amásia, concubina e amiga. Assaltada por um surto de pudicícia, a imprensa escolheu a terceira opção para referir-se a Rosemary Noronha.

Depois da reportagem publicada pela Folha neste sábado, complementada brilhantemente por Reinaldo Azevedo, os jornalistas podem dispensar-se de cautelas farisaicas e contar o que muitos sabem desde o século passado: Rose é mais que amiga de Lula. É amante.

Lá na terra de onde eu venho ninguém confunde amizade com amigação.  Em Taquaritinga, todo lula-com-rose — seja ele o prefeito ou o mais humilde eleitor — não tem uma amiga: tem amigada. As duas letras a mais eliminam quaisquer dúvidas adubadas por ambiguidades.

Não, não estou invadindo a privacidade do ex-presidente. Só invocam esse argumento messalinas fantasiadas de vestais. O modo de agir dos integrantes da quadrilha desbaratada pela Operação Porto Seguro reafirma que foi o casal que removeu a fronteira entre o público e o privado. Ele por garantir a vida mansa de Rose com o dinheiro dos pagadores de impostos. Ela por transformar uma relação íntima em gazua a serviço de assaltantes de cofres públicos.

O noticiário sobre o escândalo da vez, que está apenas em seu começo, precisa substituir imediatamente esse “amiga” pela expressão correta. Amigada, admito, soa um tanto vulgar. “Amásia” lembra manchete de jornal de antigamente. “Concubina” é adereço de monarquias. Fiquemos com a velha e boa “amante”.

Como os seus sinônimos, “amante” tem numerosas contra-indicações e os efeitos colaterais podem ser devastadores. Mas é a palavra certa. E o primeiro mandamento do jornalismo ordena que se conte a verdade.

Transcrito do blog do autor

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Mulher da Vida, minha Irmã

Cora Coralina*

De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades e
carrega a carga pesada dos mais
torpes sinônimos,
apelidos e apodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à-toa.
Mulher da Vida, minha irmã.

Pisadas, espezinhadas, ameaçadas.
Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.
Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis.
Sobreviventes.
Possuídas e infamadas sempre por
aqueles que um dia as lançaram na vida.
Marcadas. Contaminadas,
Escorchadas. Discriminadas.
Nenhum direito lhes assiste.
Nenhum estatuto ou norma as protege.

Sobrevivem como erva cativa dos caminhos,
pisadas, maltratadas e renascidas.
Flor sombria, sementeira espinhal
gerada nos viveiros da miséria, da
pobreza e do abandono,
enraizada em todos os quadrantes da Terra.
Um dia, numa cidade longínqua, essa
mulher corria perseguida pelos homens que
a tinham maculado. Aflita, ouvindo o
tropel dos perseguidores e o sibilo das pedras,
ela encontrou-se com a Justiça.
A Justiça estendeu sua destra poderosa e
lançou o repto milenar:
“Aquele que estiver sem pecado
atire a primeira pedra”.
As pedras caíram
e os cobradores deram s costas.

O Justo falou então a palavra de eqüidade:
“Ninguém te condenou, mulher…
nem eu te condeno”.
A Justiça pesou a falta pelo peso
do sacrifício e este excedeu àquela.
Vilipendiada, esmagada.
Possuída e enxovalhada,
ela é a muralha que há milênios detém
as urgências brutais do homem para que
na sociedade possam coexistir a inocência,
a castidade e a virtude.

Na fragilidade de sua carne maculada
esbarra a exigência impiedosa do macho.
Sem cobertura de leis
e sem proteção legal,
ela atravessa a vida ultrajada
e imprescindível, pisoteada, explorada,
nem a sociedade a dispensa
nem lhe reconhece direitos
nem lhe dá proteção.

E quem já alcançou o ideal dessa mulher,
que um homem a tome pela mão,
a levante, e diga: minha companheira.
Mulher da Vida, minha irmã.
No fim dos tempos.
No dia da Grande Justiça
do Grande Juiz.
Serás remida e lavada
de toda condenação.

E o juiz da Grande Justiça
a vestirá de branco em
novo batismo de purificação.
Limpará as máculas de sua vida
humilhada e sacrificada
para que a Família Humana
possa subsistir sempre,
estrutura sólida e indestrurível
da sociedade,
de todos os povos,
de todos os tempos.
Mulher da Vida, minha irmã.

Declarou-lhe Jesus: “Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no Reino de Deus”.
Evangelho de São Mateus 21, ver.31.

*Poesia dedicada ao Ano Internacional da Mulher em 1975

(Transcrito do Blog do Zé Beto)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A QUEDA PARA CIMA

Por Isaltino Gomes Coelho Filho

Levei o livro de Diogo Mainardi, “A queda”, em uma viagem de dois dias pelo interior do Amapá. Pensei que ele me ocuparia nos momentos vagos. Mas li-o em duas horas, porque é atraente e fácil de ler. O tema é o nascimento de seu filho, Tito, que por um erro da dottoressa F, médica que estava com pressa de sair do seu trabalho, pois era sábado, nasceu com paralisia cerebral. O menino não fala, não tem gestos coordenados nem anda normalmente. Mainardi narra os 424 passos que ele conseguiu dar, uma vez, sem cair. O livro se estrutura ao redor desses 424 passos, cada um deles comentado com elementos da cultura de Veneza, onde Tito nasceu.

O livro comove, desconcerta, e é uma aula de cultura, um passeio da Veneza renascentista, via hospitais e médicos norteamericanos, até Ipanema, onde moraram alguns anos, antes do regresso a Veneza. Neste tour cultural passa-se por Ezra Pound, Auschwitz, Dante, Abott e Costello, U2, Proust, Freud, Humpty Dumpty, Rembrandt, Pietro Lombardo, Giacomo Leopardi, pintores, escultores, Shakespeare e muitos mais. E nos passos, um pouco mais de Tito. Comoveu-me uma frase de Mainardi. Ele andava com o filho por Veneza, e este pisava em falso, indo a cair. Diz ele: “Quando isso ocorria, eu era tomado por um sentimento de felicidade. Impedir uma queda de Tito em Veneza dava um sentido à minha vida” (p. 114). Ele passou a viver em função do filho deficiente e se sentia feliz em ser-lhe útil. Sua missão cósmica e existencial era cuidar do filho. Este era o sentido de sua vida!

Comparei-o ao programa de extermínio nazista dos doentes e inválidos que foi estimulado por Alfred Hoche, que calculou no livrete “O aniquilamento da vida inútil de ser vivida” o custo de um “idiota” para a Alemanha. Era o bastante para manter uma família de cinco pessoas. Os inúteis eram um estorvo ao III Reich. Até 1 de setembro de 1941 foram mortos 70.273 inválidos, na Alemanha, o que permitiu uma economia de quase 250.000 reichsmarks (moeda da época) diários. O relatório diz até quantos quilos de batatas e quantos ovos foram economizados com esses inúteis. Hitler aplicou a teoria de Hoche na eliminação de todos os não produtivos, parasitas da Alemanha. O alvo era uma nação eugênica. Como alguns pretendem hoje, com a ideia de eutanásia indiscriminada, que é mais econômica e emocionalmente menos desgastante que cuidar de deficientes, doentes e terminais.

Também pensei: “Como ele conseguiu escrever um livro assim?”. E por que só vim conhecer um livro desses agora? Se o tivesse lido há quarenta anos, aprenderia muito do seu estilo literário. Como ele estruturou a obra desta maneira? Além da aula de cultura, uma aula de estrutura literária. Como se aprende vendo quem sabe fazer!

Voltemos a Tito e à realização de seu pai em viver em função dele. O nascimento de um retardado (o termo é de Mainardi) nos choca e desgosta. O rabino Kushner teve um filho que nasceu com progéria, envelhecimento precoce. O menino morreu com 14 anos, aparentando ter 80. No livro em que tratou do assunto, mesclando-o com a vida de Jó (o título em português é “Por que coisas ruins acontecem com pessoas boas?”), Kushner comentou que as pessoas se indagam “Por que Deus permitiu isso?” ou “Como Deus deixa que isso aconteça?”. Diz ele que são perguntas incorretas. A certa é: “Que tipo de sociedade devemos ser para que pessoas assim se sintam bem, protegidas e cuidadas?”. Não é questionar o porquê do problema, mas criar condições para minimizá-lo. Não é transferir a culpa para Deus, mas assumir a responsabilidade do problema.

Queremos um mundo de felicidade, como se o universo existisse para nos tornar felizes, e Deus fosse nosso servo, a quem damos ordens e cuja função é nos alegrar e dar coisas boas. Agimos como crianças mimadas e mal educadas que não querem ser obstadas. Não sei se foi o título de um livro ou um comentário de capa que vi, nestes termos: O universo conspira para que você seja feliz. Como uma pessoa pode ser tão fútil? Como há gente que compra livros assim?

O mundo nos é hostil (Gn 3.17-19). O bom mundo de Deus (Gn 1.31) foi pervertido pelo pecado, pela nossa Queda. A criação está corrompida e geme debaixo do poder do mal (Rm 8.19-22). Mesmo sem usar a Bíblia, qualquer pessoa de bom senso sabe que o universo não liga a mínima para nós. É uma infantilidade a busca de felicidade, o desejo de que tudo colabore para nosso bem-estar, e que há milhares de anjos aguardando uma ordem nossa para nos servir. É preciso parar de ser criança em busca de prazer e pensar que Deus nos pôs neste mundo com uma missão muito mais ampla que a busca de gratificação e de lazer.

O verdadeiro sentido da vida não nos é externo ou alheio a nós. É dado por nós. O sentido de minha vida, como indivíduo, tem sido, há cinquenta anos, desde minha conversão na adolescência, servir a Jesus. Rejubilo-me em servi-Lo, e me assusto quando penso que um dia poderá vir a debilidade física e não poderei servir meu Senhor. Sou feliz por ser servo, por ser pastor, por trabalhar para Ele. Não troco isso por nada. Mesmo nas “rebordosas” da vida tem sido jubiloso servi-Lo.

Mainardi não me soa evangélico. Kushner é judeu. Mas eles entenderam o que muitos dos nossos não entenderam. Quando nossa vida encontra uma causa a qual servir, pessoas a quem amar e a se dedicar, ela é riquíssima. Lembremo-nos de Jesus: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou…” (Jo 4.34). E de Paulo: “Nem por um momento considero a minha vida como valioso tesouro para mim mesmo, contanto que possa completar a missão e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do Evangelho da graça de Deus” (At 20.24). A vida é se dar.

Um cristão de verdade não espera conspiração do universo para ser feliz. Nem presume ter milhares de anjos sob seu comando. Quer ser útil, quer ajudar, quer fazer alguma coisa. Enfada-me a futilidade espiritual de tantos hoje! Se guardassem sua futilidade consigo, eu as privaria de minha rabugice. Mas compõem “canções” (é assim que se chama agora), escrevem artigos e livros falando sobre como Deus prometeu nos fazer felizes neste mundo e como devemos exigir nosso direito à felicidade. Amor, dedicação, serviço, engajamento, uma causa que seja raison d’être, nada disso é falado.

O livro de Mainardi se chama “A queda”. Mas é uma queda para cima. Da dor de um filho que será deficiente até à morte, à descoberta de que esta é sua missão, cuidar dele. Como Kushner: a questão não é filosofar ou teologar, queixando-se, mas perguntar-se: “Onde eu me encaixo nesta história para melhorar a situação?”. Porque é assim que age um cristão: “Senhor, não tenho queixas nem quero choramingar. O que eu faço para ser útil?”.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012